As mãos que fazem os “berços” para o vinho…

Data:

O tanoeiro Diamantino Gouveia há 65 anos que se dedica à “dura arte” de construir pipas ou tonéis e, apesar de atualmente haver menos trabalho, ainda percorre o Douro a fazer manutenção nas quintas de vinho do Porto.

Um pouco por todo o lado vai morrendo aos poucos a arte da tanoaria, profundamente enraizada na tradição popular portuguesa, desenvolvendo-se especialmente nas zonas de produção de vinho. Com o aparecimento das novas tecnologias que trouxeram a novidade das cubas em inox, começou esta secular arte a desaparecer, mantendo-se apenas nalgumas regiões.
Em plena Região Demarcada do Douro, a mais antiga do mundo, Diamantino Gouveia continua a trabalhar aos 76 anos no ofício que lhe foi ensinado pelo pai. Nasceu em Oliveira, Mesão Frio, e cresceu entre as madeiras, as pipas e o cheiro a vinho do Porto. É ali que está instalada a sua oficina. Logo à entrada, um tonel chama a atenção por ter sido transformado num bar, com cozinha, e lá dentro o cheiro a madeira mistura-se com o pó, as ferramentas e as pipas em construção.

Arte do tempo do Marquês de Pombal
Diamantino trabalha por estes dias numa nova vasilha de 5.000 litros para uma das casas produtoras de vinho que ainda lhe encomendam trabalhos. Quando começou tinha que andar com as ferramentas às costas e não havia uma única máquina para ajudar.

Hoje em dia, já há alguns equipamentos que ajudam, por exemplo a cortar as madeiras, mas o sistema “praticamente não evoluiu” e as técnicas usadas “ainda devem ser da época do Marquês de Pombal”.
Com o passar dos anos perdeu a conta às pipas, tonéis ou balseiros que vendeu para as grandes quintas do Douro, mas agora sente-se desanimado. “Nós somos poucos, mas cheguei a trazer 12 funcionários, há uma dúzia de anos, no tempo em que havia um bocado de trabalho. Isto agora desceu um bocado”.
As vendas desceram ao ponto de o artesão contar apenas com a ajuda de três funcionários. E, quando não há encomendas, Diamantino Gouveia passa o tempo a construir peças de mobiliário, como mesas e cadeiras ou pequenas pipas de decoração.
Aos poucos a vasilha vai ficando pronta. O trabalho já começou há duas semanas, com a madeira antiga trazida pelo produtor e que o tanoeiro reaproveitou. “Isto já levou vinho, sei lá, mais de 150 anos”, salientou.
Mas fazer uma pipa não é fácil. O artesão é obrigado a recorrer à matemática para calcular as proporções da madeira, do comprimento e da tampa, ou a cubicagem (medição do volume).

Cada vez menos trabalho
Diamantino queixa-se de que agora há pouco trabalho, mas mesmo assim desdobra-se por este Douro, de Barca de Alva a Barqueiros, a fazer trabalhos de reparação e de manutenção das pipas. As cubas de inox, que há uns anos foram substituindo as pipas de madeira, principalmente para os vinhos de mesa, representaram um duro golpe para o trabalho dos tanoeiros.
No entanto, o artesão frisou que “quem quer ter vinhos de qualidade continua a usar as barricas de madeira”. Antigamente estes recipientes eram usados no transporte e envelhecimento dos vinhos. É verdade que hoje em dia já não é transportado em pipas ou tonéis, mas a madeira continua a ser considerada essencial para um vinho do Porto de qualidade.
Apesar disso, Diamantino mostra-se muito cético em relação ao futuro desta arte. “O interesse é pouco. Eu dei o primeiro curso de tanoaria na ilha da madeira já lá vão 20 anos e não vi assim um interesse grande. Acho que isto não puxa ninguém “, salientou. O artesão reforçou que o “trabalho é duro e eles não estão para se matar”. “Esta mocidade agora não é como nós antigamente. Nós trabalhamos no duro”, concluiu.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Share post:

Popular

Nóticias Relacionads
RELACIONADAS

Compal lança nova gama Vital Bom Dia!

Disponível em três sabores: Frutos Vermelhos Aveia e Canela, Frutos Tropicais Chia e Alfarroba e Frutos Amarelos Chia e Curcuma estão disponíveis nos formatos Tetra Pak 1L, Tetra Pak 0,33L e ainda no formato garrafa de vidro 0,20L.

Super Bock lança edição limitada que celebra as relações de amizade mais autênticas

São dez rótulos numa edição limitada da Super Bock no âmbito da campanha “Para amigos amigos, uma cerveja cerveja”

Exportações de vinhos para Angola crescem 20% desde o início do ano

As exportações de vinho para Angola cresceram 20% entre janeiro e abril deste ano, revelou o presidente da ViniPortugal, mostrando-se otimista quanto à recuperação neste mercado, face à melhoria da economia.

Área de arroz recua 5% e produção de batata, cereais, cereja e pêssego cai 10% a 15%

A área de arroz deverá diminuir 5% este ano face ao anterior, enquanto a área de batata e a produtividade dos cereais de outono-inverno, da cereja e do pêssego deverão recuar 10% a 15%, informou o INE.