Fomos descobrir a verdadeira “Beirais” da série televisiva…

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«Bem-vindos a Beirais» é uma  série do Canal 1 da RTP que diariamente é visto por uma média de 340 mil espectadores e que está entre os 10 programas mais vistos. Resultados que fizeram a RTP alargar os 80 episódios inicialmente previstos para 100. Vêm aí a segunda série, que volta a ter o Carvalhal como cenário. Sim, a freguesia do Carvalhal, concelho do Bombarral, é a verdadeira Beirais, aquela que muitos pensam ser uma aldeia qualquer no Minho. As paisagens envolventes foram filmadas na Lousã e as quedas de água, nas “Fisgas do Ermelo”, essas sim localizadas em de Mondim de Basto.

«Bem-vindos a Beirais» aborda, de uma forma bem-humorada, as diferenças entre o interior e as grandes cidades, não esquecendo, contudo, as realidades mais duras e muito familiares a todos nós, como seja o desemprego, a desertificação ou a solidão na terceira idade.
Não foi por acaso que o Carvalhal, paredes meias com o “Buda Eden” de Joe Berardo (da Bacalhôa Vinhos) e “pátria” da pêra rocha, e dos vinhos de denominação de origem “Lisboa”, foi  a aldeia escolhido para rodar a novela. Uma aldeia que é sede de freguesia, de ruas calcetadas, muito limpinha e arrumada, com muitas casas contíguas e um povo simples e hospitaleiro. 
João Mendonça, de 49 anos, é o presidente orgulhoso da Junta de Freguesia do Carvalhal, e não o presidente de junta que um ator encarna na novela. Foi abordado depois dos realizadores terem visto e gostado da aldeia, isto em Abril deste ano e logo aceitou ceder as ruas da aldeia e a Junta de Freguesia (sede da colectividade, na série).
A partir daqui acabou-se o “sossego” da aldeia, cujos moradores vivem da agricultura, mas está tudo feliz pela rodagem da série, já que uma das condições impostas pelo presidente da Junta foi os naturais da terra serem figurantes. E com a novela todos ganham dinheiro: os figurantes e os proprietários das casa – por vezes apenas por as fachadas serem filmadas. Quatrocentos euros recebe cada um pela fachada da sua casa a aparecer no ecrã, dizem-nos, mas da igreja só aparece a fachada já que a sacristia é rodado noutra igreja ali bem perto e a “Casa da Aldeia” existe mesmo!
O largo do Santíssimo, frente à Igreja e com o pelourinho, passou a contar com duas fachadas novas, uma agência funerária onde os atores Miguel Dias e Heitor Lourenço nos habituaram com “cenas de negócios pouco claros” e uma mercearia, mas ali nada se vende nem ninguém pergunta por caixões – são meros cenários da série de TV. 
“Temo-nos divertido muito. São todos simpáticos. Sou figurante e já me vesti de Amália Rodrigues, veja lá”, conta Graça Carvalho, de 69 anos que já teve uma mercearia e que agora na antiga mercearia vê Noémia Costa a ser “merceeira”, mãe do estilista, esposa do mecânico.
João Mendonça não podia estar mais satisfeito com a escolha da aldeia do Carvalhal, por ventura a mais bonita do concelho do Bombarral, segundo diz, para cenário da série. “Ao princípio houve quem se incomodasse. Não queriam confusões e houve quem não gostasse de ver chamar ‘Beirais’ à nossa aldeia. Mas hoje toda a gente está contente.” Todos ganham dinheiro, e que o diga o proprietário dos dois magníficos restaurantes o Lagar e a Mãe d`Agua que ficam nas aldeias limítrofes. Tudo ajuda à economia desta região, e a deixá-la mais conhecida. E está somente a 70 Km de Lisboa.

