Maioria dos empresários da diáspora abrem negócios em atividades onde já trabalharam – Estudo

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A conclusão é de José Carlos Marques, autor do estudo «Empreendedorismo Transnacional dos Emigrantes Portugueses», que incidiu no universo empresarial português no Luxemburgo, um dos principais destinos europeus da emigração portuguesa. O estudo, que foi iniciado em 2010, parte de num inquérito centrado em várias perguntas, como o início da atividade empresarial, os motivos que levaram à abertura de um negócio, as dificuldades sentidas ou os incentivos que gostariam de obter. Os resultados globais deste estudo sobre os empresários portugueses no Luxemburgo devem ser divulgados ainda este ano, mas o investigador gostaria de o realizar também na Suíça, França e Inglaterra. Tudo depende da existência de recursos que ainda não conseguiu angariar, como contou nesta entrevista ao «Mundo Português».

Qual foi o universo do estudo?
A investigação incidiu no Luxemburgo e foi feita através de entrevistas a portugueses a residir no. Fizemos inquéritos a 150 empresários portugueses, e validamos 149. Atendendo a que, em 2011, os empresários no Luxemburgo eram à volta de 1200, conseguimos inquirir um pouco mais de dez por cento desse universo.

Quais os principais setores de atividades desses portugueses?
Os principais setores são a restauração e o alojamento – pequenos bares, cafés e restaurantes –, com mais de 50 por cento dos inquiridos. Há mini-mercados direcionados para a venda de produtos alimentares portugueses e comércio de padarias e pastelarias. Há empresas em diversas áreas da construção civil e uma outra área com um peso importante, mas muito diversificada: o comércio. Pode ser desde uma pequena papelaria a uma oficina de reparação de veículos automóveis.

Qual a faixa etária e as regiões de origem desses portugueses?
São sobretudo das regiões Norte e Centro, dos distritos de Braga, Viseu, Porto, Aveiro, Leiria. Cerca de 70 por cento dos empresários que entrevistamos, têm entre 35 e 54 anos. À volta de 40 por cento das pessoas inquiridas estão na faixa etária dos 35 aos 44 anos. Dos 45 aos 54 anos são 30 por cento dos inquiridos.
Terá a ver com uma maior disponibilidade da geração mais nova, para o empreendedorismo. E com o facto de pertenceram a uma fase mais nova de emigração, porque olhando para o ano de chegada ao Luxemburgo, verificamos que a maioria chegou a partir de final dos anos 80. Muito integrados numa emigração familiar, a acompanhar os pais ou numa ótica de reagrupamento familiar, indo ter com os pais que já estavam no país. Alguns deles nasceram já no Luxemburgo, fizeram lá toda a sua escolaridade e depois decidiram abrir uma empresa.

Abriram negócios nos mesmos setores que os emigrantes mais antigos ou têm negócios em outras áreas?
Há outras áreas que se vão desenvolvendo. Não têm ainda grande expressão numérica mas é importante considerar, como o imobiliário e as agências de seguros – atividades que já exigem maior conhecimento da legislação e do contexto do país de acolhimento e que estão a desenvolver-se.

Esses empresários fazem negócios com empresas em Portugal?
Uma das perguntas do questionário era precisamente se estabelecem contatos com empresas portuguesas. Cerca de um terço dos inquiridos afirmou que nunca o faz, no âmbito da sua atividade empresarial. Depois, 40 por cento revelou que o faz ocasionalmente e outro terço revelou que estabelece contatos regulares com empresas portuguesas, sobretudo ao nível da aquisição de produtos.

Há dados mais relevantes que já possa revelar?
Numa análise ainda muito superficial, vi que grande parte destes empresários, à semelhança de outros países, abrem negócios em atividades onde desempenharam anteriormente as suas profissões. Por exemplo, muitos adquiriram restaurantes porque trabalharam durante muitos anos como empregados em restaurantes. Ou trabalhavam no setor da construção e identificaram um nicho de mercado e decidiram avançar com uma empresa direcionada para esse nicho.
Surgiu um dado curioso. No inquérito, perguntava qual a nacionalidade da maioria dos empregados, da maioria dos clientes e dos principais fornecedores de mercadorias ou de matérias-primas. Quanto aos empregados, cerca de 90 por cento eram portugueses. Dos clientes, à volta de 70 por cento também eram portugueses e quanto aos principais fornecedores, 72 por cento já eram luxemburgueses. Nota-se que há uma diminuição da presença portuguesa conforme se vai caminhando de um maior envolvimento na empresa (empregados) para aqueles que fornecem matérias-primas.

