O ataque da Marinha Imperial Japonesa à frota da Marina norte americana estacionada em Pearl Harbor, no Pacífico, levou os Estados Unidos da América a recrutar 47 embarcações de pesca de atum (atuneiros) açorianos em San Diego, Califórnia, no início de 1942. Cerca de 600 pescadores de descendência portuguesa voluntariaram-se para prestar serviço militar. Este episódio retratado na série documental «Portuguese in California» (Portugueses na Califórnia), de Nelson Ponta-Garça, que vive nos Estados Unidos.
Este episódio da história da presença portuguesa nos Estados Unidos é contado com detalhes na série documental «Portuguese in California» (Portugueses na Califórnia), realizada pelo jornalista jornalista Nelson Ponta-Garça e editada em DVD, em versão bilingue.
Nelson Ponta-Garça, que vive nos EUA, e cujos pais são naturais da ilha de São Jorge, nos Açores, explicou à agência Lusa que os atuneiros, que sustentavam uma considerável indústria em San Diego, foram convertidos em barcos de guerra na sequência do ataque de Pearl Harbor, durante a II Guerra Mundial.
“A 15 de fevereiro de 1942, dois meses depois de os aviões militares japoneses bombardearem a frota do Pacífico dos EUA, em Pearl Harbor, a marinha dos Estados Unidos requisitou os atuneiros para serviço militar. Cerca de 600 pescadores de descendência portuguesa voluntariaram-se para prestar serviço militar”, contou o jornalista, que possui a sua própria produtora, a ‘NPG Productions’.
Nelson Ponta-Garça explica que Foram mobilizados 47 atuneiros. Desse total, após a sua utilização na guerra e a partir de 1967, 16 embarcações foram convertidas para integrar as patrulhas costeiras norte-americanas. “Atualmente, já nenhum desses barcos permanece no ativo”, revelou, acrescentando que alguns estão em museus e outros foram abatidos.
Comunidade na Califórnia é maioritariamente açoriana
Os emigrantes açorianos, que representam 90% da comunidade portuguesa radicada na Califórnia e istalaram-se, predominantemente, em localidades como Silicon Valley, San Joaquim, Los Angeles, San Diego, Sacramento e San Francisco.
Nelson Ponta-Garça recorda que os primeiros açorianos começaram a chegar à Califórnia integrando tripulações baleeiras e, a partir de 1857, San Diego desempenhou mesmo um papel muito importante na caça à baleia.
A indústria atuneira naquela cidade norte americana, que começou no quintal de um emigrante açoriano, chegou a assegurar dois mil postos de trabalho portugueses, conta ainda o jornalista.
Foi em 1851, segundo Nelson Ponta-Garça, que o açoriano Manuel F. Cabral -uma das maiores referências da emigração portuguesa na Califórnia – desembarcou em Poin Loma, fundando com 25 outros pescadores a Companhia Portuguesa de Pesca. Em 1913, Joseh Azevedo criou a sua primeira fábrica de conservas de atum, que mais tarde se tornaria na Companhia de Embalagens de San Diego e a maior indústria de atum dos Estados Unidos da América.
O jornalista referiu que, já na I Guerra Mundial as encomendas à indústria de atum de San Diego, visando abastecer as tropas norte-americanas, eram de grande dimensão, tendo Manuel Medina sido um dos pioneiros no abastecimento.
Na Califórnia, durante as décadas de 50, 60 e 70 do século XX havia um número estimado de 150 embarcações ligadas à indústria do atum e 2.500 pescadores portugueses. Os pescadores mais experientes angariavam mesmo vencimentos anuais que oscilavam entre 50 e 80 mil dólares, ainda de acordo com Nelson Ponta-Garça.
“Hoje toda a gente conhece San Diego, com cerca de três milhões de habitantes, como uma das cidades mais bonitas dos Estados Unidos e um ponto turístico. Esta nova realidade, a par de restrições ambientais, tornou praticamente impossível a pesca do atum”, explicou o jornalista.
A comunidade portuguesa está hoje ligada as indústrias como o abastecimento de combustíveis, bem como a outras áreas de atividade da economia da Califórnia, um dos estados norte-americanos que mais acolheu emigrantes oriundos dos Açores nos Estados Unidos, a par do Massachusetts. Muitos destes emigrantes têm vindo a ocupar papéis de relevo em várias áreas, desde a pesca e a agricultura, à política e negócios.
Uma série em nove episódios
O documentário «Portuguese in California» está dividido em nove episódios e retrata o contributo dos emigrantes portugueses para aquele estado norte-americano. Faz ainda uma comparação entre a emigração atual e a que teve início no século XIX. Esta emigração, maioritariamente açoriana, chegou à Califórnia há mais de cem anos e, desde então tem vindo a estabelecer-se em várias áreas, como a pesca, agricultura, arte, política, tecnologia e negócios.
O projeto foi desenvolvido durante quase três anos e resulta de 130 entrevistas, que narram em detalhe experiências pessoais de emigrantes e descendentes de emigrantes. Numa entrevista ao ‘Diário dos Açores’, jornalista comparou a emigração do século XX e a de hoje em dia. “Não há duas emigrações: os ‘pobrezinhos’ – fins do século XIX e princípio do século XX, e décadas de 1960/70/80 – e os novos ‘especializados’, que hoje saem de Portugal. Para mim, são todos iguais”, afirmou. E lembrou que foram os “‘pobrezinhos’ da nossa emigração do século XIX e XX que deram o bom nome que Portugal hoje goza na Califórnia, nos Estados Unidos”.
