«Ferry Street-Rua da Palavra» faz parte de um projeto que incluirá ainda um álbum.
A ‘Ferry Street’, em Newark, que desde o início do século passado é o centro da vida luso-americana, com dezenas de restaurantes, padarias, cafés e bancos portugueses, foi a fonte de inspiração de um livro lançado na passada semana.
Com poemas e texto de João S. Martins e ilustração e pinturas de Fernando Silva, o livro «Ferry Street-Rua da Palavra» faz parte de um projeto que terá ainda um álbum, com música de José Luis Iglésias, que deverá ser lançado no próximo ano. “A Ferry Street não para. Ao longo dos anos tem mudado e renascido em cada geração. Este projeto pretende mostrar um desses passos. Pretendemos trazer um olhar novo, o nosso, sem que ela deixe de ser a mesma rua de que todos gostamos”, explicou à Lusa João S. Martins.
O escritor, natural de Manteigas, na Serra da Estrela, imigrou para os Estados Unidos há 28 anos. Conheceu os outros dois autores do projeto, originários do distrito de Aveiro, em Newark, no estado de Nova Jérsia, onde vivem. “Há três anos que trabalhamos neste projeto, que partiu desta experiência em comum que temos. Encontramo-nos regularmente, discutimos. Muitas vezes eu trazia os textos, que motivavam as pinturas. Outras vezes sugeriam-me ideias para poemas”, explica Martins.
Os portugueses começaram a instalar-se nesta zona no início do século passado e, em 1921, seis homens formaram a primeira associação portuguesa, o Sport Clube Português, que ainda hoje existe. Ao contrário das décadas de 80 e 90, em que era quase exclusivamente portuguesa, a Ferry Street acolhe hoje muito comércio de brasileiros, equatorianos, mexicanos e de outros países da América Latina e Central. Continua, no entanto, a exibir uma placa que diz ‘Avenida Portugal’, onde se concentram grandes negócios portugueses e onde todos os anos se realiza a celebração do Dia de Portugal, com uma parada que reúne milhares de pessoas.
A rua começa junto à Penn Station, de onde parte o comboio que chega a Manhattan em 22 minutos, e tem um ponto central nas cinco esquinas, um cruzamento onde existe uma igreja e um relógio.
João Martins diz que, no livro, quis mostrar “este percurso que, de alguma forma, resume o caminho da imigração”. “Tem chegada do comboio, com o ponto de referência da estação, e depois o relógio, para lá do qual está a cidade, Nova Iorque, o desconhecido, o futuro e uma porta aberta para, eventualmente, um regresso”, explica.
O projeto musical deverá ser lançado no próximo ano e será tornado possível com as receitas das vendas do livro. O álbum vai musicar alguns dos poemas do livro e vai misturar as composições de José Luis Iglésias com sons da Ferry Street e vozes de intérpretes da comunidade.