Cortiça vai exportar este ano 750 milhões – António Amorim

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Para o Presidente da APCOR (Associação Portuguesa de Cortiça)  nada mete medo ao sector, apesar da rolha continuar a ser o principal negócio e da concorrência não se poupar a esforços desde as cápsulas de alumínio até às rolhas de plástico. A todos a cortiça tem respondido com a excelência que lhe é reconhecida e uma crescente investigação tecnológica para melhorar ainda mais o produto.

A cortiça é uma matéria-prima natural com um potencial de aplicação muito vasto, em diversos sectores de actuação. Para este ano prevê-se que os números de exportação rondem os 750 milhões de euros. A rolha continua a ser o produto de maior valor acrescentado desta indústria, apesar da crescente importância que a cortiça tem vindo a assumir no sector da construção, nomeadamente com as soluções de revestimentos e isolamentos. Recorde-se que a cortiça é um exemplo paradigmático do desenvolvimento sustentável e de toda uma economia dita “verde” que urge adoptar, prevendo-se no futuro uma grande apetência pela procura de materiais naturais.
Fruto de um grande investimento que o sector da cortiça tem feito em Investigação, Desenvolvimento & Inovação, esta é uma matéria-prima cuja aplicação vai muito além dos chamados sectores tradicionais. Design, moda, indústrias de ponta como a automóvel e a aeroespacial, caiaques e pranchas de surf, são algumas das áreas que encontram na cortiça um material de eleição. Na base, uma resposta tecnicamente eficiente e o facto de viabilizar o Montado de Sobro, um ecossistema que desempenha um papel determinante na retenção de CO2, na preservação da biodiversidade e no combate à desertificação.

Mas o futuro da cortiça preocupa-me quando vejo a rolha a ser gradualmente substituída por pressão do próprio mercado no caso dos vinhos, Isso não o assusta?
Na última década, a indústria da cortiça fez um grande investimento em investigação & desenvolvimento dos seus produtos. O resultado é uma indústria que a partir de um produto 100% natural, renovável e reciclável e do recurso a tecnologias de ponta oferece produtos de irrepreensível eficiência técnica, de características inigualáveis.
Actualmente os vedantes alternativos já nem apresentam como benefício a questão economicista e os mais distintos críticos de vinho do mundo são claros quanto aos progressos que a cortiça tem feito nesta última década. Hoje, nas grandes provas internacionais verifica-se que o índice de problemas associados com vedantes de plástico é superior aos dos vinhos engarrafados com cortiça. Assim, ao factor “produto ecológico”, há um salto qualitativo evidente dado pela indústria da cortiça.
 Ainda recentemente foi feito um estudo comparativo do ciclo de vida da rolha de cortiça versus cápsula de alumínio e rolha de plástico. Se falarmos em termos futebolísticos pode dizer-se que a cortiça deu uma goleada, ou seja, a rolha tradicional venceu em toda a linha. Tecnicamente, a debilidade outrora associada à cortiça está ultrapassada e em termos de sustentabilidade, os nossos argumentos são inimitáveis. Além disso, acresce a percepção positiva do consumidor em relação à rolha de cortiça, segundo ele, um indicador da qualidade do vinho.

Mas falou num estudo…
A AC Nielsen divulgou recentemente um estudo sobre as 100 maiores marcas de vinho dos EUA. Ao longo de um ano, foram analisados 64 vinhos com rolha de cortiça e 36 com vedantes de plástico e alumínio. O resultado é, em todas as vertentes, favorável à rolha de cortiça: os vinhos com rolha de cortiça aumentaram 11% as suas vendas, enquanto que os engarrafados com vedantes alternativos evidenciaram uma queda de 1,5%. As mais-valias de utilização do vedante de cortiça estendem-se também ao preço. Fruto da percepção qualitativa associada à rolha de cortiça, as marcas de vinho que usam rolhas naturais apresentaram uma vantagem de preço significativa, que pode atingir os US$ 1,68 por garrafa sobre as que usam vedantes alternativos.

Quais são os países grandes clientes das nossas rolhas?
No total são mais de 100 países. Para além de Portugal, que não é o principal mercado, a França, os Estados Unidos, a Itália, a Alemanha, a Espanha, o Chile e a Austrália.