O produtor disse ainda que no documentário “é mais do que claro que a audácia e a força de vontade destes emigrantes, fez com que hoje a nossa comunidade, embora despercebida, nutra pela parte das entidades americanas um grande respeito”. Nelson Ponta-Garça afirmou ainda àquele jornal que “numa altura em que Portugal atravessa um momento menos bom, esta será uma forma das audiências acompanharem casos de sucesso na Califórnia e talvez ganharem inspiração para transcender a realidade atual”.
O documentário é bilingue e divide-se por nove episódios, começando com ‘Coming to America’ (Chegada à América). Segue-se ‘The early days in California’ (Os Primeiros Tempos na Califórnia), que se divide em dois episódios. Os restantes abordam histórias de emigrantes que alcançaram o sucesso naquele estado – nas áreas norte e sul, no vale de São Joaquim, na zona da Baía de São Francisco. O episódio final centra-se nas manifestações de cultura, nas tradições, na gastronomia e na educação, e vai buscar testemunhos do passado para traçar um olhar sobre o futuro da comunidade portuguesa na Califórnia.
Os testemunhos recolhidos pelo jornalista e produtor são diversos, e reúnem intervenções de indivíduos atuantes área da tecnologia, com a Google, Cisco, Skype, Microsoft, na área da agropecuária, com o maior produtor batata doce biológica e o maior produtor de leite do mundo, entre outros comendadores reconhecidos. Retrata ainda estrelas de Hollywood com descendência portuguesa e políticos com poder de movimentar biliões, como Jim Costa e Devin Nunes. Há ainda entrevistas a “produtores de vinho de Napa, pescadores milionários de San Diego, entre outros”, revelou Nelson Ponta-Grossa ao ‘Diário dos Açores’.
O documentário, produzido pela Azores TV e pela NPG Productions, teve a sua estreia em San Jose, a 27 de Abril de 2014. Todo o projeto foi desenvolvido com um orçamento de 100 mil dólares, tendo contado com o apoio de dois “grandes nomes” do meio da produção audiovisual, Fernando Fragata e Sandra Menino. Nascido em San Jose, na Califórnia,
Nelson Ponta Garça cresceu na ilha de São Jorge, voltando depois para os Estados Unidos.
Um ataque devastador
A operação aeronaval de ataque à base norte-americana de Pearl Harbor, na ilha de Oahu, Havaí, realizada pela Marinha Imperial Japonesa, ocorreu às 7h53min (hora local) da manhã de 7 de Dezembro de 1941.
Executado de surpresa, o ataque visou a frota do Pacífico da Marinha dos Estados Unidos da América e as suas forças de defesa, o corpo aéreo do exército americano e a força aérea da Marinha, e marcou a entrada dos Estados Unidos da América na Segunda Guerra Mundial.
Onze dias antes, a 26 de Novembro, uma frota incluindo seis porta-aviões, onde seguiam 441 aviões, comandados pelo vice-almirante Chuichi Nagumo, deixou a baía de Hitokappu, nas Ilhas Kurilas e seguiu para Pearl Harbor. Todas as comunicações via rádio entre as embarcações da própria frota e o Japão estavam proibidas. Acompanhavam também oito reabastecedores de esquadra.
Seguiram ainda 20 submarinos e cinco mini-submarinos, que tinham como missão recolher informação e afundar quaisquer navios americanos que tentassem escapar de Pearl Harbor durante o ataque aéreo.
Os aviões japoneses atacaram em duas vagas, a primeira liderada por 186 torpedeiros-bombardeiros, que aproveitando os primeiros momentos de surpresa, atacaram os navios no porto enquanto bombardeiros-de-mergulho atacavam as bases aéreas ao longo de Oahu. Uma segunda vaga de 168 aviões atacou o campo Bellows e a ilha Ford, uma base aérea naval e marinha no meio de Pearl Harbor.
Segundo os relatórios oficiais norte americanos, o encouraçado Arizona explodiu, tendo morrido mais de 1000 pessoas; o encouraçado Oklahoma emborcou, deixando apenas pequena parte do casco acima da linha de água; o encouraçado Califórnia afundou e o encouraçado Nevada encalhou, sofrendo danos severos; o encouraçado West Virginia afundou e o encouraçado Maryland sofreu danos moderados; o encouraçado Tennessee sofreu danos moderados, exceto na ponte de comando, enquanto o encouraçado Pennsylvania sofreu danos sérios, mas não vitais; o encouraçado Utah emborcou e os cruzadores Leves Releigh, Helena e Honolulu foram pouco danificados e os contratorpedeiros Cassin, Downess e Shaw foram seriamente danificados; o navio de reparos Vestal foi intencionalmente encalhado para prevenir afundamento, enquanto o porta-hidroaviões Curtiss foi severamente danificado por choque com um avião e por uma bomba de 500 kg. O lança-minas Oglala emborcou.
O exército e a marinha norte americanos tiveram 188 aviões destruídos e 159 severamente danificados.
Escaparam os três porta-aviões da frota do Pacífico não se encontravam no porto, assim como os depósitos de combustível e outras instalações. As oficinas de reparo não foram atingidas, permitindo que fosse logo iniciada a recuperação de diversos navios danificados. Morreram 2403 americanos, e outros 1178 foram feridos.