A vida de Leonor Freitas confunde-se, desde a primeira hora, com a terra e as propriedades da família. No ano de 1952, em plena noite de natal, nascia Leonor em Fernando Pó, que mais tarde cresceria em Setúbal onde fez o secundário e completou os estudos superiores no Instituto Superior de Serviço Social. Apesar de uma carreira bem sucedida na saúde sempre acompanhou as atividades da terra desenvolvidas pela família. No final da década de 90, impunha-se uma modificação estratégica na empresa e por isso Leonor Freitas lança-se no engarrafamento com marca própria e decide abraçar totalmente esta atividade em 2004 quando sai em definitivo do Ministério da Saúde. O objetivo era colocar no mercado excelentes vinhos com a melhor relação Qualidade-Preço. O trabalho dos últimos anos na criação do “mito Casa Ermelinda” tem sido a prova da excelência do trabalho desenvolvido.
Leonor Freitas representa a quarta geração de mulheres à frente da empresa. Pode dizer-se que há verdadeiramente uma tradição feminina na Casa Ermelinda Freitas?
A tradição existe, mas foi de uma forma natural devido à fatalidade de os homens da família terem morrido todos muito novos e as suas mulheres conseguiram ter a capacidade de dar continuidade a uma casa agrícola que hoje na quarta geração se transformou numa prestigiada casa vinícola.
Há quantos hectares de vinha plantada e com quantas castas trabalham?
Quando assumi a gestão da empresa, Leonor de Freitas tinha herdado 60 ha de vinhas de apenas duas castas, Castelão e Fernão Pires, situadas em Fernando Pó, zona privilegiada da região de Palmela. Com o seu espírito empreendedor e inovador, a atual proprietária introduziu uma diversidade de castas como a Trincadeira, Touriga Nacional, Aragonês, Syrah e Alicante Bouschet, entre outras.
Passados 16 anos, a Casa Ermelinda Freitas detém já 440 ha de vinha, das quais 180 ha são de Castelão, e o restante de outras castas como Touriga Nacional, Trincadeira, Syrah, Aragonês, Alicante Bouschet, Touriga Franca, Merlot e Petit Verdot, Fernão Pires, Chardonnay, Arinto, Verdelho, Sauvignon Blanc e Moscatel de Setúbal, etc…. Contabilizando um total de 29 castas.
Qual é o segredo para os inúmeros prémios já recebidos pelos vinhos da Casa Ermelinda Freitas?
As três gerações que trabalharam a terra antes de mim, o apoio da minha atual família, a equipa que comigo trabalha, a região, pois estamos numa região de grande qualidade e o mais importante os consumidores que têm preferido os vinhos da Casa Ermelinda Freitas. Eu resumo que aquilo que se faz é com amor a pensar na qualidade e na melhor relação qualidade preço.
Em Portugal há a tendência de associar os vinhos de ‘qualidade’ às regiões do Douro e de Alentejo, mas a Casa Ermelinda Freitas catapultou Palmela para esse ‘ranking’, digamos assim, de qualidade. Essa é uma região que poderá ainda surpreender mais?
Sem dúvida que poderá surpreender muito mais. É uma região com um microclima, pois estamos perto do mar beneficiamos das brisas marítimas o que torna um clima mais ameno assim como beneficiamos de um lençol freático elevado que proporciona grande riqueza de água, originando vinhos muito equilibrados. Também somos uma região de planície que proporciona um trabalho fácil podendo assim fazermos vinhos competitivos. É uma região que neste momento está a afirmar-se e não tenho dúvidas que muito nos vai surpreender pela positiva.
A inovação é uma das ‘palavras-chave’ da empresa – de que é exemplo o facto de terem lançado o primeiro champanhe ‘doc’ e ‘doc reserva’ da Península de Setúbal. O ‘segredo’ do negócio está também em não haver ‘medo’ de arriscar?
O negócio é por ele próprio um risco, mas é na luta deste risco que se constrói, se inova e que se faz de cada dia uma luta diferente para termos resultados diferentes, mas positivos. Quem não inovar fica na estagnação, será esquecido e isso é o que não queremos para a Casa Ermelinda Freitas. Queremo-la sim, moderna respeitando a sua tradição.
Por falar em inovação, há algum novo produto a lançar proximamente?
Iremos ter produtos novos, mas para muito breve posso realçar o lançamento do Moscatel Roxo da Casa Ermelinda Freitas, que será mais um ícone da região, e mais um contributo para afirmar um produto único da região que é o Moscatel.
A adega Leonor Freitas, inaugurada em dezembro último pelo presidente da República, é uma aposta a pensar na crescente internacionalização?
É sobretudo uma Adega a pensar na modernização e competitividade de modo a podermos oferecer bons produtos em Portugal, e proporcionar um crescimento na internacionalização da Casa Ermelinda Freitas.
A nova adega vem reforçar a capacidade de produção? Que aspectos a diferenciam da adega tradicional existente?
