Portugal conquistou uma medalha de ouro num Campeonato Internacional de Robótica realizado nos Estados Unidos no fim de semana de 31 de Março e 1 de abril. Liderada por Tiago Caldeira e constituída, além do engenheiro, por quatro estudantes das áreas de engenharia eletrotécnica, comunicação e saúde ambiental, da Universidade de Coimbra (UC) e do Instituto Politécnico de Coimbra, a equipa venceu a categoria Expert Division, com o projeto «BeFree» – uma tecnologia revolucionária que alia a robótica à terapia de pessoas com mobilidade condicionada.
Nesta 19ª edição da competição, que teve a participação de 135 equipas, oriundas de sete países (EUA, Canadá, México, Israel, Indonésia, China e Portugal), a equipa portuguesa venceu aquela categoria com um equipamento que liga a robótica à terapia de pessoas com mobilidade condicionada.
Na «Expert Division», os robôs concorrentes têm que enfrentar um conjunto de obstáculos formado por diversos tipos de mobiliário – como sofás, camas, mesas e armários – situados nos quartos e corredores até encontrarem os múltiplos «focos de incêndios», simbolizados por pequenas velas. A exigência da prova incluiu a obrigatoriedade dos robôs serem ativados por som, num local de saída arbitrário, usando obrigatoriamente água para extinguir os focos de incêndio. Os robôs tinham ainda que retornar, no fim da missão, ao local de partida.
“A construção do robô foi a oportunidade de confirmar que a tecnologia que tinha criado é relevante e pode ser utilizada a vários níveis”, explicou Tiago Caldeira, por telefone, a O Emigrante/Mundo Português.
Crianças são alvo prioritário
Mas a construção do robô, foi já uma segunda etapa do projeto – desenvolvida após a constituição da equipa.
O projeto – que começou a ser desenvolvido pelo engenheiro eletrotécnico em outubro do ano passado com a intenção de promover a integração social de pessoas com mobilidade condicionada – foi pensado inicialmente nas crianças com dificuldades de movimentação. Para tal, utiliza uma tecnologia inovadora que “concede mobilidade, autonomia e liberdade a estas pessoas e respetivas famílias”, refere o engenheiro no documento de apresentação do BeFree.
Na primeira fase, Tiago Caldeira criou um sensor de movimentos que permite o controlo remoto de brinquedos. “As crianças são o primeiro alvo do estudo. A tecnologia utiliza sensores que permitem a captação de movimentos da criança que são transformados em «ordens» para um telecomando de um brinquedo”, explicou Tiago Caldeira a este jornal, acrescentando que o objetivo será, mais tarde, utilizar o mesmo princípio em outros equipamentos, como os comandos de uma televisão, ou de «casas inteligentes».
O sensor de movimento pode ser aplicado a qualquer extremidade do corpo que tenha perdido até 85 por cento da sua mobilidade. Através de um protocolo «bluetooth» (tecnologia de comunicação que utilizar ondas de rádio no lugar de cabos), transmite uma informação sensorial a um dispositivo recetor que pode ser aplicado a diferentes plataformas e permitir, por exemplo, o envio e receção de mensagens de telemóveis, a utilização de computadores ou outras funções, conforme as necessidades de cada utilizador.
A equipa já construiu algumas cópias do protótipo do equipamento, que incluem um controlador de movimento com bandas ajustáveis ao corpo, um módulo de envio e receção de sms, um visor e um adaptador para computador.
Construído na segunda fase do projeto, depois da constituição da equipa pelo engenheiro eletrotécnico, o robô integra uma nova versão do equipamento e substitui o adaptador para computador (os outros elementos mantêm-se). Está programado para transporte de materiais, controle remoto por sms ou temporizado, monitorização de sinais vitais, deteção de incêndios, sensor de movimento com alarme e termómetro por infravermelhos.
Projeto piloto em Coimbra
Ainda este mês a equipa vai iniciar um projeto-piloto, na área do controlo de brinquedos, em parceria com a Associação de Paralisia Cerebral de Coimbra. Tiago Caldeira pretende alargar esta parceria – que não tem para já um prazo limite de execução – a outras instituições que demonstrem interesse nesta tecnologia inovadora. Até ao fim do ano, o engenheiro espera “ter cerca de 100 cópias do protótipo a circular em Portugal”, mas diz que o projeto “tem ainda que amadurecer no país antes de começar a ser comercializado”. Quanto ao financiamento, para já, estão a avançar com capitais próprios, mas não estão «fechados» à possibilidades de receberem apoios.
Aliás, a participação da equipa BeFree no campeonato mundial nos Estados Unidos foi possível graças a uma parceria com a Associação Desenvolver o Talento, da Guarda, ao patrocínio das Amarelas Internet Portugal, New Tech Guarda, Instituto de Sistemas e Robótica da Universidade de Coimbra, Ciência Viva e Viúva Monteiro. Nos Estados Unidos, foi importante o apoio de Fernando Rosa Gonçalves, presidente do PALCUS, da Michael’s Limousines and Transportation Services, do Restaurante Nutshell e do Clube Português em Hartford.
Ana Grácio Pinto
apinto@mundoportugues.org
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