A má conservação das famosas calçadas em pedra portuguesa que embelezam ruas e avenidas do Rio de Janeiro, Brasil, poderá ter os dias contados. A Câmara Municipal da cidade está a importar conhecimento de Portugal para resolver o problema.
Profissão quase extinta
O desafio é revitalizar uma profissão que está quase extinta. Neste mês de novembro, cinco mestres portugueses de Lisboa estiveram no Rio de Janeiro para formar uma turma de 20 calceteiros que irão replicar o conhecimento para outros que se querem formar na profissão.
“Podemos dizer que as calçadas portuguesas são um pedacinho de Portugal espalhado pelo mundo”, disse à Lusa o fiscal de obras da Câmara de Lisboa, Fernando Fernandes, o responsável que coordena os mestres portugueses que foram ajudar na formação dos calceteiros brasileiros.
“Essa profissão no fundo é uma arte, a arte de trabalhar a pedra. De facto, é uma profissão que corre o risco de extinção, não só cá no Brasil como em Portugal. É uma arte muito dura pela posição do trabalho e o partir a pedra é um trabalho duro também. Hoje em dia infelizmente não é muito bem remunerado”, ressaltou Fernandes.
Segundo o secretário municipal de Conservação e Serviços Públicos da cidade do Rio de Janeiro, Carlos Roberto Osório, a cidade do Rio é “uma grande cidade portuguesa na América do Sul”. Porém, “ao longo dos anos, foi perdendo a arte de assentamento das pedras portuguesas”, destaca Osório. “Existe uma especialidade, uma técnica que precisa ser recuperada. E o nosso projecto é que nós possamos formar uma nova geração”. Entre as principais vantagens deste tipo de piso, acrescenta Osório, está a facilidade de absorção de água de infiltração, principalmente numa cidade tropical com fortes volumes de chuva, além de não acumular calor pois o calcário de cor branca reflecte.
O carioca Gedião Azevedo, de 47 anos, fez parte da primeira turma de calceteiros na década de 90 e hoje está a reciclar o conhecimento. “Os meus colegas estão super animados. Em relação ao trabalho, o mestre português mesmo falou que evoluímos muito”, disse à Lusa. “A paixão da minha vida é a pedra portuguesa, não nasci português, mas sou apaixonado pela pedra portuguesa”, destaca.
O Rio de Janeiro possui 1,218 milhão de metros quadrados de calçada em pedras portuguesas. Muitas áreas do Rio são classificadas, como o desenho em curvas da enorme calçada de Copacabana, criação do paisagista e arquitecto Burle Max, inspirada na obra histórica da Praça do Rossio, em Lisboa, que usa o padrão “Mar Largo”. Em Março de 2011, a Câmara do Rio de Janeiro passará a realizar o curso regularmente para os interessados em aprender este ofício.