Depois de 12 anos de investigação contínua, um grupo de cientistas da Universidade de Aveiro desenvolveu um método “simples, rápido e eficaz” de extração e purificação da casca do eucalipto. Muito rica numa classe de compostos conhecida por ter uma ampla gama de propriedades biológicas, a casca do eucalipto pode ter grande utilidade para as áreas farmacêutica e alimentar.
Em 2002, a equipa descobriu a casca do eucalipto é muito rica numa classe de compostos, designada por ácidos triterpénicos – elementos conhecidos por terem uma ampla gama de propriedades biológicas. Depois desta descoberta foram precisos 12 anos de trabalho, para a equipa de investigadores do Departamento de Química (DQ) da Universidade de Aveiro (UA) anunciar que desenvolveu um método “simples, rápido e eficaz” de extração e purificação desses compostos. “O objetivo é que 2015 marque o início da implementação industrial do processo de extração dos compostos para que possam ser usados pelas indústrias farmacêutica e alimentar”, explica uma nora divulgada pela UA.
“A casca de eucalipto é um resíduo vegetal da indústria de pasta de papel, cuja utilidade tem sido unicamente a queima para geração de energia”, explica Carlos Manuel Silva, um dos responsáveis pelo projeto, acrescentando que se trata de um resíduo “muito abundante que contém este conjunto de compostos de elevado valor acrescentado”.
A equipa de investigadores descobriu que a exploração desse resíduo vegetal pode ser realizada de forma integrada com o processo industrial de produção de pasta de papel.
Armando Silvestre, coautor do estudo, diz que as aplicações dos ácidos triterpénicos podem ser muito variadas, entre as quais a cosmética, a nutrição humana e animal e a indústria farmacêutica. Nesta última área “os compostos pretendem-se geralmente puros, mas em cosmética e nutrição o próprio extrato – não purificado ou com níveis variáveis de purificação – poderá ser utilizado desde que os restantes componentes não levantem entraves”, acrescenta o investigador.
O comunicado da UA revela que o método de extração e purificação dos ácidos triterpénicos da casca de eucalipto baseia-se em processos de separação típicos e bem conhecidos da engenharia química e não requer solventes nem condições de operação especiais ou estranhos à realidade industrial.
Tem ainda a vantagem, segundo Carlos Manuel Silva, de ser “comprovadamente simples, rápido e eficaz”. O investigador sublinha que “para além do conhecimento científico que o suporta, existem garantias tecnológicas para uma implementação futura” deste método que já foi patenteado pela UA.
O processo descoberto na UA consegue extrair de cada 100 quilogramas de biomassa do eucalipto, cerca de um quilograma de extrato bioativo – quantidade que depois de ser purificada, e dependendo das concentrações de ácidos triterpénicos, pode alcançar valores entre as centenas e os milhares de euros por quilo.
Uma empresa espanhola dedicada à produção e comercialização de extratos vegetais, já demonstrou interesse na extração industrial dos ácidos triterpénicos derivados da biomassa de eucalipto, informa a Universidade de Aveiro. “Estamos presentemente em negociações e testes mais avançados, tendo em vista uma adaptação industrial do nosso processo e o uso dos nossos extratos como nutracêuticos (produto nutricional com valor terapêutico) em alimentação animal, para que 2015 possa ser um ano conclusivo no que à implementação industrial deste processo diz respeito”, desvenda o investigador Carlos Manuel Silva.