O Departamento de Engenharia Civil da Universidade de Aveiro (UA) está a investigar o grau de destruição que um sismo pode causar em edifícios de adobe em Portugal, país em que boa parte das construções são feitas daquele material à base de terra crua. Para já, os resultados permitiram saber que muitas intervenções de reabilitação dos edifícios “tinham uma abordagem inadequada por falta de informação sobre o comportamento das estruturas de adobe”, revelou Humberto Varum, especialista na área de reabilitação e da sísmica na UA.
Num país em que boa parte das construções são feitas daquele material à base de terra crua, os dados da UA são disponibilizados à comunidade técnica e às autarquias para que estas possam desenvolver ações de reabilitação mais corretas dos edifícios, muitos dos quais de valor histórico.
Os mais recentes testes de simulação sísmica, foram realizados numa pequena habitação construída em adobe no próprio laboratório do DECivil, e permitiram aos investigadores estudar o comportamento das várias paredes do edifício em pleno terramoto. “Deslocamentos do edifício, fissuras na estrutura e a evolução dos danos ao longo do abalo provocado por braços hidráulicos até ao colapso da habitação deram à equipa do DECivil os dados necessários para calibrar modelos numéricos que vão simular virtualmente o comportamento num cenário sísmico de qualquer edifício real construído em adobe”, explica a UA num comunicado à imprensa.
Na posse destes dados, não só os edifícios podem sofrer intervenções de reforço estrutural que minimizem o impacto de um possível sismo, como também, se o abalo acontecer, é possível perceber qual a melhor forma de as recuperar e reforçar.
Até agora, muitas intervenções de reabilitação dos edifícios “tinham uma abordagem inadequada por falta de informação sobre o comportamento das estruturas de adobe”, aponta Humberto Varum, especialista na área de reabilitação e da sísmica do DECivil. O coordenador do estudo refere as inúmeras intervenções excessivamente intrusivas e as demolições de edifícios emblemáticos que poderiam ter sido evitadas com as técnicas de reabilitação estudadas pela equipa de investigação da UA.
Adobe usado em todo o mundo
A grande mancha da construção em adobe estende-se pela Beira Litoral e pelos concelhos de Santarém e Tomar. “Temos, por exemplo, muitos municípios no distrito de Aveiro onde as construções anteriores ao uso do betão armado são praticamente todas de adobe. É o caso particular das duas freguesias da cidade de Aveiro e de concelhos como Anadia, Vagos, Murtosa e Ílhavo”, explica Humberto Varum. A maior parte desses edifícios foram construídos em finais do século XIX e na primeira metade do século XX, numa “lógica afastada das preocupações com a segurança sísmica que temos hoje em dia”.
Globalmente, diz o investigador, cerca de um terço da população mundial vive em habitações feitas de terra. “Muitas dessas zonas, onde existe uma densidade importante de construções de terra, são locais onde o nível de perigosidade sísmica é moderado ou elevado”, alerta Humberto Varum. Por isso, os resultados dos estudos efetuados no Departamento de Engenharia Civil da UA têm um interesse além fronteiras até porque, para além da academia de Aveiro, apenas a Pontifícia Universidade Católica do Peru tem estudado a relação sismos/construções de adobe.
O DECivil tem já em carteira uma lista de técnicas de reforço estrutural que permitem impor às construções de adobe níveis de segurança sísmica mais elevados. “Cada casa é um caso mas todas as técnicas passam pela melhoria das propriedades das próprias paredes e/ou da forma como interagem no conjunto”, revela o comunicado. Embeber na argamassa de reboco uma malha de reforço para dar ao material uma boa resistência em tração e corte e melhorar o comportamento do conjunto dos elementos que compõe a estrutura são algumas das soluções que o DECivil tem estudado com sucesso.