Estão alguns meses a decorrer na região alentejana de Montemor-o-novo, sondagens para pesquisar ouro no subsolo. A empresa canadiana Colt Resources, que desenvolve as prospeções, indica que uma estimativa independente aponta para concentrações daquele metal na ordem das 1,57 gramas por tonelada, na zona de Boa-Fé (Évora). Estivemos em Boa Fé e Casas Novas e os moradores tem esperança que estas descobertas alterem o rumo da vida na terra…
“Boa Fé” é uma freguesia com meia dúzia de casas, uma bonita igreja, cuja sede da Junta fica na aldeia vizinha “Casas Novas” e a prospeção é num monte, cuja entrada é particular e de entradas não permitidas. Os moradores contatados são cépticos, uns acreditam que estas descobertas vai ser a salvação de uma terra pequena, outros só acreditam vendo, mas nenhum quer dar a cara. Todos se conhecem e ultimamente a povoação é muito visitada por jornalistas. A empresa canadiana Colt Resources, através de uma “joint-venture” com a Iberian Resources, assinou com o Governo português, em novembro do ano passado, um acordo para a concessão experimental de ouro nas freguesias de Santiago do Escoural (Montemor-o-Novo) e de Nossa Senhora da Boa-Fé (Évora).
O acordo prevê um investimento de três milhões de euros, durante três anos, tendo a empresa também já divulgado que admite que a extração industrial de ouro no Alentejo possa vir a começar em 2014.
Segundo notícias vindas a público e difundidas pela agência Lusa a estimativa inicial de recursos, em ouro feita pela empresa independente SRK Consulting, para os depósitos da Chaminé e de Casas Novas, inseridos no projeto de prospeção de ouro na Boa-Fé, concelho de Évora, estimam que os recursos minerais (toda a jazida, incluindo a terra, rocha ou outros componentes) rondem os 4,23 milhões de toneladas, sendo a concentração de ouro indicada em 1,57 gramas por tonelada.
A Colt Resources, refere em comunicado “ainda que os dados desta empresa independente indicam que em “209 mil toneladas” adicionais a concentração de ouro estimada pode ser superior, atingindo as 2,36 gramas por tonelada e salienta “estamos muito satisfeitos com esta estimativa inicial, que reflete o trabalho realizado nos dois primeiros alvos de prospeção em que concentrámos os nossos esforços, afirma, no comunicado, o Chief Executive Officer (CEO) da Colt Resources, Nikolas Perrault.
A empresa reuniu “uma forte equipa de profissionais”, que inclui geólogos e engenheiros de minas, e implementou “os sistemas necessários para, de forma eficiente, explorar e definir os recursos” ao longo da faixa de mineralização, cuja extensão se estima ter 30 quilómetros. Numa altura em que a Colt Resources pretende avançar com a fase do projeto da Boa-Fé, ao mesmo tempo que procede à exploração regional na zona de Montemor-o-Novo, o responsável da empresa afirma a sua confiança. “Estamos confiantes de que o vamos fazer a partir de uma fundação sólida e de que o projeto de exploração de ouroa Boa-Fé/Montemor vai evoluir para um distrito mineiro de nível mundial”, afiançou.
Teores por tonelada são “bons”
Os teores médios de concentração de ouro por tonelada na zona alentejana da Boa-Fé (Évora) divulgados pela Colt Resources, são “bons”, devido à elevada cotação daquele metal, garantiu um geólogo da Universidade de Évora. “Para a atual conjuntura, são teores bons, sem dúvida”, afiançou à Agência Lusa Luís Lopes, professor da academia alentejana, onde dirige o curso de Engenharia Geológica, após a divulgação das estimativas iniciais dos recursos nestes dois depósitos Chaminé e Casas Novas/Boa Fé).
A Colt Resources refere que os dados desta empresa independente apontam que, adicionalmente, em “209 mil toneladas”, a concentração de ouro estimada pode mesmo atingir uma média de 2,36 gramas por tonelada. Segundo o geólogo Luís Lopes, estes dados “confirmam” o que a empresa canadiana apresentou “há um mês”, quando divulgou que as perfurações na zona da Boa-Fé estavam a evidenciar níveis “impressionantes” de teor daquele metal precioso, “perto da superfície”. “Já tinham indicação de que estes valores iam ‘sair’. Agora foram divulgados e validados por um laboratório independente”, sublinhou.
Para o professor da Universidade de Évora, atendendo aos atuais preços do ouro, estas concentrações médias estimadas dão viabilidade a uma futura exploração industrial. No futuro, “acredito que avancem com a exploração industrial”, porque “o preço do ouro está muito elevado”, o que torna vantajosos os custos de produção, disse. “Como conseguem vender muito alto, nesta altura, quer dizer que gastam menos a explorar, ou seja, é um balanço económico que ainda dá lucro, no fim dos gastos que têm”, explicou.
O geólogo insistiu que, se a empresa decidir avançar com a extração de ouro “nas condições em que disse” que esta poderia vir a concretizar-se, isto é, “a céu aberto”, o projeto industrial tem “pernas para andar”. “Penso que ainda estejam a pensar que a exploração, numa primeira fase, seja a céu aberto, o que tem custos menores do que abrir galerias ou segurá-las. Se começarem a extrair a céu aberto e começarem a ganhar, já justifica”, argumentou.
* com Lusa