A nova vaga de emigração portuguesa, aliada à baixa natalidade em Portugal, terá “efeito grave na sustentabilidade da Segurança Social e nas Finanças Públicas a longo prazo”, afirma Álvaro Santos Pereira. O investigador baseou-se em indicadores para afirmar que a emigração portuguesa continuou a evoluir em 2009.
Se, por um lado, o volume de pessoas que saem está a levar a um novo aumento das remessas de dinheiro enviadas para Portugal, ajudando a minorar o défice da balança comercial, por outro, a emigração tem a faceta contraproducente de traduzir uma perda da força de trabalho, reduzindo o efeito rejuvenescedor das contribuições sociais, e diminuindo a capacidade reprodutiva, factores que a imigração não está a contrabalançar.
Emigração a evoluir
Santos Pereira apoia-se em alguns indicadores preliminares que mostram que a vaga de emigração lusa continuou a evoluir em 2009, adiantando não ser de admirar, perante a crise económica e financeira e o elevado desemprego existentes. Como exemplo aponta o caso de Angola, em que o número de vistos para portugueses mais do duplicou de 2008 para 2009, respetivamente de cerca de 20 mil para 46 mil.
As crises económicas também sentidas nos últimos anos nos países que eram tradicionais destinos dos emigrantes portugueses, como o Reino Unido e Espanha, não levaram ao seu regresso ao país, mas a deslocar-se para outros mercados, reorientando a emigração, observou.
Quanto a tendências, o economista projecta, para os próximos anos, um acréscimo da emigração rumo à Suíça, Luxemburgo, Reino Unido, Espanha, Angola, Estados Unidos e Canadá. Para estes dois últimos países, porém, o perfil da emigração é mais qualificado, visando portadores de habilitações universitárias (licenciaturas, mestrados e doutoramentos), a que se junta força de trabalho especializada, sustenta.
“A emigração de fugas de cérebros deverá atingir actualmente 20 por cento do total”, calculou, acrescentando que “Portugal é o segundo país da OCDE [Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico] com maior fuga de cérebros, a seguir à Irlanda”. A compilação e análise completa dos dados referentes à emigração nos anos 2008 e 2009 dará o quadro final da primeira década do século XXI, mas tudo aponta para que os fluxos migratórios possam nivelar ou mesmo superar o “pico” da emigração nacional, verificado nas décadas de 1960 e 1970. Com base nos últimos dados disponíveis, um por cento da população portuguesa saiu do país em 2007 e em 2008.
No seu estudo «O regresso da emigração», concluído em Maio passado, o economista nota que “o ponto mais alto da emigração foi entre 1964 e 1974, quando quase 1,3 milhões de portugueses emigraram. A maior parte da emigração deveu-se a razões económicas, embora muitos tenham deixado o país por razões políticas”.
A base de análise do trabalho de Santos Pereira são os fluxos de saída de Portugal, cujos dados são obtidos junto dos centros de emprego e Segurança Social dos países receptores, assim como da OCDE.