Centro de investigação em Portugal desvenda segredos da resistência dos cafezais

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É em pouco mais de meio hectare, num campo agrícola encravado entre prédios na vila de Oeiras, que há mais de 55 anos são desvendados os segredos da resistência dos cafezais. No Centro de Investigação das Ferrugens do Cafeeiro (CIFC), o objetivo principal dos investigadores tem sido o de contribuir para o desenvolvimento de plantas de cafeeiro com resistência duradoura às principais doenças que as afetam – a ferrugem alaranjada e antracnose dos frutos verdes.

Criado em 1955 pelo professor Branquinho de Oliveira, o CIFC centraliza, a nível internacional, as investigações sobre a ferrugem do cafeeiro fora das zonas produtoras do café, sem o perigo de contaminar culturas com novas doenças ou novas raças desses parasitas.
A obtenção de plantas de cafeeiros resistentes tem sido um dos principais objetivos do Centro, cujas atividades de investigação em cooperação com países cafeicultores, resultaram já na produção de variedades comerciais resistentes. “Não há outro lugar no mundo onde se faça um trabalho como este”, garantiu à Lusa o engenheiro agrónomo Vítor Várzea, 55 anos, um dos principais cientistas da dezena de investigadores que mantém e desenvolve o projeto iniciado há pouco mais de meio século.
Num país que não produz os grãos com que se faz a bebida mais consumida no mundo a seguir à água, acabou por se desenvolver o conhecimento científico que impediu a repetição de catástrofes como a que ocorreu no final do século XIX no Ceilão, atual Sri Lanka, quando a ferrugem do cafeeiro destruiu por completo a principal produção agrícola do país, levando-o à bancarrota.
Plantas de centenas de diferentes espécies, tamanhos e colorações distribuem-se pelo complexo de estufas com uma área equivalente a três quartos de um campo de futebol, que reproduz o calor e o ar carregado de humidade indispensável ao sucesso dos cafeeiros.
Na China e na Tailândia, a maioria dos cafezais nasceram de sementes produzidas no CIFC e, no Brasil, foi até dado o nome «Oeiras» a uma variedade de café em homenagem ao centro de investigação português, conta Vítor Várzea durante a visita guiada às instalações do centro, integrado no Instituto de Investigação Científica e Tropical. “Mais de 90 por cento do café produzido no mundo por espécies resistentes à ferrugem resultaram de sementes produzidas aqui”, assegura o engenheiro que foi, por acaso, fazer o estágio final do curso de agronomia no Centro, há 28 anos, e por lá ficou a trabalhar.
Como no ditado segundo o qual há males que vêm por bem, foi essa doença, causada por um fungo alaranjado, por vezes fatal para os cafeeiros, que deu a fama mundial que o CIFC apresenta na atualidade. Em 1951, o investigador agrónomo António Branquinho de Oliveira, parente do ditador Oliveira Salazar, foi enviado a S. Tomé e Príncipe para ajudar a combater a doença que atingia os cacaueiros do arquipélago, mas voltaria de lá com uma série de plantas de café com umas manchas parecidas com ferrugem que começou por investigar no tempo que lhe restava do trabalho habitual.
Quatro anos depois, numa altura em que a doença começava a ganhar proporções e a ameaçar os maiores produtores mundiais de café, na América do Sul, os Estados Unidos decidiram procurar solução para o problema e mandataram dois investigadores para o fazer.
A dupla de norte-americanos – um deles, Frederic Wellman, nascido quando os pais viviam em Angola – acabaram em Oeiras, por razões que Vítor Várzea diz não constarem nos relatos da época, e a concluir que a estrutura que se propunham criar já existia nos arredores de Lisboa. Um acordo entre os dois países firmado logo na altura permitiu construir o complexo que prevalece no vale, junto à ribeira de Oeiras, à exceção do edifício de serviços de apoio e laboratório, inaugurado em 1991. Poucos anos depois já saíam do CIFC, para os países produtores, sementes de plantas resistentes à ferrugem, poupando os agricultores e o ambiente aos custos dos pesticidas usados quando a praga se instala para que as colheitas não se percam.
A história do CIFC é constituída por vários episódios curiosos, começando logo pela verba que permitiu a sua construção, proveniente do Plano Marshall com que os Estados Unidos financiaram a reconstrução da Europa depois de II Grande Guerra Mundial. Ainda antes, já a Índia, de relações cortadas com Lisboa devido ao conflito sobre as colónias portuguesas naquele subcontinente, era para Lisboa que mandava os cafeeiros infetados com ferrugem, através dos Estados Unidos e da Etiópia.
Passados mais de 50 anos, o CIFC tem desenvolvido um papel central nesta doença e mais recentemente na antracnose dos frutos do cafeeiro, através da criação de uma rede de investigação internacional, que inclui mais de 40 países cafeicultores.

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