Romana é, aos 31 anos, uma das mais carismáticas cantoras portuguesas. «Diz-me» é o seu novo trabalho por quem a cantora diz “estar apaixonada”. Dona de uma voz impressionante, revela em entrevista ao Mundo Português, que tem a família que sempre desejou, e mostra-se feliz com o regresso à editora Espacial depois de uma afastamento de sete anos, onde chegou a viver no estrangeiro. Visivelmente feliz, Romana admitiu ainda que cantar para os portugueses que estão a viver no estrangeiro é “muito especial”…
Este seu novo trabalho marca o regresso à sua primeira editora. É um recomeçar numa casa que bem conhece?
Este novo trabalho é, de facto, um regresso à minha “casa mãe”, à editora Espacial. Foi a editora onde comecei com o “Já não sou bebé”. Depois fiz uma paragem de sete anos, onde me desliguei da editora e quis conhecer “outro mundo” cá fora. Quis a nível musical, explorar novas áreas, novos produtores, ter contato com novas culturas. Essa nova fase incluiu morar fora de Portugal, ainda que por um curto espaço de tempo…
Sim, estive dois meses a morar em Córdoba onde tive aulas de cântico flamenco, aulas de dança de sapateado. Foram dois meses com aulas todos os dias.
Este trabalho reflete um bocado este meu regresso a casa. Voltei a gravar com o Ricardo Landum, de quem tinha imensas saudades.
Engraçado que não nos víamos fazia anos mas o regresso pareceu como se fosse ontem. Estava tudo igual, a cumplicidade… Bastou estarmos um bocado juntos para ele extrair de mim, como ele diz, a minha essência. Foi muito engraçado! Ele diz que eu evoluí muito espiritualmente, como ser humano, e este disco tinha que ser escrito consoante o meu estado de espírito. A verdade é que isso se refletiu na escrita dele. Cheguei a dizer-lhe: “Ricardo, eu sei que escreves bem mas isto está escrito de uma forma divina. Está com uma luz diferente!”.
Este trabalho é então uma mistura entre cumplicidades antigas e novas experiências?
Este álbum é isso! Ao nível da interpretação, que é o que posso falar, nestes sete anos, onde trabalhei com Rodrigo Serrão, Many de Ramos, Paulo Martins, Ramon Galarza, conheci tanta gente nova, e aprendi tanta coisa nova, cresci muito. Aprendi a escrever. Descobri isso em mim, que sabia compor. Estender mais a minha voz, interpretar as coisas de outra maneira.
É um bocado o recolher de toda esta aprendizagem que está na interpretação, na própria letra. É a Romana de sempre, porque ela não desapareceu, mas numa fase mais madura, mais evoluída, mais requintada. Está delicioso o disco!
Algum tema que gostasse de destacar?
Gosto de todo o álbum… Talvez o «Diz-me», que dá nome ao álbum ou a música «Por tantas vezes» e que tem o toque da guitarra portuguesa, que eu adoro. Há também o dueto com o Tiago Ribeiro na música “Por tantas vezes”, onde as nossas vozes casaram tão bem.
Mas eu estou apaixonada pelo novo trabalho! Se me perguntarem se são músicas com as quais me identifica terei que dizer que não, mas é como os atores que interpretam os papéis de personagens diferentes e têm que vestir esse papel. Um bom cantor, um bom profissional, tem vestir aquela letra, dar a alma aquela letra. De tal forma que a pessoa sinta.
É um bocado isso que eu faço. Porque a minha vida é tão feliz, tão estável, que algumas letras que falam em desgosto de amor não estão relacionadas comigo. Tenho um casamento perfeito, com a pessoa perfeita. Temos uma filha maravilhosa! O que eu posso fazer é ser uma boa profissional, interpretar o tema com toda a minha paixão e fazer o público sentir-se bem quando está a ouvir o disco.
Sempre quis ser cantora?
Em criança temos sempre aquela fase em que queremos ser cabeleireiros, veterinários, médicos… queremos ser tudo! Foi isso que aconteceu comigo. Como tenho a minha tia, [a cantora Ágata] que sempre acompanhei, desde muito nova que acho interessante este mundo da música, do espetáculo. Eu era uma criança e portanto sonhava!
Também tinha o meu irmão [Sérgio Rossi] que sempre tocou guitarra e é um músico excelente. O meu avô tocava harmónica, o meu tio-avô tocava violino. O meu pai cantava fado e a minha mãe adorava marchas. Nós somos alfacinhas de gema e eu cresci pelos bairros tradicionais. Os primeiros espetáculos que fui foram no Campo das Cebolas, a cantar fado.
