ADOZINDA DA SILVA: “A participação política da comunidade devia ser maior”

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A participação no II Encontro Mundial de Luso-Eleitos – que decorre de 24 a 26 de outubro em Lisboa e Cascais – é para Adosinda da Silva uma oportunidade de trocar experiências e exemplos de atuação com políticos de origem portuguesa que atuam em outros países. Recorda que já tinha pretendido participar na primeira edição (em 2012), mas por uma questão de agenda não foi possível. “Vai ser excelente poder dialogar com pessoas que vêm de outros horizontes, como França ou os Estados Unidos, por exemplo explicarem como vivem a emigração nesses países. Porque às vezes tem-se uma imagem de emigração diferente de uns países para outros e é bom ver como ocorre a integração, nos diferentes países, tanto a nível social como político”, revela.

Adozinda da Silva não intregra a história ‘tradicional’ da emigração portuguesa, não foi a busca por melhores condições de vida que esteve na razão da sua saída do país. Natural de São Vicente da Raia, freguesia do concelho de Chaves, aos 20 anos foi para a Suíça por ter conhecido em Lisboa, onde estava a estudar, o homem com quem havia de casar. Ele sim, emigrante português que já vivia naquele país e a conheceu durante umas férias em Portugal.
Prosseguiu os estudos na Suíça, e frequentou a Universidade de Lausanne onde se licenciou em Francês, mas não parou por ali. Concluiu depois outra licenciatura, em Matemática, repartindo o tempo entre a universidade, o trabalho e a educação de dois filhos pequenos. “É tudo uma questão de organização” define Adozinda da Silva quando questionada pelo «Mundo Português» sobre a dificuldade que terá tido em conjugar tantas tarefas.
Está há 30 anos na Suíça, perfeitamente integrada cívica e politicamente no Cantão de Vaud, particularmente na cidade onde reside, Lausanne. Até porque a política esteve sempre presente na sua vida.
“Já tinha o bichinho da política em Portugal, mas cheguei muito nova à Suíça e não tinha ainda tomado as minhas decisões definitivas a nível político”, recorda.
Começou por ser militante ativa do Partido Democrata Cristão (PDC) – “por ser aquele que mais se aproximava das minhas ideias”, explica – e em 2004 foi eleita pela direção do PDC, para presidir a secção de Lausanne. “No partido já gostavam muito de mim, mas recebi com uma surpresa a minha eleição para presidente do partido, porque havia muitos mais colegas a candidatarem-se e se calhar até em condições superiores às minhas, com mais visibilidade”, recorda.
Em 2006 – ano em que os portugueses residentes no Cantão de Vaud votaram pela primeira vez para as eleições municipais – Adosinda da Silva candidatou-se à presidência da Câmara de Lausanne.
Não conseguiu o cargo, mas foi eleita para o conselho comunal (assembleia municipal), tendo cumprido o mandato que terminou em 2011. Por outro lado, desde cedo começou a integrar-se nas associações portuguesas e outras entidades. Foi presidente da Federação das Associações Portuguesas na Suíça entre 1998 e 2000, e é a vice-presidente do Partido Social Democrata português na Suíça.
A partir de 2011 assumiu outras funções no PDC, e representa o partido no conselho de gestão de diversas fundações, como a Fundação de Ajuda no Trabalho, a Fundação das Escolas, o Comité para a Televisão e a fundação que gere a Igreja Católica suíça no Cantão de Vaud. “É um cargo político importante a nível de gestão, porque gerimos muitos milhões de francos”, explica Adosinda da Silva.
No seu dia-a-dia tem que conciliar o trabalho nas fundações com a sua carreira profissional. É professora de Matemática e de Informática num colégio secundário e na Haute Ecole Pédagogique de Lausanne e ainda dá formação a professores.
“Sempre gostei muito de ensinar, de transmitir conhecimento”, afirma Adosinda da Silva, mãe de dois rapazes, atualmente com 27 e 22 anos, que falam, leem e escrevem português. “Para mim, seria muito estranho se eles não o fizessem”, brinca, recordando que em casa escreviam textos em português e falavam com os pais na sua língua materna.

Ensino: questão mais importante
Por estar profissionalmente ligada ao ensino, elege-o como a principal questão pela qual se debate e já viu alguns projetos de sua autoria, serem implementados pela autarquia de Lausanne. “Quando me candidatei à câmara, o meu programa referia várias iniciativas que queria por em prática. O vereador do Ensino, apesar de ser de outro partido, aceitou ideias minhas e colocou-as em prática, o que me deixou muito contente. Não fui eleita, mas houve projetos meus que foram implementados e estão a funcionar muito bem”, alegra-se.
Adosinda apresentou propostas para questões ligadas à integração e ao horário de aulas das crianças, que era entrecortado e implantado para crianças de 8, 9 anos. “Foi feito um estudo que concluiu que um horário de aulas contínuo era muito melhor. Percebeu-se que era necessário criar mais creches e centros de apoio a crianças desfavorecidas – alunos cujos pais trabalham todo o dia e entre o meio-dia e as duas horas não tinham onde estar. Agora vão para essas locais de apoio”, explica a luso-eleita.
Essas medidas indicadas por si e já implantadas são motivo de orgulho e de sentido de dever cumprido, e superam o facto de não ter sido eleita. “Os meus filhos dizem-me para não ficar triste por não ter conseguido o cargo, porque o que interessa não é o lugar, é o trabalho que posso fazer. E fico contente só por conta disso”, assegura.

Fraca participação política dos portugueses

Numa região onde os portugueses formam uma importante comunidade estrangeira, Adosinda lamenta a fraca participação cívica e política dos seus conterrâneos. “(A comunidade portuguesa) participa ainda pouco. Participam muito mais a italiana, a espanhola, e outras que, por exemplo, muito mais rapidamente avançam com a naturalização suíça”, exemplifica, acrescentando que a participação politica devia ser maior. “Os portugueses podem candidatar-se e ser eleitos e podem votar nas eleições autárquicas. Muitas vezes aparecem nomes portugueses nas listas candidatas e eles deveriam estar interessados em entrar em contato com essas pessoas e perceber qual é o seu programa eleitoral”, alerta.
Adosinda da Silva acredita que a participação política tornaria os portugueses mais “visíveis” na sociedade suíça e que, apesar de ser uma comunidade “grande” e que está a aumentar, não participa a nível político. “É uma grande comunidade, com muitos jovens, sendo ela própria bastante jovem. É uma comunidade que chegou nos anos 70 e vê agora muitos mais a chegar. E se houvesse pessoas da segunda geração a participarem, eles poderiam ser uma mais-valia para a comunidade, torná-la mais visível”, defende.
Quanto ao seu futuro politico, Adosinda deixa tudo em ‘aberto’. Para além da docência,  militância partidária e do trabalho nas fundações está a planear iniciar um doutoramento em Ciências da Educação, sendo essa a área onde se vê a trabalhar a vários níveis, num futuro próximo, nomeadamente “a participar mais a nível das comissões em Ciências da Educação”. “Vejo-me mais ligada à administração pública na área da Educação, talvez no Ministério da Educação. Mas é um futuro a longo prazo, logo se vê”.

Ana Grácio Pinto
apinto@mundoportugues.org

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