Um exemplo de portugalidade e cultura patente numa organização da Laços e ACEP

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Genebra é uma cidade particular, onde nas ruas se ouve falar português, onde em cada recanto, em cada restaurante, em cada atendimento de serviços há um português. É uma cidade que acolhe todos os anos 20 mil novos residentes e em que 48% da sua população é estrangeira e nessa percentagem a maioria é portuguesa. É uma das cidades mais cosmopolitas de uma grande abertura e rica de multiculturalidade. O Mundo Português esteve presente na Festa da Cidadania – Olimpíadas da Língua portuguesa, que nesta edição e na Sala “Communale de Plainpalais” em Genebra, reuniu, durante três dias num programa cultural muito vasto, alunos e jovens luso descendentes em prol da língua portuguesa.

Quando se reúnem professores, pais e alunos, duas associações, e grupos associativos de outros países como Albânia, Brasil, Uruguai e mais de uma dezena de grupos musicais e de dança, representativos de várias culturas e se desfila, pelas ruas de Genebra, desde o Parc des Bastions até à sala do Palinpalais – sala por onde passaram escritores portugueses, mesas redondas e debates com deputados e políticos (de várias forças politicas) e em que se discutiu “Portugal e as politicas de emigração” sempre com sala cheia, é de louvar e enaltecer, quem se preocupou em dar este sinal positivo da afirmação da portugalidade e cultura portuguesa em Genebra!
Miguel Calheiros Velozo – cônsul-geral de Portugal em Genebra, presente na iniciativa e onde o consulado geral de Portugal em Genebra “montou” um posto de inscrição no recenseamento eleitoral, refere na revista editada para a festa da cidadania:
“A iniciativa Olimpíadas da Língua Portuguesa, organizada por duas associações, a Associação Cultural de Expressão Portuguesa em Genebra e a Associação Cultural Luso-Suíça Laços, é um momento de celebração, encontro e partilha da Comunidade Portuguesa e Lusófona. A sua designação de Festa da Cidadania, merece da minha parte, as mais vivas palavras de encorajamento” e adiante “esta consolidada e tradicional manifestação linguística, cultural, desportiva e lúdica que se tem vindo a realizar, sem falhas, nos últimos anos em Genebra, colocando em saudável competição jovens no domínio da língua portuguesa e em atividades desportivas, alarga cada vez mais o seu escopo, enriquecida que está a programação do evento com incursão na área da sociologia, literatura, divulgação do cancioneiro nacional, tudo sob os significados e universais auspícios da Cidadania”.
Surpreendeu-nos esta organização. Quando se junta o ensino, e dedicados professores, os alunos e pais e dirigentes associativos que sabem que este é o caminho e que dá um “abanão” na imagem por vezes, que se passa dos meios associativos nas comunidades, de diversos países, estas, e tantas outras que trilharam o caminho pela a cultura e o ensino e, hoje agregam no seu seio, portugueses de diferentes regiões, extratos sociais, profissões e níveis etários, é um sinal muito positivo.
Nas mesas redondas organizadas o principal problema, apontado à comunidade portuguesa é a fraca ou residual participação cívica! O não estar inscrito nos cadernos eleitorais, no recenseamento e não votar, num país onde se elege, além dos deputados ao parlamento português, os autarcas das câmaras, foi posto em evidência.
Assim na mesa redonda e com participação de Manuela Beja do Partidos Ecologista – Os Verdes, o dinâmico emigrante e dirigente sindical a Manuel Beja a representar o Grupo Parlamentar do PCP; João Pascoal do MAS, Luísa Alvares do Partido Livre e do deputado eleito pelo PS pelo círculo de Europa – Paulo Pisco, e de João Lopes Pica do PDR, a tónica dominante era da inscrição consular e dos portugueses não votarem.
Manuel Beja referia que de verdade “nunca houve um política de emigração, de uma ligação das comunidades com Portugal, falta uma estratégia política nacional para com os 5 milhões de portugueses e luso descendentes não residentes e temos a figura do secretário de Estado que anda por aí pelo mundo e que já houve um Ministério das Comunidades que só durou dois anos”.
Registe-se que a participação cívica dos portugueses nas últimas eleições registou 98% de abstenção. E falar do conceito da cidadania numa festa como esta, é ver que para além dos direitos individuais a mesma cidadania engloba os direitos civis e sociais, como a saúde e educação. Usar os direitos políticos conquistados, foi o apelo e apontado como o dever lembrando que para votar “temos que nos inscrever, é bom que os portugueses emigrados neste país, que já estão ou vão chegando, se inscrevam”