Assim o “bichinho” foi despertando mas não fui eu que pedi nada. Foi a minha própria família, a minha avó que foi descobrindo. Dizia que eu tinha uma voz incrível (risos). Um dia estava a cantar a «Canção do Mar», da Dulce Pontes, quando já acompanhava a minha tia a fazer coros nos seus espetáculos, quando o dono da editora me chamou e disse eu tinha que gravar um disco. Eu pensei logo: que giro, saltos altos, batons (risos)… Nem eu percebia o que estava a acontecer.
Eu não tinha este plano para mim. No fundo, foi a vida que teve esse plano para mim. E quando entramos nos planos da vida, tudo vai fluindo de uma forma diferente…
Acha que hoje o público já vê uma Romana diferente. Porque a Romana começou muito cedo e o público acompanhou o seu crescimento…
Sim, desde os oito anos. É verdade que todos me tratam por menina, ninguém me trata por senhora (risos). A mensagem que passo à minha filha, e que acho fundamental, é que não devemos deixar o nosso lado de criança. Devemos agir como adultos mas ter sempre aquele salpico de criança para tudo não ser assim tão sério, tão pesado.
Acho que as pessoas me consideram uma grande profissional, uma boa voz. «A tua cara não me é estranha» trouxe-me isso também porque muita gente já conhecia a Romana mas há facetas que nunca poderia ter mostrado se não fosse o programa. Deu-me essa abertura, essa graça! Consegui conquistar outro público.
Lembro-me que quando foi o desafio da Adele, achei muito interessante alguns comentários que vi nas redes sociais onde as pessoas mostravam muita curiosidade quanto à minha prestação. Senti mesmo que era uma responsabilidade. E devo dizer que a partir desse dia muita coisa mudou na minha vida. Senti as pessoas a olharem-me de outra forma.
Acha que se deve ao estilo de música que adotou na sua carreira…
Sim, muitas vezes está relacionado com o estilo de música. Mas repare que eu não escolhi o estilo de música. Pegaram em mim e escolheram as músicas para eu gravar um disco. Nem eu, na altura, iria saber escolher. Eu era uma miúda, nem sabia dar uma entrevista.
Hoje o público olha para mim como uma “menina mulher”. Já quis mudar desde 2007… Desde esse ano que faço trabalhos diferentes… Já fiz fusões de fado com flamenco, com bolero, com rumbas. Já fiz baladas rock ou música pop. Já fiz de tudo um pouco mas sinto que o público nunca conseguiu perceber aquilo que eu queria. Quando criamos uma imagem e quando somos conhecidos por ela, dificilmente nos conseguimos desconectar. Eu sofri um bocadinho com isso. Sentia que estava a rumar contra a maré.
Chegaram a apontar-lhe um caminho novo, com um novo nome e tudo…
Temos um exemplo internacional: o Prince. Mudou de nome e “acabou”. E eu vou renegar o meu passado porquê?! Eu vendi tantos discos, como é que isso podia estar errado?! Não estava errado, o percurso era aquele. E não me envergonho de nada do que fiz! Tive um início de carreira muito bonito.
Hoje tenho capacidades vocais para cantar tudo mas também tenho que pôr os pés na terra, pensar onde estou. Houve uma altura na minha carreira que achei que estava na “terra de ninguém”, não sabia muito bem o que cantava. Tive mesmo que fazer uma pausa, que me proteger. Depois desse balanço percebi que tinha que regressar à “casa mãe”. Porque saí com a porta aberta para voltar.
Acha que o mercado é injusto para os cantores nacionais?
Já senti… e ainda hoje sinto. Mas aprendi a viver com isso e a extrair a parte boa. O reconhecimento do público já me deixa bem, já me deixa compensada. A verdade é que no início nem todas as pessoas conseguiam gravar um disco. Portugal tem música muito boa e tem outra que não é. Se calhar tem que ser assim para que a boa música seja apreciada.
Como é a Romana fora do mundo da música?
Sou como na música. Talvez não cante tanto (risos). Mas estamos em família. Somos muito musicais. A minha filha diz que eu sou linda e canto muito bem. Conta que os colegas lhe dizem que sou a melhor cantora do mundo (risos). São muito queridos! Eu tento ter muito cuidado para não a envergonhar, até na maneira de me vestir. Se assumi o papel de mãe tenho que ter esse cuidado. O crescimento dela depende também dos meus passos…
A Romana já atuou por várias vezes para os emigrantes. É especial?
É muito diferente. Os nossos portugueses lá fora recebem os cantores portugueses de forma muito especial. Recebem-nos com muito carinho. Porque valorizam de outra forma porque estão longe, querem que tudo seja perfeito.O último que me lembro foi no Canadá, onde cantei muito fado. Cheguei a cantar o por «Amor a Portugal» da Dulce Pontes. Foi fabuloso… de deixar a lágrima no canto do olho com o sentimento de não querer sair dali.
Ana Rita Almeida
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