A ‘terapia fágica’ consiste na eliminação das bactérias patogénicas pela ação dos vírus ‘fagos’ – vírus que destroem apenas bactérias e que são inócuos para os humanos.
E se os químicos e antibióticos atualmente utilizados para descontaminar as águas das pisciculturas fossem substituídos por uma terapia amiga do ambiente? Esta é a questão a que uma equipa de investigadores da Universidade de Aveiro (UA) está a responder.
Desenvolvida pelo Departamento de Biologia da UA, a ‘terapia fágica’ consiste na eliminação das bactérias patogénicas pela ação dos vírus ‘fagos’ – vírus que destroem apenas bactérias e que são inócuos para os humanos.
A terapia “reduz mil vezes mais o número de bactérias presentes na água e faz decrescer substancialmente o impacto ambiental e os riscos para a saúde pública derivados da utilização massiva de outros descontaminantes”, explica uma nota divulgada pela UA.
“Face à importância da aquacultura para compensar a redução das populações piscícolas naturais e com vista a diminuir as perdas económicas devidas às infeções bacterianas comuns nessa atividade, desenvolvemos um novo procedimento para descontaminar as águas piscícolas”, explica Adelaide Almeida, investigadora do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM) da Universidade de Aveiro e coordenadora deste trabalho.
Embora a vacinação seja o método ideal para impedir infeções, aponta a bióloga, “as vacinas disponíveis são ainda limitadas e podem ainda ser pouco ativas nas primeiras fases de vida dos peixes, quando o sistema imunitário ainda não está totalmente desenvolvido”.
Por outro lado, a administração de antibióticos (quimioterapia) “apesar de ser geralmente eficaz, constituindo atualmente a primeira opção no tratamento destas infeções bacterianas, pode levar, através do seu uso frequente ao desenvolvimento de resistências, que fatalmente acabam por se transmitir aos microrganismos que infetam os seres humanos” acrescenta.
O relatório da OMS de 2013 estima que nenhum dos antibióticos atualmente em uso será eficaz dentro de cinco anos.
A ‘terapia fágica’ desenvolvida na UA para as águas utilizadas nas pisciculturas, quer constituir-se como uma alternativa ‘verde’ aos processos de descontaminação utilizados atualmente e que podem acarretar grandes impactos para o meio ambiente e, consequentemente, para a saúde pública. “Há uma necessidade urgente de desenvolvimento de medidas inovadoras, eficazes e de baixo custo para combater estas infeções antimicrobianas refratárias ao tratamento convencional e limitar o desenvolvimento e disseminação de microrganismos resistentes aos antimicrobianos, sendo vital procurar métodos menos lesivos em termos ambientais, como é o caso da terapia fágica”, refere Adelaide Almeida.
Por outro lado, Adelaide Almeida diz que ainda se vê o peixe proveniente de aquacultura como um produto de qualidade inferior ao peixe selvagem, o que é associado muitas vezes à presença de antibióticos. A utilização alternativa da ‘terapia fágica’ pode levar à alteração do comportamento dos cidadãos relativamente ao consumo de peixe produzido em aquacultura, com vantagens evidentes para essas empresas.