A Ilha de São Miguel, o seu património, cultura e tradições, a economia e a sua natureza exuberante, foi a proposta do jornal «Mundo Português» para a edição deste ano do Encontro Internacional de Turismo (EIT). A adesão não se fez esperar e um grupo de uma centena de portugueses residentes no estrangeiros, formado por agentes de viagens e seus clientes e ainda leitores do semanário «Mundo Português», foram presenteados com a tradicional hospitalidade açoriana e com o que de melhor existe numa ilha de beleza única e repleta de história e tradição.
Entre 14 e 16 de outubro, estes portugueses e lusófonos residentes em vários países renderam-se aos encantos de um destino turístico por excelência, indo ao encontro do seu património, da sua cultura e tradições e da sua natureza exuberante, onde predominam os tons de verde e ao longe o azul celeste do mar. Os participantes foram presenteados com a tradicional hospitalidade açoriana e com o que de melhor existe numa ilha de beleza única e repleta de história e tradição.
Este ano, o grupo reuniu participantes de França, Luxemburgo, Dinamarca, Cabo Verde, Canadá, Estados Unidos, Brasil e África do Sul, que na sua grande maioria nasceu em Portugal continental. Mas para Maria Luíza Medeiros, o EIT foi um momento de reencontro com a sua ilha natal, de onde saiu com apenas 11 anos, tendo ido depois viver para a Ilha Terceira até aos 20 anos, altura em que a família seguiu para Moçambique e depois para a África do Sul.
“Para mim, foi o regressar às minhas origens muitos anos depois. Embora muita coisa esteja diferente, até mesmo as estradas, lembro-me de tudo: do Parque Terra Nostra, das Lagoas das Furnas e das Sete Cidades, até do restaurante onde íamos comer. Foi muito especial”, confessou a este jornal ao fazer o balanço dos três dias nos Açores.
Mas Maria Luíza foi a exceção à regra, já que o XVIII EIT teve a particularidade de reunir portugueses que não integram a diáspora açoriana. Um mercado para o qual o Turismo dos Açores deverá olhar com mais atenção, porque integra portugueses com elevado poder de compra e abertos a conhecer este destino com características naturais únicas.
Como exemplifica o grupo de cerca de meia centena de participantes oriundos do Recife, capital de Pernambuco, no Brasil, que veio apenas porque o destino era São Miguel. Apesar de nenhum dos integrantes ter nascido no arquipélago.
Uma particularidade à qual não esteve indiferente o Secretário Regional de Turismo e Transportes dos Açores. Durante o jantar do primeiro dia, que contou com o apoio do Turismo dos Açores, Vítor Fraga, lembrou que o objetivo principal da presença dos participantes do EIT “é poder desfrutar de tudo” o que São Miguel tem a oferecer a quem a visita, alargando esse princípio a todas às nove ilhas do arquipélago açoriano.
Nesse sentido, sublinhou que o governo dos Açores vai continuar a trabalhar “para melhorar as nossas infra-estruturas e o parque hoteleiro e alinhá-los com a nossa oferta turística”, voltada essencialmente para o turismo de natureza”.
Embaixadores do destino Açores
Colocando em evidência o facto do grupo ser formado na sua maioria por portugueses e luso-descendentes, o governante afirmou que “ninguém melhor do que os nossos emigrantes para serem os verdadeiros embaixadores do nosso destino”, tendo sublinhado que não se referia apenas à diáspora açoriana.
“Quando me refiro aos emigrantes, não falo apenas na emigração açoriana. Todos vós que aqui estão e têm oportunidade de contatar diretamente com o nosso destino, serão naturalmente os nossos melhores embaixadores”, estacou Vitor Fraga.
O Secretário Regional de Turismo e Transportes mostrou-se convicto de que a plateia para quem falava terá “essa vontade e se sentirão estimulados” em divulgar o destino Açores, por tudo aquilo que tem a oferecer. Por outro lado – e dirigindo-se principalmente aos agentes de viagens portugueses da diáspora ali presentes – garantiu que poderão contar com a Secretaria Regional de Turismo “para aquilo que entenderem de forma a que potenciem” os seus negócios.
“Convencendo e criando boas emoções em quem nos visita, não haverá forma mais económica de promover o destino Açores. Convidamos todos os que aqui estão a fazê-lo e a juntarem-se a nós”, desafiou.
NATUREZA, DOÇARIA… E O COZIDO DAS FURNAS
Para além das belezas naturais e arquitetónicas, o EIT permitiu aos participantes conhecerem o que de melhor se produz na maior ilha dos Açores. E o roteiro começou mesmo pela «descoberta», para a grande maioria, de um dos sabores gastronómicos dos Açores: as doces queijadas, com uma visita à Fábrica Morgado, em Vila Franca do Campo. O sabor foi uma agradável surpresa até mesmo quem já fazia comparações com outras queijadas famosas em Portugal – as de Sintra – e não houve quem regressasse aos autocarros sem levar algumas embalagens para “dar a conhecer à família”, como revelou um participante.