Inscrições Consulares e recenseamento
Excelente trabalho (o primeiro que assistimos numa festa, entre tantas que o MUNDO PORTUGUÊS está presente nas comunidades) foi a permanência do Consulado Geral de Portugal em Genebra a inscrever cidadãos.
Bastava só levar o cartão de Cidadão e comprovativo de residência e o solicito e dedicado funcionário técnico especialista do Consulado – Porfírio Pinheiro – inscrevia os pais e alunos na sua grande maioria presentes com idade para votarem. Ao contrário de Portugal no estrangeiro o recenseamento eleitoral no estrangeiro não é obrigatório nem automático!
Miguel Velozo o cônsul faz igual apelo “em tempo de escolhas, aqui na Suíça mas também em Portugal, é sobre este último aspeto que aproveito a ocasião dada pela Festa da Cidadania, para apelar à comunidade portuguesa, no sentido de todos criarem as condições legais para exercer o direito de votar nas Eleições em Portugal, inscrevendo-se primeiro no recenseamento eleitoral, assumindo depois, através do seu direito de voto, a sua plena cidadania”
Voltando a estes três dias de festa, a alegria dos jovens alunos, muitos de diversos níveis etários e de escolaridade a receber os seus diplomas de participação nas Olímpiadas da Língua Portuguesa – ditado e declamação – a alegria e simpatia de diversos professores, (um grupo que em Genebra, fazem parte do total dos 110 professores que o Instituto Camões e Portugal colocou em toda a Suíça e que ministram o ensino a 12.000 alunos) dá um ambiente diferente das festas- alegre e cultural!
Durante a mesa redonda e falando dos problemas que afetam os portugueses emigrados, como as propinas que se agora se pagam para frequentar o ensino do português – os salários dos professores que são drasticamente penalizados pela alta taxa do IRS de Portugal (são taxados em sede de IRS por Portugal) e que serão referidos em reportagens seguintes – Paulo Pisco deputado eleito pelo PS pela emigração e, com vasta experiência em diversas comunidades que visita, referia “há um preconceito enraizado até mesmo na Assembleia da República a respeito das Comunidades, os portugueses residentes no estrangeiro sentem-se estrangeiros no nosso país e a administração pública não está preparada para receber emigrantes. A nossa história desde o Século XVI é feita de emigração e no que concerne à participação cívica é altamente penalizador para os emigrantes não participarem e daí a comunidade portuguesa seja muitas vezes apelidada de uma comunidade silenciosa”. Sobre a propina defende que com o PS no governo não haverá propina alguma para frequentar o ensino de português! De verdade o caminho do ensino do português na Suíça vir a ser integrado no ensino oficial seria o ideal.
Marinho Pinto eurodeputado europeu e presidente do Partido Republicano Democrático (PDR) interveio num painel sobre Portugal e a Europa e sobre as Comunidades refere que “a falta de interesse dos Estado pelos nossos compatriotas fica, desde logo, evidenciada na circunstância de os assuntos que diretamente se relacionam com as comunidades portuguesas no estrangeiro serem tratadas por um departamento sub alterno dos negócios estrangeiros. O partido que criou tem nos seus projetos haver um Ministério das Comunidades Portuguesas, que passará a ter a tutela de todos os consulados e de os portugueses emigrados puderem votar em pé de igualdade como os portugueses residentes.

Exposição de trabalhos
A exposição de trabalhos escolares feitos pelos alunos mesmos, mostrava a portugalidade e o regionalismo. No corredor da sala podiam-se ver, trabalhos em material reciclado em que o desafio lançado aos pais e alunos, pelos professores, foi correspondido com uma réplica em cartão, bem grande e à escala da Torre de Belém, no ano em que em Portugal se comemora os 500 anos do monumento, um coração de Viana, a guitarra e viloa portuguesa, a bandeira nacional em tampas de garrafinhas, um tabuleiro de Tomar, no ano em que vai haver festa dos tabuleiros, feito com rolhas de cortiça no lugar dos 40 pães. Nos trabalhos escritos recolha das terras de naturalidade dos alunos, ou seja cada alunos, nestes trabalhos mostrou a sua ligação á terra de seus pais e avós.

Associação Cultural de Expressão Portuguesa
Álvaro Oliveira é professor de língua e cultura portuguesa há alguns anos e vice presidente da ACEP que juntamente e em parceria com a Laços organizaram esta festa e que nos refere que a Associação comemora este ano o seu 10º aniversário. Refere que começaram por organizar uma atividade que são as “Olimpíadas da Língua portuguesa e depois com o tempo, demos conta que era uma atividade isolada e que era necessário fazer algo mais vasto que envolvesse a comunidade e, fomos juntando grupos e há dois anos houve aquela iniciativa com a Laços e mais duas associações de fazer o 40º aniversário da revolução do 25 de Abril e o projeto era continuar e este ano resolvemos fazer a festa da cidadania por duas razões. Primeiro porque vai em breve haver eleições em Portugal – legislativas e presidenciais – para apelar à participação cívica dos portugueses que é muito baixa e depois porque houve eleições em Genebra no cantão e é uma forma que encontrámos de sensibilizar as pessoas para este dever cívico – aqui e lá! A partir daí a palete de atividades que desenvolvemos, com as Olimpíadas, os debates, o cortejo, os grupos musicais e a nossa intenção é prolongar este trabalho inter-associativo, com outras associações de boa vontade que queiram vir e fazer ainda um maior acontecimento em Genebra, porque a União faz a diferença, mas infelizmente é difícil, mas é possível fazê-lo, e porque não um arraial pois sou minhoto, de Fafe e faz todo o sentido, juntar sinergias. Reparei que estiveram a entrevistar o ex-presidente da câmara de Genebra Sami Kannan, (que acabou o mandato há um mês) que nos conhece e nos apoia, nos conhece, as a sua sucessora Mme Ester Albert é também que connosco tem ótimas relações inclusivamente mandou uma mensagem, que foi lida na cerimónia de abertura. O caminho é abrir caminho; dar-nos a conhecer às autoridades, para que saibam que nós existimos, que sabemos fazer coisas e que aquilo que queremos fazer vai muito ao encontro daquilo que é a vontade dos políticos genebrinos: envolver as pessoas, envolver várias comunidades, criar este intercâmbio de portugalidade e desfazer alguns estereótipos que existem em relação às comunidades – a portuguesa de emigrante nas costas a albanesa disto ou daquilo, por exemplo.
Juntar as pessoas de várias nacionalidades – para que os estereótipos que ainda existem, e perduram, possam desaparecer, pouco a pouco – é o nosso objectivo”.

 

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