O novo Museu Nacional dos Coches está de portas abertas ao público. Reúne uma coleção única no mundo de viaturas de gala e de passeio dos séculos XVI a XIX, que permite aos visitantes perceberam a evolução dos meios de transporte utilizados pelas cortes europeias até ao aparecimento do automóvel.
O novo museu abriu portas a 23 de maio com um programa de entrada gratuita que incluiu um desfile da charanga a cavalo da GNR e uma exibição da Escola Portuguesa de Arte Equestre.
A data escolhida teve um motivo especial: assinalar o 110º aniversário da inauguração do museu original, em 1905, por iniciativa da rainha D. Amélia, mulher do rei D. Carlos I.
O Picadeiro Real, que albergava até agora o antigo Museu, continuará aberto ao público como parte integrante do novo museu, acolhendo algumas carruagens e viaturas de aparato do século XVIII, arreios e um núcleo dedicado à rainha D. Amélia, assim como uma galeria de retratos dos reis de Portugal.
Já o novo edifício expõe 78 viaturas – coches, berlindas, carruagens, cadeirinhas, carrinhos, liteiras, seges, landaus e carrinhos de criança – na sua maioria originais da Casa Real Portuguesa, a que se acrescentaram veículos vindos dos bens da Igreja e de coleções particulares.
Numa conferência de imprensa anterior à abertura, a diretora do Museu dos Coches, Silvana Bessone, sublinhava que o museu tem a novidade de apresentar ao público “um percurso na História dos transportes reais desde o século XIV ao século XIX”.
Uma informação divulgada na página na internet do novo espaço museológico, informa que “o Museu Nacional dos Coches apresenta um excelente conjunto que permite ao visitante a compreensão da evolução técnica e artística dos meios de transporte de tração animal, utilizados pelas cortes europeias até ao aparecimento do automóvel”.
Composto por dois edifícios com quatro pisos, duas salas de exposição permanente, uma sala de exposições temporárias, auditório, serviço educativo, as novas instalações possuem ainda um laboratório, oficinas, zonas técnicas e administrativas e ocupam na totalidade 15.177 metros quadrados nos terrenos das antigas Oficinas Gerais do Exército.
O Coche dos Oceanos e o Landau do Regicídio
No primeiro piso, para além da coleção de viaturas hipomóveis (puxados por cavalos), o museu expõe um conjunto de peças que foram utilizadas no serviço das viaturas e cortejos de gala e outras ligadas à arte da cavalaria e aos jogos equestres, para além de uma coleção de retratos da família real portuguesa.
No piso térreo estão implantadas as instalações da oficina de conservação e restauro, mas o novo Museu inclui ainda uma biblioteca, acessível ao público com marcação prévia, que tem como acervo obras relativas a meios de transporte, equitação, arte equestre, história, história de arte, conservação e restauro e museologia. Há também espaços para exposição permanente e temporária, áreas de reservas e uma oficina de conservação e restauro que contribuirá para o desenvolvimento da conservação e restauro deste tipo de património.
Foram programados também espaços de restauração, uma loja do museu e um posto de informação turística.
Da coleção de 78 veículos, há vários que se destacam, seja pela raridade, seja pelo contexto histórico que os envolve.
Um deles é o Coche de Filipe II, de construção espanhola e um exemplar raro de viatura régia. Datado de finais do século XVI, é o coche mais antigo da coleção do Museu e pertenceu ao rei Filipe II (Filipe III de Espanha) que o terá utilizado na sua visita a Portugal, em 1619.
Outro dos veículos imponente s é o Coche dos Oceanos, que fez parte, em 1716, do conjunto de cinco coches temáticos e dez de acompanhamento que integraram o cortejo da embaixada enviada por D. João V ao papa Clemente XI.
Outro veículo que desperta a curiosidade do público é o carro da Mala Posta. Último veículo da exposição, marca o início do transporte público coletivo português. A Mala-Posta fazia o percurso entre Lisboa ou Porto, que demorava dias, até porque era preciso parar em várias estações para mudar de cavalos. Lá dentro cabiam cerca de 16 pessoas, incluindo o cocheiro, todas devidamente separadas por primeira classe (duas pessoas), segunda classe (quatro pessoas), e o povo, remetido para o tejadilho, sentado em cima dos pacotes do correio, sem direito a teto nem à lã e à seda que forravam o interior.
Mas um dos que mais chamam a atenção dos visitantes é o Landau do Regicídio. Foi o primeiro a ser transferido para o novo museu, o que bem pode simbolizar o início de um ciclo e do fim de outro.
Era ali que seguia a Família Real, no regresso de Vila Viçosa, quando a 1 de fevereiro de 1908, já em Lisboa, um atentado matou o rei D. Carlos I, o herdeiro do trono príncipe D. Luís Filipe, e feriu D. Manuel. Na porta é possível ver as marcas de duas balas.
Um “autêntico livro de história”
A inauguração oficial realizou-se a 22 de maio, com a presença do Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, do primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, da presidente da Assembleia da República, Assunção Esteves e do secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier.
Cavaco Silva afirmou-se certo de que o novo Museu dos Coches vai contribuir para promover “a imagem de um Portugal que aposta na vanguarda sem perder de vista as suas raízes”. O Chefe de Estado recordou a rainha Dona Amélia que, numa decisão “a todos os títulos singular”, mandou recolher nas instalações do Picadeiro Real as viaturas da corte e fez “surgiu um museu original, único na Europa e no mundo, inteiramente dedicado aos coches e aos diversos acessórios da arte equestre”.
