Segundo o Banco de Portugal, as remessas dos emigrantes aumentaram 8,3%, para 3,3 mil milhões de euros, em 2015. Os portugueses a trabalhar no estrangeiro enviaram para Portugal 3.314 milhões de euros durante os 12 meses do ano passado.
De acordo com os dados divulgados pelo Banco de Portugal, no Boletim Estatístico, os portugueses a trabalhar no estrangeiro enviaram para Portugal 3.314 milhões de euros durante os 12 meses do ano passado, o que representa um aumento de 8,3% face aos 3.060 milhões que tinham enviado em 2014, ano em que as remessas ultrapassaram pela primeira vez os 3 mil milhões de euros.
Em sentido inverso, ou seja, quanto às verbas que os estrangeiros a trabalhar em Portugal enviaram para os seus países de origem, o Banco de Portugal revela que houve uma diminuição de 1,5%: em 2014, os imigrantes enviaram para os seus países de origem 534,81 milhões de euros, ao passo que no ano passado o valor diminui para 526,65 milhões.
A França, como tem sido habitual nos anos anteriores, lidera o ‘ranking’ dos países emissores de remessas para Portugal, tendo as verbas enviadas pelos emigrantes portugueses naquele país, ultrapassado pela primeira vez os mil milhões de euros: em 2014 este valor tinha-se ficado pelos 882,1 milhões de euros, ao passo que no ano passado subiu para 1033,1 milhões, o que representa um aumento de 17,11%.
A Suíça, também como tem sido norma, é o segundo maior emissor de remessas para Portugal, registando uma subida de 3,3%: as verbas enviadas pelos portugueses na Suíça passaram de 812,8 milhões, em 2014, para 842,3 milhões no ano passado.
Deputado PS culpa austeridade
Para Paulo Pisco, deputado do PS, o aumento das remessas dos emigrantes e a diminuição das dos imigrantes, em 2015 em Portugal, resultam dos anos de austeridade vividos no país. “Tanto num caso como noutro resulta dos anos de austeridade impostos no nosso país, que levaram a uma perda de atratividade da nossa economia”, afirmou Paulo Pisco, em declarações à Lusa.
O parlamentar sublinhou que “o facto de ter havido muita emigração nos últimos anos levou a que houvesse este aumento”. “As remessas tanto podem ser um pé-de-meia ou como um meio de manter os bens ou pagar as dívidas”, disse.
O deputado defendeu que os dados agora conhecidos “obrigam a que seja necessário da parte do governo olhar para a existência de fortes comunidades fora do país que necessitam de ser olhadas com políticas sólidas para responder às suas necessidades e às suas expectativas”.
A habitual liderança do ‘ranking’ pela França é para Paulo Pisco a confirmação daquele país como o principal destino de emigração na Europa, logo a seguir à Suíça. E, por isso, “é necessário que Portugal dê atenção às relações bilaterais com França e Suíça”, defendeu.
O deputado salientou ainda que “havendo uma redução das remessas dos imigrantes, houve também um aumento da atratividade por parte dos cidadãos de países de expressão portuguesa, que escolheram Portugal como o país para poderem trabalhar”. Para Paulo Pisco, este facto demonstra que “Portugal não deixa de ser, apesar das dificuldades, um porto de abrigo importante para esses cidadãos, e esses cidadãos devem ser olhados também como importantes para a nossa dinamização económica e até mesmo para a renovação demográfica”.
José Cesário fala em confiança em Portugal
Em sentido contrário à opinião de Paulo Pisco, o deputado do PSD, José Cesário, defendeu que o aumento das remessas dos emigrantes para Portugal, em 2015, revela que estes portugueses não baixam os braços e mantêm confiança na economia do seu país de origem.
“Esses dados revelam que os portugueses da diáspora, em 2015, mantiveram uma significativa confiança em Portugal e sobretudo na economia, uma grande confiança na Economia do país e nas perspetivas de crescimento”, afirmou José Cesário em declarações à agência Lusa.
O ex-secretário de estado das Comunidades Portuguesas acredita que “esses dados revelam exatamente que as pessoas mandam dinheiro se confiam, e confiaram, por isso é que enviaram dinheiro”, reiterou.
Já em relação à diminuição das remessas dos imigrantes, José Cesário considera que “tem que ver com fatores diversos, nomeadamente o facto de também muitos desses imigrantes serem provenientes de países em que há problemas económicos sérios e que têm alguma falta de confiança no seu respetivo futuro”.
“Isso terá desmotivado o envio de algumas remessas, são os casos do Brasil e de Angola, que serão os mais significativos”, disse.
Remessas dos PALOP caíram
Em contraponto à França e à Suíça, estão as remessas enviadas pelos portugueses a trabalhar nos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), que caíram 11% no ano passado, enquanto as destes africanos empregados em Portugal subiram 27,7%, mas são em muito menor valor. De acordo com o Banco de Portugal no Boletim Estatístico, os portugueses a trabalhador nos países africanos lusófonos enviaram no ano passado 229,1 milhões de euros, o que representa uma descida de 10,96% face aos 257,4 milhões que tinham enviado em 2014.
Em sentido inverso, ou seja, as verbas enviadas pelos africanos lusófonos empregados em Portugal, houve uma subida de 27,7%, resultado do aumento das verbas entre 2014 e 2015, de 39,9 para 51 milhões de euros.
Como é habitual, Angola representa a esmagadora maioria das verbas, seja de Portugal para África, seja do continente africano para Portugal. Assim, no ano passado, os portugueses em Angola enviaram 218,1 milhões de euros, o que representa uma descida de 12,02% face aos 247,9 milhões que tinham remetido no ano anterior.