Universidade de Aveiro testa carvão ‘dos índios’ em vinhas da Bairrada

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Uma equipa de investigadores da Universidade de Aveiro está a estudar a possibilidade da utilização de biochar na produção agrícola em Portugal. Trata-se de um tipo de carvão produzido a partir de biomassa que permite reduzir a presença de dióxido de carbono na atmosfera, melhorar o solo e gerar energia limpa durante o seu fabrico.

Também chamado de «terra preta do Índio», por conferir ao solo uma tonalidade escura, este carvão era utilizado pelos índios da Amazónia há milhares de anos atrás para melhorar a qualidade do solo.
O produto foi redescoberto em 2004 por conta dos estudo sobre solos agrícolas de civilizações antigas, realizado por Johannes Lehmann, da Universidade de Cornell.
O investigador apercebeu-se do enorme potencial das “terras pretas” da Amazónia como sequestradoras de carbono e melhoradoras dos solos degradados.
Agora, uma equipa de investigadores do Departamento de Ambiente e Ordenamento (DAO) e do Departamento de Biologia (DBio), organismos que integram o Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM) da Universidade de Aveiro (UA), coordenada pelo especialista em solos Frank Verheijen está a levar a cabo a primeira experiência com o biochar na produção agrícola em território português.
Na Região Demarcada da Bairrada, os investigadores da UA estão a estudar a utilização e impacto do biochar em vinhedos e as experiências vão decorrer durante todo o ano agrícola de 2013. A investigação está a ser feita em colaboração com os projetos VITAQUA e CLIMAFUN (financiados pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia e Programa FEDER-COMPETE),
“Os primeiros resultados de Frank e colegas na equipa de Jacob Keizer, do DÃO, indicam que, para além de efeitos positivos nos nutrientes do solo, o biochar ajuda a melhorar a infiltração e a retenção da água das terras, fatores essenciais no combate à seca e à erosão”, revela um comunicado divulgado pela UA.
Para avaliar a viabilidade deste carvão na diminuição do stress hídrico nas vinhas, os investigadores estão também a monitorizar a fisiologia vegetal ao longo da estação de crescimento de 2013, “um trabalho que tem na equipa da investigadora Glória Pinto, do Departamento de Biologia (DBio) da UA, uma preciosa ajuda”, refere o comunicado.
Para garantir que não são comprometidos a qualidade e funcionamento do solo, com a adição do biochar, Ana Catarina Bastos e colegas da equipa de investigação  de Susana Loureiro, do DBio, centram-se na seleção, adaptação e otimização “de testes ecotoxicológicos, utilizando espécies modelo, para a avaliação do risco ecológico do biochar, nos ecossistemas terrestre e aquático”.
Uma análise efetuada por um colaboração internacional onde se inserem Frank e Ana Catarina, sobre os efeitos do biochar na produção agrícola em geral, indica já um aumento médio de 20 por cento no rendimento das colheitas.
Em relação ao ambiente, a aplicação de biochar nos vinhedos da Bairrada poderá dar uma pequeníssima ajuda para contrariar as alterações climáticas.
“Obviamente que, no caso do biochar ser aplicado em mais larga escala, esta ajuda provavelmente deixaria de ser pequeníssima para ser significativa”, observa Frank Verheijen.

As vantagens do biochar
Fabricado a partir da transformação térmica de biomassa (plantas, resíduos florestais, madeiras ou estrume de animais) em carvão com fraca ou nula presença de oxigénio, o biochar, “é muito diferente do carvão vegetal”, explica Frank Verheijen.
A produção de biochar deve ser feita a temperaturas superiores a 400 graus. Como o carbono do biochar é consumido mais lentamente, comparativamente ao de outras formas de matéria orgânica geralmente usadas para melhoramento dos solos agrícolas, existe um decréscimo da quantidade de dióxido de carbono que é emitida para a atmosfera.
Outra vantagem do uso do biochar prende-se com o seu processo de fabrico, pois deste resultam também outros produtos que podem ser aproveitados para gerar calor, eletricidade e biocombustíveis.
Frank Verheijen sublinha ainda que é possível criar vários tipos de biochar consoante as características de cada solo. O investigador explica que “através da seleção de materiais específicos de biomassa, e ajustando a temperatura e a duração da pirólise, pode-se criar biochars adequados para melhorar as funções ambientais e agronómicas específicas de um determinado solo”.
O interesse neste tipo de carvão tem crescido em todo o mundo e na naior parte dos países da União Europeia (UE) têm vindo a ser criadas empresas produtoras de biochar. “Portugal está um pouco atrás do resto da UE, mas achamos que há potencial para o país acompanhar e conduzir a investigação sobre biochar”, antevê Frank Verheijen.
Mas o cientista defende que as organizações de financiamento “devem perceber o potencial do biochar para algumas das indústrias vitais portuguesas”, como é o caso das ligadas à viticultura e à silvicultura,” e os benefícios sócio-econômicos e climáticos que podem daí advir”.

A.G.P.

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