Mas concorda que a cortiça desapareceu um pouco da nossa vista, da decoração, dos pavimentos…
Não concordo e as vendas são o principal indicador que contraria essa afirmação. Nunca se venderam tantos pavimentos de cortiça como hoje em todo o mundo, em especial na Alemanha, nos Estados Unidos e na Rússia. Além disso a cortiça nunca esteve tão em voga, seja nos revestimentos ou na decoração de interiores em geral. A prová-lo, reputados designers e decoradores de interiores que trabalham a cortiça como material de eleição. Daniel Michalick, Eric Kuster e Candice Olson são apenas alguns bons exemplos.
Veja-se ainda o caso do Pavilhão de Portugal da Expo Xangai 2010. Inteiramente revestido a cortiça, foi distinguido com o Prémio de Design pelo Bureau International des Exhibitions.

E os novos objectos marginais da cortiça, malas, carteiras e até vestuário, existe futuro para essas aplicações que por agora vão estando na moda?
É um produto de nicho, pelo que representa uma pequena parcela do negócio. No entanto, o que se constata é que esta associação cortiça/moda/design tem sido determinante para alavancar as potencialidades desta matéria-prima no mundo. Acresce ainda o valor simbólico destes produtos, feitos a partir de um material nobre como a cortiça, altamente identificado com o nosso país. Está inclusivamente em curso um movimento que visa fazer do sobreiro a árvore nacional de Portugal.

E a investigação está dar-nos novos caminhos para a cortiça?
Definitivamente e são inúmeros os bons exemplos. Embora ainda seja cedo para avançar com pormenores, porque são iniciativas lançadas há relativamente pouco tempo, gostaria de referir o caso das pás das eólicas dos moinhos de vento. O maior construtor mundial está neste momento a estudar a cortiça como material para preencher o interior das respectivas pás. Por outro lado, a utilização da cortiça na indústria cosmética, para aplicação em bases é já uma realidade. Realidade que se transporta para o campo da indústria aeroespacial, com a incorporação de cortiça nas naves que fazem o lançamento dos satélites para o espaço, tanto no nariz das próprias naves como no interior das câmaras de combustão. Empresas como a Airbus e a Boeing estão a estudar a cortiça para aplicar no interior dos aviões por ser um material leve, isolante e antivibrático.

Qual a importância do sector actualmente para a economia nacional?
Portugal, que representa apenas 33 por cento da área de sobreiros mundial, é responsável pela produção de 54 por cento de cortiça e representa cerca de 75 por cento da transformação mundial, o que se traduz na criação de dez mil postos de trabalho directos no sector e 3000 postos de trabalho temporários, essencialmente no período de extracção. O peso do sector representa cerca de 1% do PIB nacional.

Actualmente produção e transformação ainda são realidades separadas?
Estamos agora a tentar solidificar a noção de fileira para o nosso sector porque neste momento somos ainda duas realidades de facto demasiado separadas e que se encontram uma vez por ano para realizar uma operação. No entanto, e dado que os problemas e as vantagens são iguais para ambas as partes, estamos a tentar criar uma ligação maior. O intuito é apoiar a produção na gestão e orientação dos seus montados para uma utilização mais eficaz por parte da indústria. O nosso objectivo final é ter uma visão única porque a qualidade do produto final cortiça começa sem dúvida na produção, por isso necessitamos de uma matéria-prima de grande qualidade para um produto final cada vez mais qualificado.

Está optimista quanto ao futuro?
O sector da cortiça tem uma história fantástica, no entanto não é nosso objectivo agarrarmo-nos a esse passado. O sector, quando confrontado há cerca de dez anos com a entrada dos vedantes alternativos, teve uma resposta eficaz e assiste-se, neste momento, a um renascer da percepção da cortiça e das mais-valias que incute nos produtos onde é incorporada. Apesar da crise, iniciada em 2008, o sector apresenta-se hoje mais forte, com empresas extraordinárias que investiram em tecnologia e em gestão e se tornaram empresas de primeira linha.
Uma indústria como a nossa, feita a partir da cortiça, um produto natural que alia tradição e sustentabilidade e na qual têm sido feitos grandes investimentos em I&D, apresenta-se seguramente como uma indústria de futuro.

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