Com mais de quatro séculos de existência, os biombos representam cenas dos portugueses no Japão normalmente caravelas, homens vestidos com casacos gibão e calças ‘bombacha’ (largas e armadas, estilo balão), missionários jesuítas ou dominicanos e são como “fotografias daquele tempo”, disse à agência Lusa o embaixador de Portugal no Japão, Francisco Xavier Esteves.
Mas além das imagens, estes biombos escondem outros tesouros, um pouco como “bonecas russas”, ilustrou o diplomata. “Abrem-se e têm mais histórias lá dentro”, disse. E abrem-se literalmente, porque os biombos eram preenchidos com uma espécie de forro de papel. Devido à raridade do papel naquela época, os artistas recorriam a material reciclado – por exemplo aquele que já tinha sido usado em documentos oficiais.
São essas raridades dos séculos XVI e XVI, realizados por uma escola de pintura japonesa, que estão a dar a conhecer importantes documentos daquela época e justificaram que o imperador Akihito tenha conversado com Pedro Passos Coelho sobre os projetos de recuperação dos ‘namban’ existentes em Portugal. O imperador do Japão recebeu no dia 27 de março o primeiro-ministro português e um dos temas abordados nos cerca de 40 minutos pelos quais se prolongou uma audiência prevista para 20 minutos, foram a continuação da recuperação dos biombos ‘namban’ dos museus portugueses.
“Portugal tem estado a colaborar com esse trabalho e iremos intensificar essa colaboração, tanto mais que houve novos desenvolvimentos nesse domínio, mais biombos foram encontrados com forte possibilidade de conter o mesmo sistema de utilizarem documentos antigos para a base de construção do próprio biombo”, contou aos jornalistas Passos Coelho, no fim da visita de três dias ao Japão.
Um dos biombos – calcula-se que existam entre 40 a 60 destes objetos em Portugal – estava no Museu Soares dos Reis, no Porto. Veio para o Japão para ser aberto e analisado, tendo sido os documentos extraídos e feitas cópias ‘fac-simile’ para exposições. Dentro desse biombo estavam cerca de 1.200 documentos japoneses e uma carta para Portugal de Luís Froes, “uma personagem maior dos missionários jesuítas no Japão, que escreveu sobre a História do Japão e foi um dos primeiros autores de uma gramática japonesa”, contou o embaixador à Lusa.
Os documentos são tão importantes quanto raros, já que o Japão possui pouca documentação preservada, devido à sua intensa atividade sísmica, um passado de construção de habitações em madeira e guerras particularmente devastadoras, como a II Guerra Mundial. Os projetos de recuperação destes documentos contidos nos biombos ‘nambam’ realizados pelas autoridades japonesas, receberam no passado dia 27, o apoio da autoridade máxima do Japão e o primeiro-ministro português comprometeu-se a colaborar com os objetivos de preservação da memória histórica japonesa. “Terei ocasião no meu regresso a Lisboa de poder dar um impulso ainda maior à identificação e recuperação desses documentos, em contato com as autoridades japonesas. Trata-se de dar a maior facilidade possível a que todos os especialistas indicados pelo Governo japonês possam proceder com os cuidados à recuperação dos documentos”, afirmou Passos Coelho.
Biombos portugueses escondem documentos seculares que o Japão está a preservar
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