Fundada em 1989, em plena cidade de Aveiro, dedicou-se aos doces tradicionais da região, sendo os Ovos Moles a imagem de marca. Pelo meio o arrojo e dinamismo de Rui Almeida levou a empresa por novos caminhos, criando nomeadamente os gelados “gourmet” Sabores de Portugal. Agora com a congelação para os ovos moles finalmente aprovada, abrem-se novas perspetivas para a empresa e para a distribuição do produto no mundo inteiro. A Fabridoce rege-se pelo lema “Inovar mantendo a Tradição”. Estas simples palavras identificam o desenvolvimento do saber fazer tradicional ao longo destes anos.
A FABRIDOCE já tem um grande historial de presenças no SISAB PORTUAL. Qual é o balanço que faz destes anos todos?
Neste momento, funciona como um local de reencontro com os clientes. É uma forma de nós estarmos com aqueles que já temos, voltando a estar com eles uma vez por ano.
Finalmente os ovos moles já podem ser vendidos no mundo inteiro, está resolvido o problema?
Na prática só mesmo agora é que vai arrancar. Houve um atraso enorme na publicação das regras e, foi graças à intervenção, do Dr. Paulo Portas, que isto avançou. O processo estava lá e, eventualmente, acabaria por ser aprovado, mas demoraria se calhar mais um ano e a intervenção dele foi importante, porque acelerou tudo finalmente.
Como é que falaram com ele?
A RTP veio cá falar comigo sobre a impossibilidade de se exportarem ovos moles e eu disse “olhe podia ser melhor do que é se não tivéssemos alguns entraves, como os ovos-moles não poderem ser ultra congelados”. Ele viu a reportagem ou alguém por ele. Foi interessante porque, passado pouco tempo no SISAB PORTUGAL, o Dr. Pires de Lima (Ministro da Economia à época) passou no nosso stand e disse-me que esse assunto estava com o Dr. Paulo Portas. Mais acima não podia estar e, portanto, iria ser resolvido. Depois em maio até foi ele que fez questão de me ligar pessoalmente a dizer que o processo tinha sido finalmente aprovado.
Quando é que a ‘Fabridoce’ vai começar a congelar?
Eu penso que ainda este ano. A aprovação final ocorreu no dia 1 de outubro. Isto depois tem que ser aprovado na associação. Já foi aprovado na assembleia-geral e agora têm que passar mais 15 dias, porque as embalagens têm que ser aprovadas. Vão ser embalagens específicas para a congelação.
Por exemplo, uma caixa de doces daqui para o Brasil quanto tempo é que demora a chegar?
Penso que é um mês, e o prazo de validade do produto passa para seis meses
Quer dizer que o revendedor ainda fica com cinco meses para colocar o produto no cliente.
É de facto o mercado que eu acho que tem mais interesse nisto, além do mercado dito da saudade, eu diria que numa fase inicial aquele mercado no qual nós temos mais potencial para vender o produto é o Brasil. A experiência que eu vou tendo com franceses, ingleses, alemães, é que eles não conhecem o produto e não têm cultura de sobremesa como nós temos. A nossa cultura de sobremesa é uma cultura diferente do estrangeiro. Nós temos uma sobremesa muito mais doce e com ovos. Um espanhol, um francês, um alemão, um sueco é muito mais à base de nata e fruta, menos doce. Não é que eles não venham cá e não comam, mas depois lá acabam por não consumir.
E o mercado já reagiu a esta novidade da congelação?
Até agora não tínhamos ferramentas para abordar certos mercados. Agora já nos deram a chave de fendas. Vamos agora ver onde é que encaixa. Eu já tenho algumas ideias. Fiz muitas abordagens. No SISAB PORTUGAL, já fizemos algumas abordagens e aquilo que verificámos na prática é que as pessoas até gostam, acham interessante. Exatamente aquilo que disse. “Olha que giro. Há muitos motivos, um deles é cultural, que é aquilo que falava. Mas também a questão “quem é que poderia ser o nosso cliente?”. Eu considero uma verdadeira exportação quando eu consigo vender um produto meu a naturais do país. Isso é que é o grande desafio. Foi, por exemplo, o pastel de nata conseguiu. Isso é que é interessante. o pastel de nata gera mais riqueza ao país, até gera, mas você não consegue garantir que abre um cliente na China ou no Dubai ou na Polónia e que o mantém. Enquanto que com os ovos-moles de Aveiro não há volta a dar. Tem que ser feito em Aveiro. É como o vinho do Porto. Os pastéis de nata não têm essa proteção jurídica. Você até pode ter um cliente, ter uma excelente relação e até do ponto de vista contratual se calhar consegue agilizar a questão.
Com os ovos-moles não é assim porquê?
Porque o produto está protegido. O produto só pode ser feito na região de Aveiro.
Então e se, por exemplo, agora houver um chinês que começa a fazer um creme de ovo?
Isso pode fazer. O creme em si não é protegido. O que é protegido é a forma de apresentação, ou seja, o que confere distinção aos ovos-moles de Aveiro são as hóstias que são certificadas, a barrica de madeira e a barrica de porcelana. As barricas estão confinadas claramente ao turista. Os ovos-moles de Aveiro em hóstia, sim, têm mais potencial de exportação e esse produto é o que confere distinção, portanto, o creme de ovos-moles pode ser feito em qualquer lado. Não é isso que é certificado.
