A cidade portuguesa de Torres Novas acolheu em Novembro os III Encontros da Lusofonia, evento que reuniu representantes de Timor-Leste, São Tomé e Príncipe, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Angola e da cidade de Panjim (Goa, Índia). Além do reforço de acordos para a formação e capacidade das pessoas naqueles municípios da lusofonia, no encontro foi debatida a língua portuguesa e a aposta no ensino.
A comitiva internacional incluiu representantes de Díli (Timor-Leste), Água Grande (São Tomé e Príncipe), Maputo (Moçambique), Cidade da Praia (Cabo Verde), das cidades guineenses de Farim e Cacheu, e de Panjim (Goa), onde existem réplicas do monumento, e também da Ribeira Grande e Sal (Cabo Verde) e do Lubango (Angola).
O presidente da Câmara de Torres Novas, que é também representante da Associação Nacional de Municípios no Foral CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa), sublinhou q importância do evento ao afirmar que “reforçou a ligação entre os municípios dos países lusófonos participantes”. Segundo António Rodrigues, destes encontros saíram “perspectivas e reforços de acordos para a formação e capacidade das pessoas nestes municípios da lusofonia mais necessitados de conhecimento que, nós portugueses, podemos exportar”.
Língua: o papel de Brasil e Angola
A promoção da língua portuguesa foi um tema presente no encontro. Rui Marques, ex-alto comissário para a Imigração e Minorias Étnicas, sublinhou o papel que Brasil e Angola podem desempenhar no sentido de “ajudar no esforço de promoção da língua portuguesa no mundo”.
O professor universitário salientou que a comunidade de falantes da língua portuguesa no Brasil é a maior da lusofonia e que, por isso, também compete a este país “apoiar Portugal e os outros países nesta divulgação da língua portuguesa”.
“Esperemos que Angola possa rapidamente também ajudar neste esforço”, acrescentou Rui Marques, fundador e dirigente do Movimento Esperança Portugal (MEP), salientando que “compete a Portugal dar o seu contributo para que a língua possa ser um cimento de ligação na defesa de interesses comuns e de uma voz convergente em instituições internacionais, como na ONU”.
Para o ex-alto comissário para a Imigração e Minorias Étnicas, a crise económica pode ser um factor de risco para o aumento de fenómenos ligados à xenofobia e ao racismo mas, na sua opinião, “é fundamental não nos deixarmos embalar na procura de bodes expiatórios entre os imigrantes que estão em Portugal”. “Existem cinco milhões de portugueses emigrantes espalhados pelo mundo como imigrantes e, se quisermos que eles também tenham um bom acolhimento, temos que ser exemplares no tratamento de damos aos imigrantes dentro do nosso país”, afirmou ainda Rui Marques.
Aposta maior em Goa e Macau
Já o presidente da Casa de Goa defende que Portugal deve apostar mais no ensino do português e na formação de professores em Goa e em Macau, antigos territórios portugueses no Oriente. Narana Coissoró acusou o Instituto Camões e a Fundação Oriente de “não perceberem ainda o renovado interesse pela aprendizagem do português”, frisando o facto de haver, por parte da Índia e da China, “uma grande procura pelo ensino desta língua como forma de penetrarem economicamente nos mercados de Angola e Moçambique”.
Segundo o presidente da Casa de Goa, a língua portuguesa voltou também a ser muito procurada, desde há oito anos para cá, porque a Índia se tornou numa “potência tecnológica, no back office do mundo da informática mundial”. “A Índia tem mostrado interesse no ensino do português para fazer frente à China em Angola e Moçambique e, em Goa, percebeu-se que é mais fácil quem sabe falar português ser chamado para trabalhos nestes países africanos”, salientou.
O presidente da Casa de Goa lançou um apelo às autoridades portuguesas para “começarem em Portugal a formar professores e técnicos na língua inglesa que sejam capazes de ir para Goa e ensinar o português através do inglês, que é a língua de trabalho da Índia”. “Temos que aproveitar este ímpeto da Índia e da China quererem aprender português e repensar o ensino da língua em Goa e Macau”, afirmou ainda o advogado.
Narana Coissoró mencionou ainda o caso de Timor-Leste ao referir que, “se Portugal quer que Timor seja um estado de expressão portuguesa, é preciso investir no ensino do português junto dos quadros administrativos deste país”.
João Calvão, administrador da Fundação Oriente, afirmou que o ensino do português “tem vindo a crescer em Goa”, mencionando o apoio dado pela sua instituição aos professores de 25 escolas goesas. O administrador disse ainda que, em Macau, a Fundação Oriente intervém também no ensino do português, na Escola Portuguesa de Macau e no Instituto Português do Oriente.
“Mas fala-se muito pouco português em Macau porque as duas comunidades, a chinesa e a portuguesa, sempre viveram de costas voltadas”, lamentou João Calvão, apontando no entanto “o interesse crescente das autoridades chinesas em preservar o património edificado deixado pelos portugueses nesta província”.