França/Legislativas: Três luso descendentes foram eleitos para a Assembleia Nacional francesa

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São luso descendentes três dos mais de 500 deputados eleitos no dia 17 deste mês para a Assembleia Nacional francesa são luso-descendentes, anunciaram as associações Cívica e Ativa, que reúnem eleitos portugueses e luso-franceses em França. Christine Pires Beaune e Carlos da Silva, ambos do Partido Socialista e Patrice Carvalho, do Partido Comunista Francês, vão ocupar três lugares na Assembleia Nacional de França…

A eleição de três luso-descendentes para a Assembleia Nacional francesa, demonstra uma evolução, (e também) a capacidade interventiva da comunidade portuguesa nas questões da participação democrática em França”, sublinhou à agência Lusa Paulo Marques, presidente da Cívica (Associação de Autarcas Portugueses em França).
Já para o presidente da Activa – Grupo de Amizade França Portugal, a presença de Christine Pires Beaune, Carlos da Silva e Patrice Carvalho na Assembleia Nacional francesa, “marca uma data importante na história dos portugueses em França”. “Tendo em conta a velocidade relativamente fraca da visibilidade política (dos luso-descendentes em França), o dia 17 de junho marca uma data importante na história dos portugueses neste país”, afirmou Hermano Sanches Ruivo à Lusa.
Três dos mais de 500 deputados eleitos para a Assembleia Nacional francesa são luso-descendentes: Christine Pires Beaune (PS), Patrice Carvalho (PCF) e Carlos da Silva (PS).
A socialista Christine Pires Beaune, de 47 anos, foi eleita na segunda circunscrição de Puy-de-Dôme (a 500 quilómetros a sul de Paris), com 59,5 por cento dos votos, derrotando o candidato da direita (União para um Movimento Popular).
O comunista Patrice Carvalho, de 59 anos, que concorria na sexta circunscrição do Oise (a 110 quilómetros a norte de Paris), foi eleito com 42,7 por cento dos votos, vencendo o candidato da direita (36,9) e o candidato da extrema-direita (20,3 por cento). Este será o segundo mandato de Patrice Carvalho na Assembleia Nacional francesa.
O socialista Carlos da Silva, de 37 anos, que era o “número dois” do ministro do Interior, Manuel Valls, entrou também no parlamento. Valls, que concorria na primeira circunscrição de Essonnes, nos subúrbios de Paris, venceu a candidata da UMP, a também luso-descendente Cristela de Oliveira, com 65,5 por cento dos votos. Como Valls é membro do Governo, é Carlos da Silva, suplente, assume o lugar de deputado.
Christine Pires Beaune, é uma deputada luso-descendente “orgulhosa”. Em declarações à agência Lusa feitas dois dias antes da segunda volta das eleições, recordava que se fosse eleita deputada, estaria entre os primeiros filhos de portugueses emigrantes em França nas gerações de 1960-80 a sentarem-se na Assembleia Nacional. Os pais de Christine são naturais de Casal de Cinzas, perto da Guarda, foram para França nos anos 60. A mãe trabalhou como empregada doméstica, o pai como operário metalúrgico. Ela nasceu, cresceu e estudou no novo país da família. Fala, admitiu, “muito mal português”. “Tenho a vantagem de ter dois países e duas culturas, e tenho, claro, uma sensibilidade maior para os problemas dos portugueses. Mas, embora tenha muito orgulho nas minhas origens, é preciso dizer que esta não é uma candidatura da comunidade portuguesa”, contou.
A candidata, conselheira municipal em Volvic, uma cidade com uma forte presença portuguesa, considerou que dar este passo até à Assembleia Nacional é “normal, depois de 20 anos de vida política”. Christine Pires Beaune quer trabalhar na área das finanças e da fiscalidade, mas também questões relacionadas com o voto dos estrangeiros, com a reorganização das coletividades territoriais, com a juventude e com a habitação. “Ainda há muito por fazer pelo voto das comunidades e também pela eleição de emigrantes em França”, sublinhou.
Neto de portugueses, Patrice Carvalho foi eleito deputado em 1997, quando era mecânico na multinacional vidreira Saint-Gobain, onde hoje é técnico de segurança no trabalho. Para mostrar que “estava sozinho”, enquanto representante dos “80 por cento de operários que a França tem”, entrou na Assembleia de fato-macaco. “Quis mostrar que o parlamento não é representativo do povo”, disse à Lusa.
Patrice Manuel Carvalho é já a terceira geração da família em França. Os avós paternos chegaram a Thourotte, cidade no norte do país – hoje com cinco mil habitantes -, em 1923. “O meu avô veio como refugiado político, mesmo antes de Salazar estar no poder”, contou. Patrice Carvalho cresceu numa casa “que recebia inúmeros refugiados políticos e homens que fugiam da guerra colonial”, entre as décadas de 1960 e 1970. Viu muitas vezes a mãe levar comida a famílias portuguesas recém-chegadas a França. É um conhecedor da história e da cultura do país dos seus avós, guardou sempre, “os laços com Portugal” e é próximo da comunidade portuguesa, numerosa em Thourotte.
Na Assembleia Nacional, o comunista quer ficar responsável pelo grupo de amizade França-Portugal e defende que “a comunidade se valorizou criando todas as empresas que hoje fazem parte do tecido económico da região e do país”. “É preciso que esse papel seja reconhecido”. É altura de os portugueses “tomarem a palavra” porque “nunca se fala deles”, acrescentou.
Filho de portugueses que viajaram para França durante a ditadura salazarista e acabaram por nunca regressar de vez a Portugal, Carlos da Silva, filho de portugueses, era o “número dois” do ministro do Interior, Manuel Valls. O socialista cresceu e estudou em Corbeil-Essonnes, vai a Portugal com frequência e fala português com sotaque da terra dos avós.
Não faz campanha com Portugal como bandeira, mas promete trabalhar pela língua e pela cultura portuguesas: “Haver em França deputados de origem portuguesa é a magia da República Francesa, que consegue construir-se com pessoas de todas as origens”, disse à Lusa. Defende que a sua eleição mudará alguma coisa para os habitantes de Corbeil-Essonnes, onde é conselheiro municipal, e para a comunidade portuguesa. Em relação à língua portuguesa não prometeu resultados, mas disse à Lusa que vai trabalhar para que ela faça caminho no ensino francês.
Carlos da Silva dará, no seu trabalho como deputado, prioridade “à mudança”, mote de campanha do Presidente socialista recém-eleito, François Hollande. Como Hollande, Carlos da Silva criticou as medidas de austeridade adotadas em Portugal, e defendeu também a necessidade de os Estados estimularem o crescimento económico, indo além da aplicação de medidas de rigor orçamental.

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