A VOLTA A PORTUGAL termina esta semana sua ronda pelas Aldeias Históricas de Portugal. Feitas de granito e xisto, guardam histórias de conquistas e tradições antigas. Visite-as e descubra um dos nossos segredos mais bem guardados. Ficam no centro de Portugal e descobrem-se ao longe nas altivas torres dos seus castelos medievais. Hoje são pacíficas e mantêm nas pedras da rua e das casas o que Portugal tem de mais genuíno: a autenticidade do seu povo e o orgulho de uma História com 900 anos. Deixando Castelo Mendo e Marialva rumamos ao concelho que se intitula a “capital do queijo da Serra” – Celorico da Beira, para depois seguir para Linhares da Beira, o último castelo com alcaide e daí até à Serra do Açor onde Piódão, a “aldeia presépio” deslumbra quem a visita…
Linhares, aldeia histórica do concelho de Celorico da Beira, é um autêntico museu ao ar livre. Com um passado rico bem guardado até aos nossos dias, cada uma das pedras das magníficas ruas que aqui existem, contam histórias fantásticas, e revelam a importância que esta aldeia teve no passado.
Situada na vertente ocidental da Serra da Estrela, à altitude de 180 metros, esta vila de fundação medieval oferece ao visitante magníficas paisagens montanhosas, típicas da Beira, de ar puro, e águas frescas e puras, cultura, artes medievais e renascentistas.
Linhares orgulha-se do seu imponente e poderoso castelo de arquitectura essencialmente militar, mas também românico e gótico. O castelo ocupa um cabeço rodeado por penedos graníticos escarpados, com excepção da encosta onde se situa a povoação.
Visigodos e mais tarde Muçulmanos apossaram-se do lugar. Sabiam que daqui podiam vigiar todo o horizonte em redor. Linhares passou a ser portuguesa ao tempo de D. Afonso Henriques, que lhe deu o primeiro foral em 1169. Mesmo assim, numa noite de lua nova do ano de 1189, tropas de Leão e Castela invadiram a região, preparando-se para assaltar o castelo de Celorico. Linhares acorreu em sua defesa e o exército inimigo, vendo-se cercado na retaguarda, abalou a fugir.
No seu passeio pela aldeia vai descobrir gravadas nas armas da povoação um crescente e cinco estrelas, a lembrar essa longínqua noite de lua nova. Encontram-se numa pequena tribuna de pedra, exemplar único de fórum medieval donde se anunciavam à população as decisões comunitárias. Não deixe de entrar na igreja matriz, de raiz românica. Lá dentro estão três valiosas tábuas atribuídas ao grande Mestre português Vasco Fernandes (Grão Vasco). O relevo e clima desta região reúnem as condições ideais para fazer desta aldeia histórica o sítio ideal para o grande Open do Parapente, que acontece todos os anos em Agosto. Hoje conhecida como Capital do Parapente, Linhares da Beira é uma antiga vila medieval já habitada desde a época dos romanos. Como marcas desses tempos existem várias sepulturas, um trecho da calçada romana e parte do edifício actualmente chamado Fórum de Linhares.