“A rainha Dona Amélia revelou visão estratégica ao reconhecer não só o valor patrimonial das viaturas da corte, mas também o seu interesse público”, afirmou, sublinhando que o Museu Nacional dos Coches é conhecido em todo o mundo como “a mais completa e mais sumptuosa coleção do seu género, pela quantidade, a variedade e a qualidade artística” exibida por muitos dos exemplares preservados.
“A extensão e a raridade do acervo, que vai do século XVII até finais do século XIX, fazem do museu um autêntico livro de história, não apenas sobre a última dinastia dos reis portugueses, mas também sobre as monarquias europeias dessa época e as relações diplomáticas entre os vários Estados”, reforçou.
Já o secretário de Estado da Cultura, enalteceu o valor da cultura. “O efeito que a cultura tem na sociedade, na educação, na economia, no turismo, na valorização do nome de Portugal no mundo é mensurável e essa mensurabilidade deve ser reconhecida potenciada”, defendeu Jorge Barreto Xavier, acrescentando que a cultura “vale muito para lá do que se pode medir”. “A cultura vale por si própria e não como mero instrumento ao serviço de outras áreas”, destacou o secretário de Estado, revelando que entre 2011 e 2014 “foram investidos mais de 100 milhões de euros na reabilitação do património cultural”.
Com um investimento de 39 milhões de euros, o projeto de construção do novo Museu dos Coches foi adjudicado no governo socialista e finalizado em 2012. Ficou por concluir a ponte pedonal, que liga o museu ao outro lado, sobre a avenida da Índia e a linha do comboio, que deverá ficar concluída até meados de 2016. Os espaços de restauração e as lojas também estão ainda fechados. Mas o Museu é já um sucesso de público. No primeiro fim-de-semana de portas abertas recebeu 19.865 visitantes em dois dias de entrada gratuita, com cerca de 250 visitas guiadas realizadas, segundo dados da Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC), organismo que tutela os museus nacionais.
Em 2014, o anterior Museu Nacional dos Coches recebeu 206.887 visitantes, ficando em segundo lugar no top dos museus da Direção Geral de Património Cultural mais visitados, apenas atrás do Museu Nacional de Arte Antiga, também em Lisboa.
O Museu em datas
1726 Foi nesse na que o rei D. João V comprou a D. João da Silveira Telo e Meneses (3º Conde de Aveiras), a Quinta de Baixo, situada junto ao rio Tejo no termo de Belém na parte de Lisboa.
A quinta integrava um conjunto de casas nobres, o Palácio de Belém e um Picadeiro.
1786 60 anos depois foi mandado destruir o antigo picadeiro para ser construído o atual, obra da iniciativa do infante D. João, futuro rei D. João VI, filho da rainha D. Maria I e de D. Pedro III.
Da arquitetura do edifício construído em estilo neoclássico, destaca-se o amplo salão com 50 m de comprimento por 17 m de largo, com dois pisos, apresentando, nos topos do andar superior, tribunas ligadas por duas estreitas galerias, destinadas a permitir à Família Real e à Corte assistirem aos jogos equestres. A estrutura do edifício ficou pronta um ano depois, mas as decorações exteriores e interiores prolongaram-se até 1828.
1791 Francisco José da Costa fornecia os painéis de azulejo que decoravam as tribunas e dois anos depois estava colocada a balaustrada interior que envolve o salão. Nos motivos decorativos do teto e painéis, predominam elementos ligados à arte equestre. Destacam-se no teto do picadeiro em tela pintada, três grandes medalhões ovais com cenas alegóricas.
1904 Foi o ano da adaptação do Picadeiro a Museu, o que obrigou à realização de obras e restauro das pinturas por José Malhoa e António Conceição e Silva. O Museu foi inaugurado a 23 de maio de 1905.
1940 Foram realizadas novas obras para permitir a ampliação da área de exposição com a construção de um novo salão lateral.
1994 Neste ano foram adquiridas pela Secretaria de Estado da Cultura as antigas Oficinas Gerais do Exército em Belém, para aí ser construído um novo edifício para o Museu Nacional dos Coches.
1999 Entre 1999 e 2001 foram recuperadas as coberturas do edifício e remodelado o teto do Salão Lateral dando o seu aspeto atual.
2008 É decidida a construção de novo Museu. Foi convidado o arquiteto brasileiro Paulo Mendes da Rocha, prémio Pritzker em 2006 que trabalhou com o arquiteto português Ricardo Gordon.
2010 A 1 de fevereiro foi lançada a primeira pedra.
2015 O novo Museu Nacional dos Coches abriu ao público a 23 de maio.
Museu Nacional dos Coches
Autocarros: 28, 714, 727, 729, 751
Elétrico: 15
Comboio: Linha de Cascais (quem embarcar em Cascais ou nalguma das restantes estações até Oeiras, deve trocar na estação de Oeiras e seguir até à estação de Belém)
Barco: Estação fluvial de Belém
Horários: Das 10h às 18h, de terça a domingo (última entrada às 17h30)
Encerrado: 2ª feira, 1 de Janeiro, 1 de Maio, Domingo de Páscoa, 24 e 25 de Dezembro
Preços: Museu Nacional dos Coches – 6€; Picadeiro Real – 4 €; Museu e Picadeiro – 8€
O bilhete família (a partir de 4 – pais, filhos, avós e netos), tem 50% de desconto
Entrada gratuita: 1º domingo de cada mês; crianças até aos 12 anos
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