O destino seguinte era dos mais aguardados: A Lagoa das Furnas e um dos seus ex-libris: o cozido, um dos pratos mais emblemáticos da ilha, que demora 6 a 7 horas a cozer numa panela enterrada no solo junto às caldeiras naturais da Lagoa, onde os ingredientes são cozinhados pelo calor natural emanado da atividade vulcânica. Reunidos em círculo à volta das caldeiras, viram ser desenterradas as grandes panelas que continham o afamado prato, servido de seguida no restaurante do antigo Casino Terra Nostra. Depois, foi altura e gastar as energias acumuladas com um passeio pelo Parque Terra Nostra, com a sua vegetação luxuriante e a piscina natural de água morna que convida a um banho quente.
Depois de uma passagem por uma fábrica de Bolos Lêvedos de Maria da Glória Moniz, para descobrirem outra atração da doçaria micaelense e uma especialidade gastronómica típica e exclusiva do Vale das Furnas – o grupo seguiu para a afamada Fábrica de Chás da Gorreana, a mais antiga da Europa (fundada em 1883) e que continua a utilizar os ensinamentos e técnicas seculares, passadas de geração em geração. Depois de ouvirem uma explicação sobre a cultura do chá, não houve quem não provasse uma das qualidades de chás oferecidas, e quisesse passar pela loja da fábrica para levar mais uma aromática lembrança dos Açores.
O segundo dia do passeio começou uma visita ao Pico do Carvão, numa manhã que começou chuvosa. Com muita sorte – ou a ajuda de São Pedro – o nevoeiro que cobria o miradouro dissipou-se por alguns minutos e foi possível ver uma vista deslumbrante da Ilha. O grupo seguiu para uma visita à ‘vista do Rei’, que recebeu esse nome em homenagem a uma visita feita ao local pelo rei D. Carlos, em 1901.
Apesar da chuva que acompanhou o grupo durante praticamente todo o dia 15 de outubro, o nevoeiro voltou a ‘desaparecer’ durante a visita a outro ex-libris de São Miguel: a Lagoa das Sete Cidades. Com as suas duas tonalidades de água – de um lado um ‘espelho’ em tom verde e de outro em azul – é o maior reservatório de água doce de superfície dos Açores e deixou verdadeiramente deslumbrados todos os participantes do EIT.
Como José e Maria Adelaide Ferreira, portugueses radicados em França há cerca de 30 anos, não deixaram de destacar a beleza de uma ilha “muito verde, com paisagens naturais incríveis”.
Antes do regresso a Ponta Delgada, houve tempo para uma paragem na localidade das Sete Cidades, implantada a cerca de 260 metros de atitude no interior da caldeira do vulcão das Sete Cidades, na margem oriental da lagoa do mesmo nome, e onde residem pouco mais de 800 pessoas, em meio a uma paisagem pontuada por casas tradicionais e uma beleza ambiental sem paralelo.
Paisagens, ananases e licores…
No terceiro e último dia do EIT em São Miguel, os participantes voltaram a poder conhecer – o provar – produtos de excelência dos Açores. O ananás é uma das principais atrações de São Miguel e o programa não poderia deixar de incluir a visita a uma estufa, neste caso a da Profrutos.
O grupo visitou a plantação de ananases, pode observar o processo de crescimento do fruto nas estufas da empresa e no fim, prová-lo. Adoçados pelos ananases, os participantes do EIT foram levados a conhecer outras duas granes atrações da ilha: a Lagoa do Fogo e a Caldeira Velha. Considerada uma das maiores dos Açores e a segunda maior da Ilha de São Miguel, a Lagoa do Fogo é classificada desde 1974 como reserva natural e a coloração profundamente azul da sua água deslumbrou todo o grupo.
Mas a maioria dos participantes não estava realmente à espera do que iria encontrar na Caldeira Velha, um dos monumentos naturais e regionais mais visitados dos Açores, conhecida pela botânica e faunas típicas das florestas da laurissilva e pelas piscinas de banhos em águas termais quentes. A temperatura da águas nas várias piscinais naturais convidava a um banho que teve que ver ‘agendado’ para um regresso à ilha. Houve porém tempo para uma visita ao Centro de Interpretação Ambiental da Caldeira Velha e perceber os valores de paisagem e do espaço natural, os habitats e a diversidade faunística e florística.
Ainda antes do almoço o grupo conheceu e provou outro dos ex-libris gastronómicos da ilha: os afamados licores açorianos. A visita à fábrica e Licores Ezequiel foi feita pelos proprietários, que explicaram detalhadamente os processos de elaboração dos vários tipos de licor que ali se fabricam, com frutas cem por cento açorianas – como a banana, o ananás ou o maracujá – e cortadas à mão. A prova de licores fechou com ‘chave de ouro’ a visita à fábrica e abriu o apetite para o almoço que se seguiu, no restaurante do Campo de Golfe da Batalha.
O EIT em São Miguel não podia terminar sem um passeio pelo centro histórico de Ponta Delgada, que incluiu visitas Às igrejas Matriz e de São francisco e ao Convento da Esperança, que encerra o Santuário do Sr Santo Cristo dos Milagres, da mais elevada devoção para o povo açoriano e um tesouro de arte sacra dos mais importantes do país.
