O presidente da associação humanitária Dignitas Vitae defendeu esta sexta-feira a unificação da língua gestual portuguesa, nos países dos PALOP e de Timor Leste, solidificando o cariz humanitário com a componente pedagógica da transmissão de conhecimentos.
Na data em que se assinala o Dia Nacional da Língua Gestual Portuguesa, Hélder do Carmo defendeu à Lusa que Portugal, “enquanto centro do mundo da língua portuguesa”, devia ter a “responsabilidade” e tentar unificar a linguagem de sinais nos estados-membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). “Devíamos ter essa responsabilidade (unificar a língua gestual portuguesa), uma vez que temos uma língua gestual desenvolvida, que vai evoluindo como língua viva, mas que já está com uma sintaxe e estrutura muito bem desenvolvida”, afirmou.
As linguagens gestuais não são universais, têm a sua própria estrutura e diferem de país para país. A linguagem de sinais é uma língua como outra qualquer, com estrutura sintática, semântica e morfológica. A grande diferença é que utiliza a imagem para expressar-se. Para determinar o seu significado, os sinais possuem alguns parâmetros para a sua formação, como por exemplo a localização das mãos em relação ao corpo, a expressão facial e a movimentação que se faz ou não quando se produz o sinal.
Para Hélder do Carmo, além de “solidificar o cariz humanitário das missões” que venham a ser realizadas nesses países, Portugal podia “juntar essa componente pedagógica de transmissão da língua gestual portuguesa, que já esta construída e em uso”. O responsável pela Dignitas Vitae considera que há pessoas surdas portuguesas com capacidades pedagógicas “muito boas” que podiam ensinar, partilhar esse conhecimento e unificar uma língua de pessoas surdas nesses países.
De acordo com Hélder do Carmo, a língua gestual portuguesa tem por base a sueca, país com o qual Portugal, na altura em que começou a dar importância ao assunto, fez uma parceira, tendo recebido, há mais de 100 anos, técnicos da Suécia para dar formação. “Por isso a linguagem gestual portuguesa tem a sua base na sueca, embora com muitas parecenças com a linguagem espanhola, que tem a mesma base, mas já se distanciando da brasileira, a libras”, revelou, explicando que, embora o português do Brasil e de Portugal sejam semelhantes oralmente, gestualmente é muito diferente.
Em termos dos países da CPLP, Hélder do Carmo reconhece que o Brasil tem a sua língua de sinais própria, embora não saiba se a mesma está oficializada, como acontece com a portuguesa, que foi reconhecida em 1997 pela Constituição da República Portuguesa, ano em que ficou definida a sua proteção e valorização “enquanto expressão cultural e instrumento de acesso à educação e da igualdade de oportunidades”.
Em relação aos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), Hélder do Carmo avança que não há sequer uma intervenção no sentido de se homologar uma língua gestual, dado que são países em desenvolvimento. “O que acontece é que as intervenções no sentido da educação de surdos ou o acompanhamento de surdos têm um cariz humanitário, não têm um cariz pedagógico, nestes países, ficando um bocado alienado de acordo com a intervenção das nacionalidades das pessoas que fazem a intervenção”, explicou.
Hélder do Carmo lembrou que no caso de Timor Leste são as congregações indonésias e voluntários cubanos e brasileiros que lidam com população surda, “e, apenas, no sentido humanitário”. “Acredito que a linguagem gestual que utilizam será oriunda dos próprios países de origem”, afirmou.