Anónimos, familiares, amigos, membros da sociedade política, cultural e civil juntaram-se hoje no Porto para a última homenagem e ovação a Manoel de Oliveira, cineasta que morreu quinta-feira aos 106 anos e deixou mais de meia centena de filmes.
O realizador – que acreditava que a longevidade era “um capricho e o cinema uma paixão” – trabalhou até ao fim da sua vida e hoje a cidade do Porto uniu-se para um último adeus, tendo-o aplaudido em diversos momentos.
As cerimónias fúnebres, que a pedido da família decorreram longe do olhar da comunicação social, contaram com a presença do Presidente da República, Cavaco Silva, do primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, do ator norte-americano John Malkovich, do presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, além de inúmeros amigos, conhecidos, anónimos e demais figuras da vida política e cultural.
“Viva o cinema!” disse aos jornalistas o ator e neto de Manoel de Oliveira, Ricardo Trêpa, que considerou que hoje é um “dia de homenagem” por tudo aquilo que o avô foi e fez “pelo cinema, por Portugal e pelo mundo”.
“A maior homenagem que eu sentia que lhe faziam era no dia-a-dia, quando o abordavam e mostravam o seu agradecimento e a sua admiração”, recordou Ricardo Trêpa.
No final do funeral, no cemitério de Agramonte, onde ficou depositado no jazigo da família, entre centenas de populares que quiseram prestar uma última homenagem ao cineasta encontrava-se Beatriz Vinhas que à agência Lusa disse ter conhecido Manoel de Oliveira, recordando que lhe passou à máquina alguns guiões manuscritos de alguns dos seus filmes.
“Ele lia e eu passava à máquina. Depois pagava-me 25 tostões e às vezes cinco escudos como agradecimento”, disse, confessando que o cineasta ajudou, com trabalho e apoio nos estudos, vários dos jovens atores que participaram num dos seus primeiros filmes, Aniki Bóbó.
Também no cemitério de Agramonte, o ex-ministro das Finanças Miguel Cadilhe disse à agência Lusa que subscrevia a ideia defendida pelo secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier, de a Assembleia da República considerar a trasladação de Manoel de Oliveira para o Panteão Nacional.
“Subscrevo a proposta, mas acho que nós também precisamos de um Panteão no Porto”, afirmou, explicando a sua presença para demonstrar a sua admiração pela obra de Manoel de Oliveira, mas também em representação do seu filho, José Miguel Cadilhe, que produziu alguns filmes do cineasta.
Para o vereador da Cultura da Câmara do Porto, Paulo Cunha e Silva, Manoel de Oliveira é uma “das três personagens fundamentais dos últimos 50 anos na cultura portuguesa”, referindo também os nomes de José Saramago e Siza Vieira.
“Se tivesse de escolher três figuras absolutas escolhia estes três no âmbito da cultura. É a cultura que expande o país. Um país sem cultura e sem saber tratar bem os seus protagonistas culturais é um país que não existe”, disse.