Falta de novos dirigentes ameaça associações lusas no Brasil

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“Há uma falta de interesse mútuo”. Esta é, para Alcides Martins, uma das causas fundamentais para um problema que é comum a grande parte das associações criadas por emigrantes portugueses no Brasil: a falta de quadros dirigentes que assegurem a sua continuidade. Em declarações à agência Lusa o português, que é o subprocurador-geral da República, lamentou que as instituições não consigam atrair os novos emigrantes portugueses que chegaram ao Brasil nos últimos anos.

O alerta não é recente, mas a realidade não mudou: as associações fundadas por portugueses no Brasil, estão em risco tanto pela falta de mobilização das novas gerações, quanto pelo “divórcio” com os portugueses que estão no país há poucos anos. “Estou convencido que há uma falta de interesse mútuo” porque os novos imigrantes no país não se reveem nas associações existentes e, depois, estas também não mostram uma maior abertura que coloque em causa os seus princípios da criação, disse à Lusa Alcides Martins, que chegou na década de 1950 com 14 anos e hoje é o subprocurador-geral da República.
Desde início das década de 70 do século XX que não há grandes vagas de emigração para o Brasil e os portugueses que têm chegado nos últimos anos não têm, na sua maioria, como objetivo mudar-se de facto para o país. “Mantêm mais relações com Portugal, usando as novas tecnologias”, exemplificou o magistrado, durante um encontro no passado dia 6 de maio, com a comunidade no Rio de Janeiro, no âmbito da visita de Estado do ministro dos Negócios Estrangeiros português. E mesmo em relação a esses, “as instituições que temos não atendem àquilo que seriam as expetativas da classe média imigrante” porque “o nosso Portugal é diferente do que é o Portugal desta gente nova”, resumiu.
A falta de renovação dos quadros dirigentes acarreta noutro tipo de problemas, como a gestão patrimonial, salientou o jurista, considerando que esta é uma questão que “os mais velhos não souberam resolver”. Assim, assiste-se ao “definhamento das instituições portuguesas, clubes sociais e associações de folclore” um pouco por todo o Brasil, lamentou.

Novos têm “preconceito”
O sub-presidente da Casa dos Açores do Rio de Janeiro é um dos que luta pelo movimento associativo português no Brasil. “Há sérias dificuldades em atrair os mais novos. Os meus filhos mantêm os laços, mas isso não é a regra”, disse Álvaro Mendonça.
A viver no Rio de Janeiro há pouco mais de um ano, Gonçalo Amaro, 37 anos, é um desses novos portugueses no Brasil. Chegou à boleia da fusão PT/Oi e foi ficando, mas sem colocar o pé em qualquer uma das 30 associações portuguesas no estado. “Não conheço e nunca fui”, disse. No entanto, o seu dia-a-dia é feito com muitos portugueses, emigrantes qualificados que trabalham no Rio de Janeiro: “Não uso as associações, mas nós (os novos emigrantes) mantemo-nos em contato”.
O empresário ligado ao setor da confeção João Beleza tem 71 anos, partiu aos 15 de uma terra perto de Viseu e hoje não tem dúvidas. “Os novos imigrantes têm preconceito em relação aos mais antigos” e “só pensam em dinheiro” em vez de “ajudar a comunidade”.
Apesar disso, a memória da identidade portuguesa mantém-se na família. “Os meus filhos sabem e eles mantêm viva essa história para os meus netos”, disse João Beleza, uma posição com a qual concorda a sua mulher. Filha de brasileiros de origens portuguesas, Maria José Beleza, diz-se uma “apaixonada por Portugal” e lamentou que os filhos olhem para o país com os olhos dos seus pais, perpetuando estereótipos. “Eles veem Portugal, como nós olhávamos quando partimos”, disse.
Por isso, a grande maioria das associações e coletividades portuguesas no Brasil vivem de atividades ligadas a ranchos folclóricos e outros eventos tradicionais. Esta dicotomia é referida pelo cônsul geral no Rio de Janeiro, Nuno de Mello Bello, que admite a sua própria impotência. “Os mais novos organizam-se de um modo diferente”, mas “as associações que têm uma liderança ativa com capacidade de se desenvolverem vão sobreviver” e as outras “terão um futuro difícil”, vaticinou o diplomata.
“Os que estão a chegar agora têm as suas redes próprias”, como o ‘facebook’, e consomem os media portugueses como se estivessem em Portugal, disse. No entanto, confessou “a frustração”, porque não conseguiu “juntar estas duas gerações na mesma mesa ou no mesmo espaço”.

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