Castelo de Linhares
O Castelo de Linhares da Beira localiza-se na vila e Freguesia de Linhares da Beira, Concelho de Celorico da Beira, Distrito da Guarda, em Portugal. Situado num cabeço rochoso num contraforte a noroeste da serra da Estrela, domina o vale do rio Mondego. O seu passado mergulha nas lendas, sendo considerado uma das fortificações medievais mais importantes da Beira Alta Interior. O seu castelo, Monumento Nacional reconstruído em 1291 durante o reinado de Dom Dinis, desempenhou um importante papel na defesa da Beira Alta durante os primórdios da nacionalidade. Daqui se avista uma boa parte do restante património histórico da localidade, onde se destacam também a igreja matriz de origem românica, que guarda três pinturas do mestre português Grão Vasco, o pelourinho manuelino, a casa da câmara, com armas reais de Dona Maria, o solar Corte Real, construção barroca do século XVIII e o solar Brandão de Melo, edifício neoclássico do século XIX. Embora sejam escassas as informações acerca da primitiva ocupação humana deste sítio, alguns autores atribuem a fundação da povoação aos Túrdulos, que aqui se teriam fixado por volta de 850 a.C.. Após a Invasão romana da Península Ibérica, este povoado tornou-se vizinho a uma estrada romana, que ligava Conimbriga ao nó viário da Guarda. Esse fato teria atribuído valor à povoação, sucessivamente ocupada por Visigodos e Muçulmanos. Estes últimos aqui teriam erguido uma fortificação, recordando-se uma antiga tradição local que referia que as gentes de Linhares teriam destruído um castelo mouro cujo senhor se denominava Zurar. Deste nome teria derivado o topônimo Azurara, primitiva denominação de Mangualde. A facilidade de comunicação viária não terá deixado Linhares alheia aos eventos da Reconquista cristã da península. Alguns autores questionam se a Linhares mencionada entre outras povoações na concessão de um foral sem data, pelo rei Fernando Magno de Leão, seria esta povoação na Beira, ou a homónima, no Douro. Com a independência de Portugal, D. Afonso Henriques, visando promover o seu povoamento e defesa, lhe concedeu foral em 1169. Esse privilégio seria confirmado em 1217 por D. Afonso II.
A primeira referência histórica ao castelo data de algum momento dos três primeiros anos do reinado de D. Sancho I (final do século XII), ligada a uma invasão daquele trecho da fronteira por forças do reino de Leão. Eram alcaides do Castelo de Linhares e do Castelo de Celorico da Beira respectivamente os irmãos Rodrigo e Gonçalo Mendes. Encontrando-se este último cercado em Celorico pelo invasor, acorreu Rodrigo com as gentes de Celorico em auxílio do irmão, logrando vitória sob a invocação de Nossa Senhora dos Açores, em devoção a quem se ergueu uma Capela a meio caminho entre ambas as localidades, e se faz, anualmente, uma romaria a 3 de Maio.
Embora se desconheça a primitiva configuração deste castelo, acredita-se que tenha apresentado traços do estilo românico, com a torre de menagem isolada no interior da praça de armas e cerca envolvente adaptada ao terreno. No reinado de D. Afonso III, nas Inquirições de 1258, menciona-se que os moradores de Sátão eram obrigados à anúduva (auxílio na reparação de estruturas militares) nos castelos da Guarda e de Linhares, o que demonstra, a par da importância estratégica deste último no quadro defensivo do reino à época, que lhe estavam sendo procedidas obras.
Sob o reinado de D. Dinis, do mesmo modo que em parte expressiva das fortificações portuguesas no período, uma nova campanha de obras teve lugar em Linhares. Este soberano doou os domínios da vila e seu castelo a seu filho, Fernão Sanches.
A povoação e seu castelo estiveram envolvidas na segunda guerra que D. Fernando moveu contra Henrique de Castela, tendo sido cercada e tomada pelas forças deste quando, invadindo Portugal pela Beira, no início de 1373, marcharam de Almeida para Viseu, e daqui sobre Lisboa. Com o falecimento de D. Fernando, ao se abrir a crise de 1383-1385, o alcaide de Linhares, Martim Afonso de Melo, tomou o partido de D. Beatriz e de João I de Castela, como de resto o fez grande parte da principal nobreza portuguesa. Vindo a cair sob o domínio do Mestre de Avis, este entregou o senhorio da vila a Egas Coelho, fidalgo de sua confiança (14 de Agosto de 1384), logo sucedido por Martim Vasques da Cunha que se iria destacar, à frente das gentes de Linhares, na batalha de Trancoso, na Primavera de 1385.
Piodão
A Aldeia de Piódão é considerada uma das mais bonitas do País, classificada como “Aldeia Histórica de Portugal“.
Situada no Centro do País, pertencente ao concelho de Arganil, na encosta da bonita Serra do Açor. As suas típicas casas de xisto e lousa, com janelas em madeira de azul pintadas, descem graciosamente a encosta da serra, formando um anfiteatro nesta íngreme serra, sendo por muitos apelidada de “aldeia presépio”. Piódão é uma aldeia serrana, de feição rural, e acessos difíceis, um excelente exemplo de como o ser humano se adaptou ao longo dos séculos aos mais inóspitos locais.