Quem é que faz a hóstia aqui?
São dois produtores. Fazem a hóstia que toda a gente compra.
Mas depois ela é moldada, não é? Tenho ideia que é uma coisa direita, que se parte.
A hóstia é quase do tamanho de uma folha A4, onde já vêm os buraquinhos. O líquido é colocado, e quando sai, é já uma placa já com os formatos feitos e é só cortar. Depois, enche de um lado, enche do outro e fecha. São duas placas com os motivos. Nós usamos cinco motivos.
Então quer dizer que os moldes não são vossos. São moldes já pré-concebidos?
Existem 22 formatos que estão pré-definidos e não podemos inventar. São aqueles motivos que existiam já há mais de cem anos. Em hóstia acho que começou a aparecer penso que há volta de 200 anos atrás. São os motivos que existiam, motivos ligados ao mar e ligados à ria.
A contrafacção é perigosa pela vulgarização do produto?
Essa é que é a grande questão. O que a certificação pretende é perpetuar o produto e garantir que a qualidade do produto se mantém. E esta questão da congelação foi muito bem estudada, muito bem pensada e é um passo que estamos a dar com muita cautela, para garantir que o produto continua a ter qualidade, mesmo depois de descongelado. É um processo que estamos a fazer com muita cautela, porque é um produto que as pessoas têm e avaliam como um produto de primeira qualidade e é isso que se pretende. Dentro da doçaria, queremos ser dos melhores. Não temos a veleidade de sermos os melhores do mundo, mas queremos ser um bom produto, um produto de excelência. A pessoa come um produto nosso e eu não fico satisfeito quando dizem “é bom”. Eu fico satisfeito quando a pessoa come aquilo e fecha os olhos. É isso que nós pretendemos sempre com os nossos produtos.
E como tem corrido a experiência dos gelados?
O mercado da saudade para mim foi uma decepção. É verdade. Infelizmente, talvez por nossa incompetência. Se calhar ainda não chegámos onde devíamos ter chegado. Quando pensei neste produto, pensei muito muito no mercado da saudade. Pensei que poderia ser o gelado do emigrado quase, porque está lá fora e seria uma forma mais fácil, porque é gelado, tem uma validade mais interessante. Um português que esteja num sítio qualquer, tinha saudades de um sabor, podia não ter o requeijão nem o doce de abóbora, mas ia consumi-lo em gelado. Podia não ter os ovos-moles de Aveiro, mas ia consumi-los em gelado. Podia não ter o leite-creme, mas ia consumi-lo em gelado. Teoricamente, isto tinha tudo para dar certo. Na prática, temos conseguido, mas no canal tradicional, você conhece-o bem, os gelados que eles compram são os habituais. Conseguimos meter em alguns clientes, em algumas cadeias. Em Portugal é exatamente o oposto. tem sido uma loucura. Tem sido um sucesso. Fomos ocupar um nicho de mercado que estava por explorar de produtos, gelados com sabores tipicamente portugueses. Não existia e estamos praticamente nas cadeias todas. Só não estamos no Pingo Doce. Vamos, eventualmente, encetar negociações. Também por falta de capacidade de produção. Há aqui também alguma cautela. Nós próprios também não fizemos uma grande abordagem. Como é uma grande cadeia, temos que ir aos poucos.
Neste momento é difícil encontrar?
Não, está no Continente, no El Corte Inglês, está no Jumbo, Intermarché. Portanto, temos alguns pontos de venda, lojinhas que já nos compram. Compram a arca. Temos a solução do copo, de 150ml para consumo individual. Temos, depois, uma couvette familiar também para esses pontos que a pessoa quer levar ou o produto take away. Temos clientes muito interessantes. Restaurantes que nos compram para servir à bola e incluem na carta. Quem vai lá comprar comida para levar para casa, tem o produto também com a nossa embalagem de esferovite. Dura três horas fora do frio e leva um gelado para casa. Ou aqueles restaurantes até que entregam em casa. Esse mercado tem sido interessante. Depois temos em cuba, como referia, e estão associados a arcas. Nós também vendemos a arca. Uma solução que pode custar de 300 euros até 1500. Pode ter até uma bicicleta. Nós, eventualmente, para o SISAB PORTUGAL vamos levar a bicicleta.
A faturação da ‘Fabridoce’ está a crescer?
Sim, nós crescemos. 2014 foi muito bom. Este ano, perdemos um cliente importante, em Espanha, que nos gastava fios de ovos. Eventualmente, vamos decrescer um bocadinho.
Qual foi o valor atingido em 2014?
Perto dos 4 milhões. A rentabilidade também cresceu. Este ano, perdemos um cliente muito importante, a ‘Mercadona’, que nos comprava os fios de ovos. Era um cliente que representava ainda bastante dinheiro, mas que nos obrigava a uma logística… obrigava-nos a criar um segundo turno, especificamente para esse cliente. Era bom por um lado, mas por outro era mau. Tínhamos que recrutar 20 pessoas, para depois mandá-las embora. Estavam cá três meses e depois iam todas embora. Era um desperdício de recursos.
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