Onde é a queda de água?
Agora, a aldeia tem quase tantas visitas como as estátuas dos budas no “Buda Eden”.
De um momento para o outro, começaram a desaguar na freguesia dezenas de visitantes que, sobretudo ao fim de semana, querem conhecer o cenário verdadeiro da ficção televisiva. Mas a produtora responsável pela série, montou um ardil que tem levado muitos ao engano.
“Uma das primeiras coisas que perguntam é onde está a cascata e o lago onde se pode tomar banho. Só que essas cenas foram gravadas no Minho e Lousã, dizem-nos os moradores e os interiores são feitos em estúdios. No Carvalhal rodam sim os exteriores. Depois, as imagens da série que cativa os portugueses são montadas em estúdio.  Fruto da condição que o presidente da junta impôs para que a maior parte dos figurantes fosse gente da terra, o senhor António Branco, de 65 anos, estava a inscrever as netas quando lhe disseram que também ele tinha lugar em ‘Beirais’.  “Disseram-me que precisavam de pessoas da minha idade e lá me inscrevi. É muito bom, pagam-nos 25 euros por dia, mais as refeições. Isto foi o melhor que aconteceu à freguesia”, afirma.
A sua carrinha de caixa aberta, a Peugeot já com muitos anos e quilómetros feitos nesta região do Oeste aparece em vários episódios. “Ainda me dão uns 50 euros por dia por usarem a carrinha, só não me deram nada pelo gato que aparece que é meu, mas em contrapartida os atores adoptaram um cão sem dono que foi logo baptizado de Beirais. Todos ganhamos com a novela, eles pagam tudo”, alegra-se. 

Fazem-nos sentir bem-vindos
Segundo a equipa produtora e os atores, as pessoas da aldeia são muito afáveis. Sentem muito orgulho na série e “fazem-nos sentir bem-vindos”.  Carvalhal é uma freguesia de três mil eleitores. Diz-nos o presidente da Junta, que quando assumiu o cargo, há oito anos, “tínhamos 145 alunos nas escolas”. “Agora são 108. Todas as escolas vão fechar. No próximo ano letivo todas as crianças vão ter aulas no Bombarral”, revela, explicando que a Junta oferece 150 euros por cada criança que ali nasça.
A riqueza económica da terra são os pomares de pêra-rocha. “É o nosso ouro”, conta Carlos Pereira, agricultor de 60 anos. A seguir à pêra está o cultivo da vinha, que produz vinhos de excelência que a CVR de Lisboa certifica. No global, 60% são exportados e nos mercados internacionais mercê dos prémios alcançados são os vinhos que apresentam melhor qualidade/preço.
Estamos perante uma região turística, perto do mar, onde cada palmo de terra é cultivado e com uma diversidade de aldeias, como o Carvalhal que cativam realizadores televisivos e são escolhidas para muitos estrangeiros viverem. 
Face aos “indicadores positivos”, «Bem-vindo a Beirais» está em horário nobre da estação pública e acaba de ganhar mais vinte episódios e manter-se na antena da RTP1 até finais de Setembro.
No dia da nossa visita o Carvalhal que anda na azáfama da apanha da pêra a que se seguirão as vindimas – este ano com ligeiro atraso, na maturação das uvas – já começou a receber novamente os atores que estiveram o mês de Agosto de férias.
Excelentes notícias para Feliciana Fonseca, de 77 anos, dona do único café da aldeia, com mercearia anexa. “Eles fartam-se de trabalhar. São muito simpáticos, passam todos aqui pelo café”, revela. À saída da aldeia, o restaurante Supatra oferece aos visitantes o melhor da cozinha tailandesa. Humberto Silva, de 57 anos, explica. “Sou daqui, mas emigrei para Londres muito novo, onde trabalhei em hotéis e restaurantes. Foi lá que conheci a minha mulher, que é tailandesa”. Em 1991 voltou a Portugal e abriu o restaurante tailandês, nas Caldas da Rainha. Fechou há quatro anos e depois veio viver para o Carvalhal. O que os fez abrir o novo restaurante refere foi “o embaixador da Tailândia ter-lhe pedido para abrir outra vez o restaurante porque não tinha onde saborear a comida do seu país.” Um antigo lagar foi remodelado e o restaurante tem captado velhos e novos clientes.
Nesta região há muitas casas de fim de semana, e não só de portugueses. Uma empresa irlandesa construiu uma série de vivendas que acolhem turistas, britânicos e não só.  Com Óbidos bem perto, o mar e o sossego, quem não se apaixona por este mundo rural a menos de uma hora de Lisboa?
«Bem-vindos a Beirais» aborda, de uma forma bem-humorada, as diferenças entre o interior e as grandes cidades, não esquecendo, contudo, as realidades mais duras e muito familiares a todos nós, como seja o desemprego, a desertificação ou a solidão na terceira idade. Será que uma série televisiva pode vir a contribuir para que nos arredores das grandes e médias cidades muitos pensem em regressar ao meio rural ou investir em segunda casa? Certamente que dá uma ajuda e os telespectadores renderam-se a uma “série” televisiva que não é uma novela, mas que se baseia em histórias que bem serão certamente as histórias de vida do povo português…
António Freitas

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