O despedimento, no início deste mês, da professora responsável pelo apoio aos alunos portugueses da área
de Lambeth, em Londres, foi criticada por pais e colaboradores e pelo deputado socialista Paulo Pisco.
Luísa Ribeiro, que tinha sido premiada recentemente pelos resultados obtidos no apoio aos alunos portugueses,
foi dispensada pelo conselho municipal, porque o Governo britânico não renovou algumas das bolsas de
financiamento às autarquias.
A justificação, segundo um porta-voz do conselho municipal, está nas medidas de austeridade do Governo britânico, que não renovou algumas das bolsas de financiamento às autarquias. “Não depende de indivíduos, mas de dinheiro”, afirmou à Agência Lusa, dando conta de “decisões difíceis” que foram tomadas no departamento de educação.
A dispensa de Luísa Ribeiro foi decidida apenas meses depois de um relatório interno do Departamento de Serviços às Crianças e Jovens daquele município tecer elogios à docente.
“O trabalho dela é altamente considerado”, lê-se, lembrando que os alunos com o português como língua materna têm ainda resultados abaixo da média. Todavia, salienta-se, o seu posto é financiado por uma das bolsas de apoio à educação eliminadas no âmbito dos planos do governo britânico para reduzir o défice, razão para não manter a funcionária.
Município «corta» projecto “inovador”
Luísa Ribeiro tinha sido promovida durante o verão e era agora responsável pelo apoio a outras línguas estrangeiras. Foi também distinguida no início de Novembro com o prémio «Threlford Memorial Cup», atribuído pelo Instituto de Linguistas.
O júri aplaudiu o projecto “inovador e dinâmico” da professora consultiva em Lambeth, reconhecendo o “potencial em elevar o sucesso educativo através do estudo das línguas mãe ao ensinar português às crianças de famílias de língua portuguesa bem como promovendo os benefícios do estudo de uma língua estrangeira através da restante comunidade escolar”. Durante os quatro anos em funções, Luísa Ribeiro criou prémios para recompensar alunos de origem portuguesa pelo mérito escolar ou comportamento, de forma a estimular a confiança deles e dos pais.
Ajudou na abertura de uma ala de livros de língua portuguesa numa das bibliotecas municipais e lançou um disco e livro com pautas de músicas cantadas por alunos nas ruas de Londres. Como consequência do trabalho da docente português, as estatísticas mostram que os resultados dos alunos de expressão portuguesa foram os que registaram maior progresso nos últimos anos nos diferentes níveis de ensino.
Opção “deplorável”
O despedimento de Luísa Ribeiro foi criticado por pais e colaboradores e pelo deputado socialista Paulo Pisco. “É deplorável que o conselho municipal tenha feito a opção de prescindir dos serviços da Luísa Ribeiro”, afirmou à Agência Lusa o deputado eleito pelo círculo da Europa. Mesmo reconhecendo os cortes orçamentais aplicados no Reino Unido e que afectaram aquela autarquia, considera tratar-se de uma opção. Paulo Pisco, que fez campanha junto de Steve Reed, o líder da autoridade local junto da comunidade portuguesa, aponta o desrespeito às promessas eleitorais do partido Trabalhista e afirma que o executivo municipal “deveria repensar os cortes nestes aspecto da integração da comunidade portuguesa e manter os compromissos sobre o ensino do português”.
Também Sónia Sousa, uma portuguesa que liderou uma petição com dezenas de assinaturas para impedir o despedimento, lamenta não ter sido bem sucedida. “Há muitos pais descontentes e vai desmoralizar os alunos”, lamenta. Para esta mãe de três crianças em idade escolar, Luísa Ribeiro representava “o pouco apoio” que tinham. Sónia Sousa lamenta, nomeadamente, o fim dos prémios monetários aos alunos atribuído anualmente por mérito escolar ou por comportamento. De acordo com o director da Caixa Geral de Depósitos em Londres, o principal patrocinador, esta iniciativa não consegue sobreviver sem a professora. “O trabalho dela junto das escolas era fundamental porque era ela quem recebia as candidaturas e fazia o acompanhamento”, conta. Todavia, garante que o apoio do banco às bibliotecas de Lambeth, onde se concentra a comunidade portuguesa em Londres, deverá continuar. Há dois anos, foram oferecidos cerca de 200 livros infantis para uma biblioteca e tem mais 340 livros juvenis à espera.
Lambeth é o município londrino onde se concentra a comunidade lusófona de Londres, estimada em cerca de 50 mil pessoas, perto de um quinto da população total naquela autarquia.
O número de alunos cuja língua materna é a portuguesa mais do que quintuplicou em menos de duas décadas, de 377 em 1992, para 2203 em 2009, e 14 escolas têm mais de 50 alunos lusófonos.