Um processo inovador que será capaz de diminuir o tempo de transformação do bacalhau «verde» em bacalhau salgado seco, a criação de um novo biocombustível a partir microalgas existentes na costa portuguesa ou o fabrico de um dispositivo capaz de fazer a infusão de soros ou plasma sanguíneo à temperatura próxima do corpo do paciente, são alguns dos projetos de investigação que estão a ser desenvolvidos no Departamento de Engenharia Mecânica (DEM) da Universidade de Aveiro. Com mais de 350 alunos, 70 investigadores e 64 doutorandos – dos quais quase 50 por cento são estrangeiros, o DEM está em fase de internacionalização.
Fundada em 1973, a Universidade de Aveiro (UA) é um dos estabelecimentos de ensino superior de referência em Portugal. Em 2011 foi considerada uma das melhores universidades da Europa e a melhor de Portugal, segundo o ranking da revista britânica Times Higher Education (THE). Para essa classificação teve grande importância a alta qualidade da investigação que é desenvolvida naquela universidade, para além do seu corpo docente e das suas infraestruturas.
O Departamento de Engenharia Mecânica concentra uma boa parte dos projetos de investigação da UA. Com 35 docentes, 357 alunos de mestrado integrado, 64 doutorandos e mais de 70 investigadores, é o segundo departamento em termos de dimensão na área da engenharia e integra o TEMA, “onde se desenvolvem projetos em áreas como a energia aplicada, a biomecânica, a nanotecnologia, o desenvolvimento de software e a tecnologia de transportes, entre outras”, revelou Vítor Neto, investigador Pós-Doutoramento no TEMA.
Inovação em várias áreas
O TEMA concentra boa parte da investigação realizada no Departamento de Engenharia Mecânica. Projetos como o EnerBioAlgae, que pretende possibilitar a produção de biodiesel a partir de microalgas existentes na costa. Uma das variedades em análise existe no rio Vouga. Patrocinado por fundos da Interreg, integra o programa Sudoeste Europeu e é desenvolvido por um consórcio de universidades formado pelas Universidades de Aveiro (Portugal) Vigo e de Almería (Espanha), o Instituto Energético da Galiza (Espanha) e a Universidade de Pau (França).
“É um projeto interessante que deverá estar concluído no final do ano. Já foram identificadas espécies de microalgas que podem ser utilizadas na produção de biodiesel, foram cultivadas várias espécies aqui e nas universidades de Vigo e de Almería. Conseguimos já obter um combustível que tem características técnicas muito interessantes para que possa vir a ser explorado”, explicou a este jornal o professor doutor Fernando José Neto da Silva, coordenador da Comissão para a Transferência do Conhecimento e Tecnologia, e um dos responsáveis pela investigação.
Para outubro está previsto o início de outro projeto que, a ser bem-sucedido, será muito benéfico para a indústria corticeira nacional, já que em estudo estará um mecanismo que aumente a capacidade de produção de rolhas a partir de aglomerado de cortiça (utilizadas para os vinhos correntes), “recorrendo a uma tecnologia que seja mais eficiente do ponto de vista energético”, avançou o professor Fernando Neto da Silva. “O que pretendemos é contribuir para o desenvolvimento de um equipamento que permita não só aumentar a capacidade de produção, mas fazê-lo com menos riscos, particularmente o risco de incêndios, muito presente neste área. E que seja, do ponto de vista energético, mais eficiente”, acrescentou. O projeto será desenvolvido juntamente com duas empresas da região de Aveiro, e a criação de parcerias com o meio empresarial já não é a exceção à regra. As parcerias com empresas portuguesas são cada vez mais uma realidade para o DEM e a própria Universidade num todo.
“Há progressos assinaláveis em relação ao panorama que tínhamos há 10 anos atrás”, assinala Fernando Neto da Silva, acrescentando que o departamento é cada vez mais solicitado pelas empresas para o desenvolvimento de projetos que permitam ultrapassar problemas com que as empresas se confrontam. “Estamos a falar de pequenas e médias empresas que não têm grande visibilidade, mas que estão conscientes de que se não derem um salto em frente em termos de inovação cada vez terão menos importância em termos futuros”, sublinhou o professor e investigador.
Para o professor António Mendes Sousa as parcerias com a sociedade civil e o meio empresarial são um fator muito importante para o sucesso de um projeto de investigação. “Temos um variado número de projetos e muitos deles com sucesso”, sublinhou o professor catedrático, que apontou ainda outro fator preponderante para o futuro do Departamento de Engenharia Mecânica da UA: a sua internacionalização, que já começou com o significativo número de investigadores e doutorandos estrangeiros que atualmente o integram. “Neste momento, o número de doutorandos estrangeiros no Departamento de Mecânica está próximo dos 50 por cento, revelou, lembrando que no meio científico, “as citações do trabalho de cada um, é um dos fatores de indicação de qualidade de uma universidade”. “Se utilizarmos esse parâmetro como medida, neste momento o Departamento de Mecânica da Universidade de Aveiro está entre os 110 melhores do mundo. E este departamento é muito «jovem»”, destacou ainda o diretor do DEM.
O Departamento tem já uma colaboração com Luxemburgo e está a estudar acordos com universidades do Canadá, da América Latina e dos Palop, no sentido de trazer alunos desses países. O Departamento costuma ter luso-descendentes entre os alunos, doutorandos e investigadores, como é o caso de Víctor Neto, que nasceu nos Estados Unidos. E estes serão sempre bem-vindos, como sublinhou o seu diretor.
“Mais interessante ainda é que há a possibilidade de darmos doutoramentos europeus, válidos em todo o espaço da União Europeia. E o candidato só tem que ter passado algum tempo em outra instituição de ensino superior da União Europeia”, revelou.
Otimização da secagem do bacalhau | Atlascar: o carro autónomo… |
A otimização do processo de transformação do bacalhau «verde» em bacalhau salgado seco, um dos ex-libris da gastronomia portuguesa, é o objetivo de um projeto de investigação desenvolvido no Centro de Tecnologia Mecânica e Automação (TEMA) do Departamento de Engenharia Mecânica. Primeiro, criaram um modelo de secagem do bacalhau que permite prever a perda de humidade ao longo do tempo, em função das condições exteriores. O segundo passo foi desenvolver um algoritmo de controlo dos equipamentos que permitisse fazer um controlo mais preciso da instalação, explicou o professor Fernando Neto da Silva. O objetivo é reduzir os elevados custos energéticos suportados pelos industriais, durante o processo de secagem. A próxima fase será «tirar» a investigação do laboratório e transpô-la para uma escala industrial. Para tal, o TEMA realizou já contactos com a Associação dos Industriais do Bacalhau e com empresas do setor. | Em desenvolvimento há anos, o Atlascar é o protótipo de um projeto que visa auxiliar os condutores, reduzindo a sinistralidade rodoviária. “A evolução desde os pequenos robôs até aos pequenos carros para as competições internacionais, resultou num projeto de automóvel equipado com sensores que poderá detetar outros veículos, o caminho, as pessoas que se aproximam e andar sozinho na estrada”, explicou Victor Neto. O sistema foi montado num Ford Escort e testado com sucesso. “Funciona tal e qual um carro normal, mas é comandado por um computador, que faz a aquisição de todos os sinais e parâmetros exteriores e que vai atuar no volante, acelerador, travão, caixa de velocidades, para dar as instruções ao carro”. |
Ana Grácio Pinto
apinto@mundoportugues.org
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