Quais as dificuldades que sentiram ao abrir um negócio no Luxemburgo?
Quando questionados se tiveram algumas dificuldades no período inicial de constituição da empresa, a maioria diz que não as teve dificuldades ao nível do conhecimento da realidade empresarial, porque já trabalhavam nessa área. As maiores dificuldades que indicaram foi a ausência de recursos económico-financeiros e a falta de clientes na fase inicial da empresa.

Foi referido que o negócio se ressentiu de alguma forma com a crise económica?
Não foi mencionado. Mas o questionário foi realizado no início de 2012 e a crise acentuou-se durante esse ano e em 2013. Poderá entretanto ter influenciado por via ‘indireta’: a crise em Portugal fez aumentar a emigração portuguesa para diversos destinos, entre os quais o Luxemburgo, e é natural que muitos dos que entretanto chegaram ao país se tenham dirigido a empresas portuguesa, quer como clientes, quer para procurar emprego.

Pretende levar este estudo a outros países europeus com emigração portuguesa?
A ideia inicial é realizá-lo também na Suíça e mais adiante em Inglaterra e França. Mas tudo isto depende da existência de recursos, que atualmente ainda não foi possível angariar. O inquérito já está feito e alojado numa plataforma ‘online’ que pode ser disponibilizada para outros países. Mas depois é preciso fazer o trabalho de campo: contatar pessoas nesses diferentes países e arranjar inquiridores que contatem os empresários e os sensibilizem a participar.

Quando estará concluído e pronto a ser publicado?
Espero concluí-lo até ao final deste ano, não será possível antes porque tenho outros estudos em mãos. Mas um primeiro resultado deverá estar pronto a ser divulgado até março. Depois terei que o trabalhar um pouco mais e a versão final só deverá estar pronta no final de 2014.


“Este é um interesse pessoal, porque vivi a emigração”
Professor adjunto do Instituto Politécnico de Leiria e investigador do Centro de Estudos Sociais (CES) de Coimbra, onde integra o Núcleo de Estudos das Migrações, José Carlos Laranjo Marques, 45 anos, tem centrado a sua investigação na migração internacional, nomeadamente as políticas migratórias, fluxos migratórios portugueses, integração dos imigrantes e migração altamente qualificada, entre outras. Um interesse que tem na sua génese o facto dos pais terem sido emigrantes na Alemanha, país onde o professor e investigador cresceu, até ao regresso a Portugal, no início da adolescência. “Este é um interesse pessoal, porque vivi a emigração, embora numa outra perspetiva, por causa da idade”, afirmou José Carlos Marques, a quem sempre impressionou “a questão dos movimentos internacionais de pessoas e em especial a emigração”. Uma questão sempre presente na história portuguesa nos últimos dois séculos, mas “muitas vezes pouco conhecida e estudada”, reforçou. “Sobre a emigração dos anos 60 havia muitos estudos, mas sobre aquela que se desenvolveu após os anos 80, havia poucos e existia até a ideia de que Portugal tinha deixado de ser um país de emigração. Sempre me interessou contrariar essa ideia”, revelou o investigador, que centrou grande parte dos seus estudos na Suíça, “principal destino da emigração portuguesa nos anos 80 e até aos anos 90”. “Agora, que se assiste-se a uma nova vaga de emigração, e interessa-me claramente estudar essa nova emigração”, assegura.

Nova emigração portuguesa é tema do novo estudo
A nova emigração portuguesa centra o estudo que atualmente toma grande parte do tempo de José Carlos Marques. Coordenado pelo professor João Peixoto, do Instituto Superior Técnico, foi iniciado em setembro de 2013 e junta três universidades nacionais – as Universidades de Coimbra e de Lisboa e o ISCTE – algo que o investigador diz ser “uma raridade em Portugal”. “O nosso objetivo é conhecer a emigração portuguesa que se produziu sobretudo a  partir de 2000”, explica o investigador, que vai centrar o estudo em quatro países: França, Inglaterra, Brasil e Angola. “Vamos fazer dois inquéritos diferente, porque o estudo visa a emigração mais qualificada e os emigrantes com menores qualificações (académicas)”, revela José Carlos Marques que pretende lançar os inquéritos no início de abril.

Ana Grácio Pinto
apinto@mundoportugues.org

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