A natureza envolvente está quase que em estado puro, observando-se pela região diversas espécies de fauna e flora típicas do local. A aldeia ter-se-á desenvolvido de um anterior Castro lusitano “Casal de Piodam”, hoje em dias em ruínas, que terá sabiamente aproveitado e aperfeiçoado a agricultura em socalcos. Já no século XX o estilo de vida que durante anos perdurou em Piódão sofre uma grande mudança, com a emigração em massa que se fez sentir, perdendo-se a força da terra. Hoje em dia Piódão renasce com a força turística, preservando sempre a sua essência. O próprio conjunto arquitectónico e a sua disposição tão característica, é o maior atributo de Piódão, destacando-se também locais de interesse como a Igreja Matriz do século XVII ou o Núcleo Museológico do Piódão, onde estão expostos os costumes, as tradições e modo de vida destas antigas paragens.
Piódão oferece hoje em dia uma boa oferta turística, com alojamento, restauração, e diversas lojas com o que de mais tradicional se produz na aldeia, entre artesanato, licores, mel, pão ou outros deliciosos produtos gastronómicos.
As habitações possuem as tradicionais paredes de xisto, tecto coberto com lajes e portas e janelas de madeira pintada de azul. O aspecto que a luz artificial lhe confere, durante a noite, conjugado pela disposição das casas fez com que recebesse a denominação de “Aldeia Presépio”. Os habitantes dedicam-se, sobretudo, à agricultura (milho, batata, feijão, vinha), à criação de gado (ovelhas e cabras) e em alguns casos à apicultura.
A flora é em grande parte constituída por castanheiros, oliveiras, pinheiros, urzes e giestas. A fauna compõe-se, sobretudo, de coelhos, lebres, javalis, raposas, doninhas, fuinhas, águias, açores, corvos, gaios, perdizes e pequenos roedores.
A “mais típica”
Actualmente, a desertificação das zonas do interior, afecta praticamente todas as povoações desta freguesia. As populações mais jovens emigraram para o estrangeiro ou para as zonas litorais à procura de melhores condições de vida, regressam às suas origens, sobretudo, durante as épocas festivas para reviver o passado e se reencontrarem com os seus congéneres.
Com efeito, recebeu, na década de 1980, o galo de prata, condecoração atribuída à “aldeia mais típica de Portugal”.
Piódão é sem duvida uma das mais bonitas aldeias de Portugal. Classificado como imóvel de interesse público a partir de 1978, beneficiou assim de alguma protecção.
Mas só a partir da sua integração no projecto das Aldeias Históricas de Portugal, o Piódão viu o seu conjunto urbanístico salva guardado.
Ou seja, no âmbito dessa programa todas as casas em cimento e telhados de telha deverão ser convertidas em paredes de xisto e telhados de lousa.
Só assim se valoriza a riqueza arquitectónica do Piódão e a sua referência como património a preservar. O projecto está actualmente na fase final. A aldeia tem um traçado e uma disposição típica de um povoamento de montanha. Abrigadas dos ventos dominantes, as casas trepam pela encosta acima. Os materiais de construção são aqueles que a serra oferece: xisto e madeira.
As paredes têm duas camadas, uma exterior com pedras maiores e uma interior com pedras mais pequenas. Os telhados têm uma ou duas águas, chegando a ter quatro graus de inclinação média. O azul que pinta as portas e janelas é outro dos mistérios ainda por resolver. Ninguém sabe ao certo a razão. São várias as explicações, mas a mais conhecida prende-se com o isolamento da aldeia e com a chegada de uma lata de tinta azul. Não havendo escolha, o azul impôs-se e é actualmente parte integrante do conjunto arquitectónico da aldeia do Piódão. Os terrenos são basicamente xistosos e, em tempos, usados para o cultivo de uma agricultura de subsistência.
Trata-se de uma área protegida, com uma vegetação muita rica na sua diversidade: castanheiros, carvalhos, loureiros, medronheiros, azereiros e outras. No que respeito ao estrato arbustivo, vamos encontrar a urze, o rosmaninho, a carqueja e a giesta. A água das ribeiras é uma presença constante, pois mesmo quando nos afastamos dos cursos de água o som perdura.
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