Ela respeita os princípios da Adega Tradicional, mas com uma grande aposta na tecnologia moderna, de modo a estar ao nível do que existe de mais atual a nível internacional. A nossa aposta em todo o investimento é sempre a pensar na qualidade. Este espaço vem proporcionar quantidade, qualidade, espaço para poder receber melhor e mostrar o que se faz de melhor em Portugal e na Casa Ermelinda Freitas de uma forma de aproximação ao consumidor.
Com a presença do Chefe de Estado foi ainda aberto um museu. Como surgiu esse projeto e o que pretende?
Este projeto surgiu do aproveitamento da primeira Adega da família, e pretendemos que seja um espaço dinâmico onde quem nos visita poderá constatar a evolução das várias gerações, e partilhar dos afetos da família.
Assim será um espaço que vem complementar o atual, e estará aberto para poder ser visitado em conjunto ou separado com a nova Adega.
Que projectos tem ainda por concretizar e que gostaria de ver realizados?
Os projetos por concretizar são muitos não os irei especificar, eles iram aparecendo à medida que o tempo decorra e que sejamos capazes de os dinamizar e dar vida. Estamos satisfeitos com o que tem acontecido, mas não conformados, e nesta perspetiva queremos que a Casa Ermelinda Freitas seja uma referencia na região, e em Portugal ajudando a que o mundo rural seja cada vez mais participativo e reconhecido como um parceiro ativo dos outros setores da sociedade. Prometemos aos nossos consumidores pressentia-los com novos produtos sempre com a melhore relação qualidade preço e ir ao encontro do seu gosto.
Quatro gerações a produzir vinhos de qualidade
Situada em Fernando Pó, concelho de Palmela, a Casa Ermelinda Freitas foi fundada em 1920 por Leonilde da Assunção, sendo hoje uma das mais prestigiadas empresas vitivinícolas portuguesas.
Com um forte cunho familiar, a empresa vive, atualmente, um dos seus períodos de maior expansão bem evidenciado nos vários investimentos realizados nas vinhas, na adega e na equipa técnica, sempre com o grande objetivo de atingir o máximo de qualidade. Fruto de toda esta dinâmica, a Casa Ermelinda Freitas tem alcançado uma elevada notoriedade, nomeadamente através da conquista de numerosos prémios. 218 de Ouro, 273 de Prata e 161 de Bronze a nível nacional e internacional com as suas marcas mais relevantes: Terras do Pó, Dona Ermelinda e Quinta da Mimosa.
2008 ano do melhor vinho tinto do mundo
Em 2008, deu-se um dos pontos altos da vida da empresa: o vinho Casa Ermelinda Freitas Syrah 2005 foi distinguido com o troféu de melhor vinho tinto do Mundo, no prestigiado concurso “Vinalies Internationales” em Paris, França. Este prémio foi ganho em prova cega entre mais de três mil vinhos provenientes de 36 países de todo o mundo.
Consolidar a reputação alcançada e aumentar a produção de vinhos de qualidade são os objetivos imediatos a concretizar através da aposta nas castas portuguesas mais diferenciadoras. Uma aposta que permita o crescimento das quotas de mercado a nível nacional e, principalmente, a nível internacional, com especial incidência em grandes mercados como os Estados Unidos da América e Inglaterra. Além disso, a Casa Ermelinda Freitas pretende continuar a ser uma referência da região de Palmela pela qualidade dos seus vinhos e pela valorização de toda a cultura da vinha e do vinho.
A história da família empresa Casa Ermelinda Freitas
A Casa Ermelinda Freitas é uma empresa familiar que se dedica à produção de vinho há quatro gerações, tendo sempre apostado na qualidade das vinhas e dos vinhos, mesmo quando estes, nos primeiros tempos, eram produzidos e vendidos a granel, sem marca própria.
Iniciada por Leonilde da Assunção no início dos anos 20 do século passado, a atividade foi continuada por Germana de Freitas e, mais tarde, por Ermelinda de Freitas, com a colaboração da sua filha única, Leonor, que, embora com formação fora da área vitivinícola, assumiu a liderança da empresa, continuando assim a presença feminina nos negócios da família.
Seria já com a atual gestão que se daria a decisiva mudança no negócio com a criação de marcas próprias. Assim, em 1997, iniciou-se um novo ciclo da vida da empresa com o lançamento do “Terras do Pó” tinto, primeiro vinho produzido e engarrafado da Casa Ermelinda Freitas.
Aposta no enoturismo
A empresa aposta também no desenvolvimento do enoturismo, transmitindo a quem visita a Casa Ermelinda Freitas, ensinamentos sobre o fantástico mundo dos vinhos que promovem o culto da vinha e do vinho, nomeadamente através de uma vinha pedagógica, onde as crianças, jovens e adultos podem observar e aprender sobre as diferentes castas cultivadas.
Esta vertente do enoturismo é particularmente incentivada por Leonor Freitas que pretende fazer da Casa Ermelinda Freitas “um símbolo pedagógico da região, levando às escolas a cultura e a história da vinha e do vinho, que é uma arte secular”, e contribuindo assim para a promoção do turismo e economia do concelho de Palmela. Aqui fica pois o desafio para uma visita a um local fantástico onde muito se aprende sobre o vinho.
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