Rui Batel, administrador da CARB (Casa Agrícola Rui Batel), resolveu dar asas ao seu sonho e iniciar um projeto novo no Douro Superior que envolve vinha e olival. O objetivo não é fazer mais do mesmo. mas criar uma linha de produtos gourmet que sejam reconhecidos pelo mercado. Tudo está ainda a começar mas os primeiros resultados são animadores.
Dê-me uma ideia dos produtos que a CARB já tem no mercado.
Nós fazemos aqueles produtos de primeira transformação, o vinho e o azeite. Este ano, plantámos mais 10 hectares de vinho. O Douro Superior tem um potencial enorme. Não é por acaso que, neste momento, há vários investimentos estrangeiros naquela zona, desde espanhóis, brasileiros, chineses e angolanos. Aquela região tem um potencial enorme para o vinho e para o azeite. Nós temos quase 100 hectares de olival e, portanto, temos uma presença muito forte nesta área. Temos igualmente uma variedade enorme de azeitonas, frutos secos, nomeadamente a amêndoa que é um produto muito nobre e muito típico daquela zona. Também fazemos a amêndoa de várias maneiras e estamos a falar não só do produto vendido e depois comercializado de forma natural. Além disso, temos outros subprodutos como pastas de azeitona e vinagre. Basicamente, o projeto passa por aí. Esta é uma primeira fase. Para já e como não temos as instalações novas concluídas não podemos avançar muito mais do que isto. Gostaria de salientar que não temos interesse de vender vinho ou azeite por vender. Interessa-nos diferenciar o produto e criar mais valor, trabalhando a gama do gourmet. Não tem de ser forçosamente uma gama de luxo, mas uma gama que as pessoas valorizem.
E quem é o público-alvo que vai consumir estes produtos?
Em Portugal ainda não temos presença muito significativa, o nosso objetivo e o nosso foco é a exportação. Temos feito várias feiras e muitos contatos. No entanto os nosos produtos são dirigidos ao cliente final que valoriza a qualidade e que valoriza o local onde os produtos são elaborados. Não é um produto de fast food ou, de grande consumo de hipermercado. É um produto mais elaborado e nós temos diversos canais. Temos à venda dois azeites e dois tipos de azeitonas, mas é um caso muito específico, porque não vendemos na prateleira normal, vendemos naquela área mais específica, de produto mais elaborado, um produto com um bocadinho de mais qualidade e com outro tipo de apresentação e, portanto, é este o setor que queremos alcançar. Embora o projeto esteja num primeiro estágio, já temos conseguido alcançar alguns players, alguns distribuidores, alguns sítios com bastante significado e precisamente nesta gama de produto. O cliente que não valoriza, excessivamente o preço, mas que valoriza a apresentação, a qualidade e até o próprio acompanhamento. A própria parceria que nós estabelecemos com o cliente é um aspeto, muitas vezes, reconhecido e que nos dias de hoje é bastante importante.
Já esteve presente no SISAB PORTUGAL? Qual foi a experiência que teve?
Já estivémos no SISAB PORTUGAL e iremos estar de novo na próxima edição, e até já temos a inscrição feita. Isto é um projeto novo. Este é um projeto novo a começar agora e por isso a primeira vez que fomos foi em 2014 e tivemos resultados medianos. Ninguém nos conhecia. Eu diria que foi a primeira feira que fizemos. Foi precisamente no SISAB PORTUGAL em 2014. No entanto a partir desta presença conseguimos alguns contatos importantes, fizemos as primeiras apresentações, que por acaso até deram algumas encomendas. Entretanto estivémos também na última edição onde já tivemos outro tipo de presença, com um stand mais personalizado, o que dá sempre um impacto maior. Conseguimos desenvolver um conjunto de contatos e de ações muito interessantes e conseguimos angariar uma série de clientes, conseguindo transformar esses contatos em encomendas. O próximo ano vai ser um ano forte. É um ano em que nós queremos apostar muito em termos de inovação. Estamos numa fase em que é preciso dar tempo ao tempo, mas já começamos a ter presença em mercados muito importantes. Neste momento já vendemos numa dezena de mercados diferentes.
Em que mercados já estão presentes?
Temos presença nos Estados Unidos, Canadá. Alguns já com segundas e terceiras encomendas. Temos também presença nos países da Europa mais próximos. Temos uma encomenda que vai sair para a semana para a Noruega, por exemplo, que já é um país um bocadinho distante. Esta semana, na segunda-feira, recebemos aqui a visita de um importador inglês, que veio a Portugal e esteve connosco e, em princípio, vamos começar a trabalhar. Temos um pequeno distribuidor na Alemanha. Estamos a começar. Agora estamos na fase a seguir em que continua a haver muito trabalho e muito esforço mas em que já há bom retorno e depois haverá outras fases.
Fale-me dos seus vinhos. O que é que tem para oferecer às pessoas?
