Paulo Santos falava à agência Lusa sobre a importância da realização de permanências consulares no país e, em particular, da possibilidade de os portugueses obterem passaportes em zonas distantes da capital, com um equipamento portátil que desde há mais de um ano está a ser usado pelo Consulado Geral de Portugal em Caracas. “Muitos deles são pessoas que têm dupla nacionalidade e, portanto, a nacionalidade que eles mantêm mais ativa seria a venezuelana e mantêm uma nacionalidade portuguesa mais ‘dormente’, no sentido de que a mantêm, mas não têm os seus documentos atualizados”, explicou.
O diplomata explicou haver um grupo que gera maior preocupação: as pessoas que têm só a nacionalidade portuguesa e que mesmo assim não renovam os seus documentos. Nesses casos, ficam numa situação de ilegalidade perante os dois países. “São estas pessoas que nós temos andado realmente a descobrir e a tentar, digamos assim, resgatar, ao longo destas viagens, para que elas passem a ter documentação atualizada e para que passemos a ter registos atualizados delas ou qualquer registo. Muitas, realmente, desde que chegaram à Venezuela, muitas vezes há várias décadas, nunca se aproximaram dos consulados e nós nem sequer temos conhecimento se estão cá, de nada sobre as suas vidas”, frisou.
10% irregulares nas zonas remotas
Paulo Santos precisou que nesses casos o que consulado faz “é, ao passar-lhes documentos, atualizar essa informação, saber quem são, onde estão e todos os dados sobre elas”. Para essas pessoas, referiu, esse processo também é benéfico, porque passam a ter capacidade de se registar legalmente na Venezuela e obter um passaporte válido.
O cônsul geral referiu que na mais recente viagem, a zonas mais remotas da Venezuela, se constatou que 10 por cento das pessoas com quem se contatou estavam numa situação irregular. “(Eram) pessoas que nunca se tinham inscrito no consulado – 10% são aqueles que nunca tinham tido qualquer documento emitido aqui, não estou a falar dos que tinham os documentos vencidos, porque esses são muito mais”, disse.
O responsável indicou haver ainda muitas pessoas que vão ao consulado já com documentos expirados há 30 anos. Grande parte não está nessa situação voluntariamente, mas por dificuldades económicas que não lhe permite ir até Caracas. O diplomata precisou que ainda no mês de fevereiro visitou portugueses que vivem a mais de 1.300/1.400 quilómetros de distância da capital, onde constatou essa dificuldade.
Ex-emigrantes apreensivos
Portugueses que estiveram emigrados na Venezuela seguem com preocupação os últimos acontecimentos naquele país, com confrontos entre manifestantes anti-Governo e a polícia. Em Aveiro, distrito de onde é oriunda a segunda maior comunidade portuguesa, a Lusa contatou com vários emigrantes que mantêm negócios nos dois países, ou já regressaram a Portugal.
Luís Brito, empresário de panificação, há 30 anos na Venezuela e que se encontra em Portugal por motivos familiares, está convicto de que a agitação se deve à interferência estrangeira, lembra que sempre houve problemas de insegurança e atribui a escassez de bens a sabotagem e contrabando. “Na zona onde estou, em Maracaibo, os “machaqueiros” levam gasolina e mantimentos de contrabando para a Colômbia, e do outro lado é para o Brasil. O contrabando que passa a fronteira e escapa ao controlo do Estado é a principal razão para a escassez que se verifica na Venezuela”, disse
Já João Domingos regressou definitivamente. Partiu de Cabecinhas, Vagos, na década de 1950 “como todos os outros”. Das notícias que lhe chegam da Venezuela, comparou com os anos que lá viveu e concluiu que “o regime ‘fidelista’ está a estragar tudo”, acreditando que só uma mudança política pode devolver o país à normalidade.
Opinião idêntica tem o seu parente e vizinho Manuel Malta, preocupado porque deixou lá a filha, o genro e um neto. “Já havia problemas de segurança, mas não era como agora. Roubavam (…), chegavam ao pé de mim, encostavam a faca à barriga e dava o dinheiro, iam embora e acabava. Isso existiu lá toda a vida”, relatou.