Há empresas “interessantes em Portugal” e a aquisição da PT Portugal não se deveu ao baixo preço de venda das ações. A afirmação foi feita em Paris por Armando Pereira, o empresário português que é um dos sócios fundadores da Altice, um fundo de investimento francês com sede no Luxemburgo, e dedicado ao setor das telecomunicações, que comprou a empresa portuguesa.
As declarações aos jornalistas foram proferidas pelo investidor português à entrada para um pequeno-almoço de trabalho que reuniu empresários franceses com o Presidente da República, durante a deslocação de Cavaco Silva a Paris.
Armando Pereira garantiu ainda que vão ser mantidos “para já” os postos de trabalho na PT Portugal, cuja venda à Altice foi aprovada pela assembleia de acionistas a 22 de janeiro deste ano. As únicas alterações serão ao nível da administração da empresa.
“É normal, porque as pessoas que lá estão, não conhecemos bem, e gostamos de trabalhar com pessoas que conhecemos”, afirmou.
Sobre o volume de investimento a aplicar na PT, o empresário português nascido no Minho garantiu que a Altice pretende que todo o país “fique equipado com uma rede de alta velocidade, a fibra ótica”. O que, acrescentou, se traduz num investimento de cerca de “150 milhões de euros por ano”, durante o tempo que for necessário, mas geralmente são dois a três anos”.
Armando Pereira confirmou ainda a intenção de vender “em breve” a Cabovisão, por imposição da Autoridade da Concorrência, mas acrescentou que “ainda não está nada definido”.
“A Autoridade da Concorrência vai-nos obrigar a vender a Cabovisão. Penso que vai ser vendida a curto prazo. Já estamos no início do ‘encontro’ de algumas pessoas que estão interessadas”, explicou, sem revelar quais serão as empresas com interesse em comprar a empresa que foi adquirida pela Altice à canadiana Cogeco Cable, no final de Fevereiro de 2012, por 45 milhões de euros.
‘Call center’ em Vieira do Minho abre em maio
Quanto a novos investimentos em Portugal, o empresário confirma a abertura em maio próximo, de um ‘call center’ da Altice em Vieira do Minho – que não tem qualquer ligação à PT. “O primeiro vai ser aberto em maio, com 200 postos de trabalho”, disse, revelando ainda a intenção de a médio prazo, criar quatro mil postos de trabalho em todo o país.
Sobre os investimentos nas telecomunicações, Armando Pereira diz que, para já, a Altice vai “ficar por aí”, mas não descartou a possibilidade de “mais tarde” investir no setor dos media.
A desvalorização das ações da PT em bolsa, devido à ligação ao BES (Banco Espírito Santo) e aos 900 milhões que a empresa perdeu no GES (Grupo Espírito Santo) não alterara a perceção do sócio-fundador da Altice de que a compra da PT foi um bom negócio. A confiança mantém-se até porque, sublinhou, “a PT e a SGPS não são a mesma coisa”.
“Para nós o bom negócio é exatamente o mesmo que era ao princípio”, disse Armando Pereira, garantindo que a desvalorização em bolsa “não tem problema” porque “ela (a PT Portugal) desvaloriza, mas nós (Altice) continuamos a valorizar”.
“Eu sou português…”
O empresário disse ainda que há negócios “interessantes” em Portugal e “grupos estrangeiros a comprar muitas empresas”, mas tal não se deve à crise e ao preço baixo de venda. E acrescentou que o valor que a Altice pagou pela PT “foi um preço normal, a um nível de negócios que se faz em todo o mundo”.
Questionado sobre se o seu investimento em Portugal é para ajudar o país a sair da crise ou apenas uma questão de negócios, Armando Pereira não conteve um sorriso. “Eu sou português”, respondeu.
Um dos quatro sócios fundadores da Altice – detém 30% da empresa -proprietária da Cabovisão e da Oni e que recentemente adquiriu a PT Portugal, Armando Pereira, 59 anos, integra o top 5 dos milionários com negócios ligados à Internet em França e em 2014 ocupava o 61º lugar na lista dos mais ricos do país, da revista Challenges, como revelou a revista «Sábado» num artigo publicado em dezembro do ano passado.
Natural de Guilhofrei, concelho de Vieira do Minho, onde viveu com os irmãos e os pais agricultores, mudou-se aos 11 anos para casa de uma tia em Espinho. Aos 14 anos decidiu emigrar para França, e viajou sozinho. À «Sábado» disse que partiu com “dois pares de calças e duas camisolas” e guardou “dois mil escudos (593 euros) no bolso”. Foi tudo o que levei”, contou. Trabalhou na construção civil, nos arredores de Paris mas mudou de cidade e de trabalho, passando a instalar cabos de telefone.
Estudou à noite, aperfeiçoou os conhecimentos nesse setor, evoluiu e aprendeu tudo sobre redes de telecomunicações. Pediu um empréstimo e criou uma empresa especializada nessa área, e tornou-se milionário, como refere o artigo da «Sábado», quando aos 44 anos vendeu a empresa a um banco holandês por 42,5 milhões de euros.
Não parou e em 2004 fundou a Altice com outros três empreendedores. O resto, já se sabe…