Uma bengala que utiliza ultrassons para detetar buracos e declives está a ser desenvolvida no Departamento de Eletrónica, Telecomunicações e Informática da Universidade de Aveiro (UA) com o objetivo de ajudar pessoas com deficiência visual, já que “dá muito mais informação do que as bengalas existentes”, destacou o presidente da Associação Promotora do Ensino dos Cegos (APEC)
O que diferencia a bengala desenvolvida na UA das já existentes no mercado, é o facto de produzir vibrações no punho do utilizador, avisando-o que se aproxima, por exemplo, de uma escadaria ou de um buraco no pavimento. Já em fase de protótipo, a bengala foi criada no Departamento de Eletrónica, Telecomunicações e Informática (DETI) da UA como resposta a um desafio lançado àquela instituição universitária pela Associação Promotora do Ensino dos Cegos (APEC). Em causa estão “as centenas de acidentes sofridos anualmente pela população invisual portuguesa, muitos dos quais com consequências graves, derivados dos obstáculos indetetáveis com uma normal bengala”, explica uma nota divulgada pela UA.
“A bengala desenvolvida na UA é, sem qualquer dúvida, uma grande ajuda para as pessoas com deficiência visual porque dá muito mais informação do que as bengalas existentes”, afirma Victor Graça, citado pela nota da UA. O presidente da APEC, fundada em 1888 e a associação mais antiga dedicada aos cegos portugueses, diz que os avisos lançados pela bengala para a existência de obstáculos ao nível do chão “são uma grande mais-valia para esta população”.
“Dado que a informação possível de obter com esta bengala é muito maior do que a que é possível obter com as que atualmente existem no mercado, quanto mais informação a pessoa cega ou amblíope tiver menos acidentes existem”, explica Victor Graça lembrando que são muitas as barreiras enfrentadas pelos invisuais no seu dia-a-dia. “Basta pensarmos, por exemplo, na enorme quantidade de carros estacionados em cima do passeio, nas esplanadas, nos buracos, nas obras não sinalizadas ou nos caixotes do lixo”, lembra.
Para já, os obstáculos suspensos ao nível da cabeça do utilizador não são ainda detetados pelo protótipo do DETI. Mas essa funcionalidade desenvolvida futuramente. A expectativa da equipa de investigadores da UA – coordenada por José Vieira com a participação dos estudantes Nuno Dias e o Pedro Rosa – é também criarem um produto acessível com um preço que ronde os 100 euros. “O custo das que se fabricam no estrangeiro (com funcionalidades similares) são vendidas no nosso país por um valor que as pessoas com deficiência por norma não conseguem pagar de modo nenhum”, lamenta Victor Graça salientando o preço mais acessível da bengala da UA como outra das grandes vantagens do projeto.
Ultrassons são a diferença
Um dos requisitos referidos pela APEC foi a colocação na bengala de LEDs de alto brilho que sinalizem a presença da pessoa com deficiência visual ao anoitecer e de forma automática. Essa função já foi implementada pelos investigadores.
“Também está pensado o desenvolvimento de uns óculos com sensores de ultrassons e de um altifalante paramétrico para a deteção de obstáculos. No entanto, estes dispositivos ainda estão numa estado embrionário de desenvolvimento”, revela José Vieira.
A bengala do DETi tem incorporado um emissor de ultrassons que envia um sinal que é refletido pelo solo. Dois recetores de ultrassons detetam o eco e medem o tempo entre a emissão e a receção. A partir deste tempo é possível saber a distância ao solo. Quando esta ultrapassa um determinado valor, o punho da bengala vibra. “A eletrónica utilizada é de ultrabaixo consumo de modo a prolongar ao máximo a duração das baterias”, explica José Vieira lembrando que “numa primeira versão incluiu-se uma célula fotovoltaica para prolongar a duração das baterias”.
Atualmente, no mercado, já existem bengalas que utilizam ultrassons para a deteção de obstáculos, mas a adesão é nula por causa da “pouca fiabilidade na deteção de obstáculos e preço elevado” e ainda por não serem articuláveis, diz o investigador da UA. Jorge Anjos, funcionário da UA e invisual, experimentou a bengala e tem ajudado os investigadores a melhorá-la. “Os primeiros passos estão dados. Agora é preciso não parar”, aponta. Jorge Anjos já alertou os investigadores para a necessidade da bengala poder ser articulada para quando um cego necessitar de a dobrar e ainda que os censores (instalados na extremidade da bengala que perscruta o chão) deverem estar colocados de forma a que o utilizador possa executar normalmente as técnicas de manuseamento da bengala. “E já agora, que possam também identificar obstáculos em altura”, acrescenta.
A equipa de José Vieira já está a implementar estas alterações.