Os nossos vinhos começam logo por ter esta característica fumdamental de serem do Douro. Plantámos este ano 10 hectares de vinha. Para o ano vamos plantar mais uns 3/4 hectares. Já temos cerca de 25 hectares. Já temos uma área considerável de vinha, mas estamos a evoluir, são vinhas jovens ainda. O clima reflete-se no aroma que é muito característico, principalmente nos brancos, nos vinhos aromáticos e no aroma de algumas castas. Nós só trabalhamos com castas e com variedades típicas portuguesas e, ao mesmo tempo, locais. Temos tido um sucesso enorme com um dos vinhos que temos, que é um branco que tem um bocadinho de moscatel e que as pessoas adoram. A nós não nos interessa fazer mais do mesmo. Nós vamos tentar, com as novas instalações que estamos a concluir diferenciar um bocadinho o produto e, portanto, lançar coisas que não existem no mercado ou que estão muito pouco divulgadas, aproveitando a excelente qualidade da matéria-prima que temos. Queremos apresentar os nossos produtos de uma maneira diferente, através da combinação de características únicas ou através de alguma inovação. A CARB tem um projeto para fazer alguns produtos que neste momento nem sequer existem no mercado, mas por enquanto está ainda no “segredo dos deuses”.
Quando fazemos um produto banal, temos logo a concorrência do preço e, portanto, esse não é o nosso objetivo principal. O nosso objetivo é acreditar nas boas qualidades dos produtos que temos. Nós temos levado muito o nosso nome: Douro Superior. Há sempre duas ou três mensagens que queremos transmitir que, uma delas é que somos produtores. Nós vincamos sempre muito essa mensagem aos nossos clientes e nos meios de divulgação que somos produtores do Douro Superior. Vincamos muito a região e, depois, também o país, e isso tem-nos permitido experiências muito engraçadas.
Falando de tradição e voltando um bocadinho atrás, como é que aconteceu esse lagar lá em cima no Douro Superior? Já existia na família? Foi comprado?
Isso é uma pergunta que me fazem muitas vezes. Fui lá parar porque tinha de ser ali. Podia ser dez quilómetros mais ao lado ou um bocadinho mais à esquerda, mas tinha de ser ali, porque eu sou um apaixonado por aquela região. É uma região lindíssima. Aquela combinação de rio, vales, montanhas e encostas com inclinações incríveis é uma coisa que a mim me apaixona. Aquilo é quase como ir parar ao paraíso. A energia que aquela paisagem transmite é incrível. Os milhares de azeites e vinhos que fui provando ao longo destes anos todos, antes de iniciar o projeto, levaram-me a dizer que tinha de ser ali. O Alentejo e a Bairrada são regiões que têm as suas características próprias e com produtores muito sérios e a fazer coisas muito engraçadas, mas naquela altura não surgiu outra ideia que não fosse aquela. Para fazer alguma coisa, tem de ser no Douro. Não tinha nem tenho família na região, não tinha tradição local, não tinha ligação ao Douro. Também por aí foi começar tudo do zero. Houve uma altura em que fui à procura de uma quinta e comprei-a. Passado meio ano, comprei outra. E depois foi sempre a andar. Neste momento, tenho, no total, à volta de 150 hectares próprios. São três quintas basicamente. Depois, além disso, temos, em regime de aluguer, mais cerca de 30/40 hectares, portanto, temos praticamente, neste momento, uma área de exploração de cerca de 200 hectares com apenas três culturas. Neste momento há um estudo a ser desenvolvido também para outro tipo de produto que nós estamos a equacionar, que é o “pistache”, que não existe em Portugal ou que existe pouco.
É portanto um projeto 100% nacional, em produto e tradição?
Está fora de questão fazer outra coisa que não seja de identidade nacional e, principalmente, do Douro Superior. Termos estes dois pólos dificulta um bocadinho, em questões de logística e não tem sido fácil, mas é evidente que com esta nova instalação vamos melhorar em alguns aspetos. Estamos a criar melhores condições e andamos lá com obras. Temos também um projeto turístico a desenvolver, aliado a esta vertente.
Tem sido fácil o desenvolvimento deste projeto?
Os processos ligados à agricultura não são fáceis. São duros fisicamente. São processos muito dependentes de intempéries e do tempo, mas a gente quando tem paixão e gosta das coisas vai conseguindo sempre. É como as colheitas. Quando se inicia o projeto a gente nunca sabe o que é que vai ter no fim. Estamos sempre dependentes. Nos últimos anos, a nível mundial, têm acontecido coisas muito complicadas no setor da agricultura e nós nunca sabemos muito bem o que vamos obter, a qualidade da azeitona que vamos obter, a qualidade das uvas que vamos ter. Basta vir umas chuvadas a determinada altura ou um granizo e, por vezes, deita tudo a perder.
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