Exposições, espetáculos e conferências em Adis Abeba vão assinalar, até 2020, os 500 anos das relações diplomáticas entre Portugal e a Etiópia, uma iniciativa que também pretende fomentar as trocas comerciais.
No dia 15 deste mês foi inaugurada no Museu Nacional da Etiópia, na capital, Adis Abeba, uma exposição sobre as relações bilaterais contemporâneas, permitindo um olhar sobre os últimos 60 anos, durante os quais se registaram momentos como a visita de Estado do imperador etíope Haile Selassie a Portugal, em 1959, e o encerramento e posterior reabertura da embaixada portuguesa naquele país africano. As comemorações dos 500 anos de relações diplomáticas arrancaram em dezembro do ano passado, com um espetáculo no Teatro Nacional, em Adis Abeba, com a participação da pianista portuguesa Vera Estevez, do pianista e compositor etíope Girma Yifrashewa, e do grupo teatral da Escola de Artes do Teatro da Universidade de Adis Abeba.
O programa coincide, nas datas, com os factos ocorridos há 500 anos nas relações bilaterais. Em março de 1514, chegou a Lisboa o embaixador etíope de origem arménia Matewos, que apresentou cartas credenciais ao rei D. Manuel I. Portugal, na altura, decidiu despachar uma embaixada, mas, por várias circunstâncias, incluindo condições internas naquele país africano, o embaixador D. Rodrigo de Lima só chegou ao então mítico reino cristão de Preste João seis anos depois, em abril de 1520. “Por isso, a embaixada resolver lançar este programa que cobre seis anos”, referiu à Lusa o embaixador português em Adis Abeba, António Luís Cotrim.
Com as iniciativas culturais, a embaixada quer também incentivar o aumento das trocas comerciais, que ainda são reduzidas – na ordem dos cinco milhões de euros por ano -, mas o diplomata garante que o interesse está a crescer. Por um lado, há empresas da indústria farmacêutica interessadas em exportar para a Etiópia, e no setor energético, também a EDP já visitou aquele país. Existe ainda uma fábrica portuguesa de sumos e frutos que está a avaliar a possibilidade de criar ali uma unidade.
Do lado etíope, empresários do setor turístico – que o embaixador garante ter “um enorme potencial” – querem conhecer a experiência portuguesa nesta área, estando em preparação a visita de uma delegação empresarial a Portugal.
Quanto à comunidade portuguesa naquele país, António Luís Cotrim referiu que é muito reduzida, estando registados apenas entre 15 a 20 cidadãos nacionais, e a maioria trabalha em hotéis nas ilhas Seicheles.
Adis Abeba é considerada a ‘Bruxelas de África’, acolhendo a sede da União Africana e da comissão económica das Nações Unidas para África. “Nada se passa sem passar por aqui, a todos os níveis. O peso da Etiópia não é só por si como um país do continente africano, com uma taxa de crescimento de oito a nove por cento ao ano, mas também pelo seu papel de liderança de toda aquela zona do Corno de África e, em geral, de África”, explicou o diplomata.
O programa das celebrações, que se prolonga até 2020, inclui a exibição de um documentário sobre a viagem da primeira embaixada portuguesa e deverá realizar-se uma exposição sobre relações bilaterais durante séculos XVI e XVII e uma exibição de fotografia, além da publicação de uma edição comentada, em amárico, do Opúsculo de Damião de Góis sobre a Etiópia, cuja edição original data de 1540, e de uma coleção de livros infantis. Outras iniciativas passam por residências de artistas etíopes em Portugal e vice-versa, cooperação na área do turismo, com formação hoteleira e dinamização de rotas culturais, intercâmbios académicos e promoção da investigação sobre relacionamento bilateral.
Portugal e Etiópia assinalam 500 anos de relações diplomáticas
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