Os emigrantes portugueses em idade ativa, principalmente aqueles que estão na faixa etária dos 29 aos 39 anos, e que são oriundos de uma zona rural de Portugal, estão predispostos a regressar ao país e investir no setor do turismo. Essa é uma das conclusões do estudo «O regresso dos emigrantes portugueses e o desenvolvimento do turismo em Portugal», realizado pela investigadora Rossana Neves dos Santos, no âmbito de uma tese de doutoramento em Turismo.
Mas foi ao identificar a relação entre as “residencias secundárias” e a emigração portuguesa e ao perceber o potencial de geração de emprego e de rendimento no turismo que teriam, comparativamente a outras áreas da economia nacional, que a investigadora decidiu mudar o tema da tese. “Propus-me a estudar a relação entre a emigração portuguesa e o desenvolvimento do turismo”, contou numa entrevista ao Mundo Português.
Composto por 49 perguntas, o questionário que serviu de base ao estudo «O regresso dos emigrantes portugueses e o desenvolvimento do turismo em Portugal», contou com a participação de 5157 portugueses e luso-descendentes radicados em vários países.
O questionário decorreu entre julho e outubro de 2012 junto das comunidades portuguesas no estrangeiro, sendo que a faixa etária mais participada foi a dos 18 aos 39 anos: representou 54,4 por cento dos inquiridos.
Cerca de metade dos emigrantes portugueses em idade ativa que responderam ao inquérito criado por Rossana Neves dos Santos, afirmou que gostaria de regressar a Portugal, fixar-se no seu local de origem e investir em alguma área do setor do turismo.
Rossana Neves dos Santos sublinhou ao Mundo Português, que a conclusão mais relevante foi ter percebido que emigrantes que ainda trabalham e são relativamente jovens, gostariam de regressar e realizar atividades ligadas ao turismo, nas suas regiões de origem.
“A conclusão mais relevante do estudo é constatar-se que os emigrantes em idade ativa, sobretudo com idades entre 29 e 39 anos, e com residência numa área rural, são os que registam maior propensão para o regresso, investimento e emprego no sector do turismo em Portugal”, explicou a investigadora e autora do estudo, que foi realizado no departamento de Economia, Gestão e Engenharia Industrial da Universidade de Aveiro (UA), tendo como orientador o professor Carlos Costa.
De acordo com um comunicado da UA, os inquiridos desse segmento etário saíram do país na sua maioria entre 2005 e 2011, “têm um tempo de estadia no país de emigração entre 1 a 4 anos, têm espírito empreendedor, um curso superior, capital suficiente para investir e desejam regressar às raízes rurais”.
Metade é originária de áreas
rurais de portugal
Do total dos emigrantes portugueses que responderam ao inquérito, 54,4 por cento têm idade igual ou inferior a 39 anos. Desses, 49 por cento “afirmou que gostaria de regressar a Portugal e fixar-se no local de origem e 29,4 por cento mencionaram também que é uma possibilidade, enquanto apenas 13 por cento negam esse cenário”, revelou a investigadora e membro da unidade de investigação Governança, Competitividade e Políticas Públicas (GOVCOOP) da UA.
Os resultados identificam portugueses mas também luso-descendentes, metade dos quais são oriundos de zonas rurais de Portugal. A possibilidade de regressaram a locais onde terão um nível de vida mais tranquilo e maiores possibilidades de exercer uma atividade por conta própria na área do turismo, foram os principais motivos revelados pelos mais de cinco mil participantes no inquérito.
“Poderem regressar com os filhos, terem um estilo de vida rural e exercerem uma atividade remunerada por conta própria na área do turismo” são fatores que influenciam a vontade de regressar a Portugal, revelou Rossana Neves dos Santos.
A investigadora que é também coordenadora da licenciatura em Turismo no ISLA Gaia, acrescentou entretato que o emprego nesta área “depende, sobretudo, da sua influência nas decisões da comunidade, da existência de infraestruturas de lazer/recreio no local de origem e da necessidade de segurança”.
A conclusão do estudo permitiu saber que a “hotelaria e outros serviços de alojamento, restauração e serviços recreativos e outros serviços de lazer” são as áreas de negócios nas quais estes portugueses residentes no estrangeiro gostariam de «apostar» no seu regresso a Portugal. “Penso que o número de respostas obtidas evidencia a predisposição dos emigrantes portugueses para materializarem projetos em Portugal”, sendo o turismo “a área onde mais gostariam de se ligar profissionalmente”, destacou a investigadora que não se surprendeu como o perfil sócio-económico dos participantes no questionário.
“À semelhança da informação encontrada antes da aplicação do inquérito, o actual perfil sócio-económico dos emigrantes portugueses não me surpreendeu, após a análise dos dados. Os emigrantes portugueses em idade ativa são, no geral, pessoas com formação de nível superior e têm experiência profissional”, explicou.
O que a surpreendeu foi perceber que esses emigrantes “que dispõem de capital para investir” são os que têm “residência numa área rural ou carenciada”. Anteriormente, em diclarações divulgadas no comunicado emitido pela UA, Rossana Neves dos Santos defendia que o regresso destes emigrantes e o seu investimento no setor do turismo “podem contribuir para aumentar e inovar a oferta turística, bem como para aumentar a procura turística em Portugal”. Até porque, são os emigrantes oriundos dos meios rurais, aqueles que “mais referem ter uma residência própria, no local de origem, com potencial valor patrimonial cultural, e aceitar vir a alugar quartos a turistas nessa residência”.
Residências poderão ser “património cultural”
Essas mesmas casas têm um forte potencial de virem a ser consideradas como património cultural, defende ainda a investigadora explicando que os emigrantes que residem há mais tempo no estrangeiro, consideram as residências na terra natal como aquelas que representam verdadeiramente a sua cultura lusa.
“Há dados empíricos que evidenciam uma identidade cultural entre os emigrantes portugueses, nomeadamente aqueles com idade mais avançada, que consideram a sua cultura como sendo portuguesa e a residência construída de raiz no concelho de origem, como a sua verdadeira casa e uma representação da sua cultura portuguesa”, revelou. Para Rossana Neves dos Santos, isto significa que algumas dessas residências construídas de raiz a partir da década de 60, “têm forte potencial para virem a ser consideradas património cultural em Portugal – à semelhança do que já aconteceu com as designadas casas dos ‘brasileiros’”.
Os resultados do estudo serão publicados num livro que terá como tema «Turismo e Emigração» e que vai ser editado ainda este ano.