Terminado o XVIII EIT, a opinião era unânime: São Miguel encantou a todos, o programa de visitas superou as expetativas e os participantes concluíram os três dias com relações de amizades que vão perdurar.
“Era o que esperava, a ilha é fantástica e fica-se ‘enamorado’. O grupo é muito animado e a organização impecável. Temos ido a muitos locais no estrangeiro, mas vamos sempre só os dois e aqui, encontramos uma família. Além das belezas que a terra oferece, o facto de virmos inseridos num grupo é especial. Acabamos por ganhar amigos e nunca nos vamos esquecer desta viagem”, afirmou Carlos Carvalho, da África do Sul.
VÍTOR FRAGA – Secretário Regional do Turismo e Transportes do Governo dos Açores
“Os Açores são a porta de entrada da Europa”
“Conseguirmos o que foi feito nos último 16 anos, foi fruto de uma estratégia perfeitamente alinhada, de sabermos claramente para onde queríamos ir e como havíamos de lá chegar”, destacou Vítor Fraga, durante o discurso de boas-vindas dos integrantes do XVIII EIT, proferido no jantar do primeiro dia do evento. O Secretário Regional de Turismo e Transportes dos Açores fez uma breve apresentação sobre o turismo nos Açores, como surgiu, o que pretende desenvolver a Secretaria que comanda e com quem conta.
“À cerca de 16 anos, o turismo nos Açores era algo que praticamente não existia. Nessa altura, o Governo entendeu que o turismo era um dos setores de desenvolvimento da região no qual se deveria apostar para que fosse sustentável e criasse riqueza para a própria região”, recordou o governante, acrescentando que apenas a vontade não basta, sendo Secretário Regional de Turismo e Transportes dos Açores “preciso trabalhar, e muito”.
Revelou que foi preciso dotar os Açores de um conjunto de infra-estruturas que por um lado gerassem uma melhor acessibilidade, lembrando que as nove ilhas estão dotadas de aeroportos, e por outro lado permitissem uma melhor circulação entre todas as ilhas da região. Nesse sentido todas elas têm portos que estão equipados, à exceção do Corvo, com rampas ‘roll on-roll off’ (para circulação dos carros que saem dos ferries), “que permitem a quem chega aos Açores, circular com a sua viatura e percorrer todas as belezas (das ilhas)”, sublinhou. Falando especialmente para os agentes de viagem presentes, Vítor Fraga afirmou que esse trabalho não surgiu “só por parte de governo”, sendo feito “em conjunto com a iniciativa privada”, o que fez surgir entre outros equipamentos, novas unidades hoteleiras que oferecem “serviços de elevada qualidade”.
O governante deixou a promessa de continuar a trabalhar “para melhorar as nossas infra-estruturas e o parque hoteleiro e alinhá-los com a nossa oferta turística que é um turismo de natureza”. “Este caminho só pode ter sucesso se houver um alinhamento claro e objetivo entre o público e o privado”, defendeu. “Conseguirmos o que foi feito nos último 16 anos, foi fruto de uma estratégia perfeitamente alinhada, de sabermos claramente para onde queríamos ir e como havíamos de lá chegar”, acrescentou.
FRANCISCO COELHO – Diretor Executivo do Turismo dos Açores
“As pessoas que nos visitam são os nossos melhores embaixadores”
Para o turismo dos Açores o que representa a vinda deste grupo de portugueses que estão radicados no estrangeiro, mas não integram a diáspora açoriana?
Penso que todas as pessoas que nos visitam e levam a melhor imagem dos Açores, são os nossos melhores embaixadores. Mesmo por isso, penso que ficaram agradadas, gostaram de estar cá e nesse sentido são o melhor do nosso cartão de visitas. É isso que temos que fazer: cada vez apostar mais no turismo de qualidade, com pessoas de nível cultural acima da média e que vêm desfrutar da nossa boa gastronomia, da nossa natureza e da nossa viagem, neste momento virada totalmente para o mundo.
O arquipélago têm num conjunto de países da Europa alguns dos seus melhores mercados emissores de turistas, como referiu o Secretário Regional de Turismo dos Açores. O objetivo é consolidar esses mercados ou há algum novo mercado a surgir?
O nosso objetivo neste momento é de facto consolidar tudo o que temos. Mas penso que não foram os Açores quem foi à procura dos mercados, esses mercados europeus é que estão a procurar cada vez mais os Açores.
O arquipélago este ano foi considerado o destino turístico de maior sustentabilidade em todo o mundo. À cinco anos atrás, a ‘National Geographic’ elegeu o arquipélago dos Açores como as segundas melhores ilhas do mundo para se viver, numa avaliação feita por mais de 500 peritos em turismo sustentável. Há cada vez mais notícias que ligam os Açores à natureza, à sustentabilidade, a tudo o que seja a excelência da natureza e do bem-estar, e por isso também há cada vez mais pessoas a procurarem os Açores.
Ana Grácio Pinto
apinto@mundoportugues.org
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