Incêndios: Época mais crítica termina dia 30, área ardida foi a maior dos últimos 4 anos

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A morte de três bombeiros e 117.949 hectares de área ardida, são o rescaldo da época mais crítica em incêndios florestais. A fase «Charlie», que começou a 1 de Julho e termina a 30 de Setembro, contabiliza este ano, a maior área ardida dos últimos quatro anos. Especialistas dizem que o progresso de Portugal no combate aos fogos florestais, “ainda não é suficiente”.

 

A área ardida este ano é a maior dos últimos quatro anos, embora esteja longe dos 418.330 e 312.062 verificados em 2003 e 2005, respectivamente.

No combate aos incêndios durante esse período, estiveram envolvidos perto de 10 mil elementos, 2.177 veículos e 56 meios aéreos, além dos 236 postos de vigia da responsabilidade da GNR (Guarda Nacional Republicana) – um dispositivo praticamente idêntico ao dos anos anteriores. Os fogos florestais não deram tréguas aos bombeiros sobretudo na primeira quinzena de Agosto, quando os incêndios consumiram 49.389 hectares de florestas.

Segundo os últimos dados da Autoridade Florestal Nacional (AFN), os fogos florestais consumiram até 15 de Setembro, 117.949 hectares, mais 58 por cento do que no mesmo período do ano passado. Dos quase 118 mil hectares ardidos, 90.818 foram o resultado dos 9.222 incêndios que deflagraram em Agosto. Já as ocorrências registaram uma ligeira descida, tendo-se verificado, até 15 de Setembro, 19.567 fogos, menos 93 do que em igual período do ano passado.

 

Guarda foi distrito mais atingido

 

O distrito da Guarda contabiliza a maior área ardida (23.345 hectares), seguindo-se os distritos de Viana do Castelo (19.877), Vila Real (18.751) e Viseu (15.321). Estes distritos perfazem mais de “três quartos da área ardida”.

O maior incêndio deflagrou no concelho de São Pedro do Sul (Viseu) e consumiu cinco mil hectares de floresta. Foi a caminho do combate a este fogo que faleceu um dos três bombeiros mortos este ano. O bombeiro de Alcobaça morreu na sequência do despiste do autotanque de combate a incêndios onde seguia com mais quatro elementos da corporação.

Também um acidente vitimou o segundo comandante dos bombeiros de Cabo Ruivo, que fazia parte de uma equipa que ia combater fogos na zona do Porto. Outro dos bombeiros mortos foi uma mulher de 20 anos, que pertencia à corporação de Lourosa, Santa Maria da Feira, e estava a combater um incêndio no concelho de Gondomar.

De 1 a 31 de Outubro, entrará em vigor a fase «Delta» de combate a incêndios florestais, sendo o dispositivo composto por cerca de 5.450 elementos e 1.230 veículos. Os bombeiros vão ter ainda ao dispor, até 15 de Outubro, 19 meios aéreos e a partir do dia 16 serão no máximo sete disponibilizados pela Empresa de Meios Aéreos (EMA), que serão activados segundo a avaliação do perigo e do risco de incêndio.

 

Combate insuficiente

 

Especialistas em incêndios florestais consideram que Portugal está no bom caminho no combate aos fogos, mas “ainda não é suficiente”, sugerindo melhorias na coordenação, profissionalização dos bombeiros e aposta nas equipas de intervenção rápida.

Fazendo um balanço da época mais crítica de incêndios florestais, o investigador do Departamento Florestal da Universidade de Trás-os-Montes (UTAD) disse que o surpreende que “tenha ardido tão pouco”.

Em declarações à Agência Lusa, Hermínio Botelho sublinhou que este Verão foi um dos “piores anos de conjuntura meteorológica” para os incêndios de grande dimensão e nos últimos quatros anos “ardeu muito pouco”. Isto porque devido ao número elevado de ignições diárias, “previa-se que a dimensão dos incêndios fosse maior”, uma vez que os bombeiros “não podiam acorrer” a todos os fogos.

“Aquilo que se tem feito nos últimos anos está no bom caminho, temos que reforçar um pouco mais e fazer mais investimento no combate aos incêndios”, sustentou, sugerindo que se deve “melhorar essencialmente a qualidade dos meios e profissionalizar os recursos humanos”.

O investigador defende “mais formação” e “especialização” dos bombeiros, como a aposta no Grupos de Intervenção de Protecção e Socorro (GIPS) da GNR e bombeiros “Canarinhos”. “Não se deve apostar tanto nos aviões e nos carros de combate”, mas sim em “processos de combate mais rápido”, disse, adiantando que as equipas helitransportadas “chegam mais rápido a locais inacessíveis”.

 

Mais “trabalho de casa”

 

Também o investigador do Instituto Superior de Agronomia de Lisboa Francisco Castro Rego destacou à Lusa as melhorias relativamente a 2003 e 2005, mas sublinhou que “ainda falta bastante trabalho de casa”.

O ex-director da extinta Direcção Geral dos Recursos Florestais considerou que não se pode atribuir a culpa do aumento do número de incêndios este ano apenas à meteorologia, defendendo a nível da prevenção, uma maior utilização do fogo controlado durante o Inverno para a redução dos combustíveis.

Melhorar a coordenação é outra proposta deixada pelo investigador, que sugere também que as diferenças distritais verificadas neste Verão “necessitam de ser avaliadas e depois corrigidas”. Nesse sentido, sublinhou que a prática dos fogos controlados de Inverno pode ser “uma escola excelente de exercício” de acções de coordenação e de contacto com o terreno.

Já a Associação de Técnicos de Segurança e Protecção Civil (ASPROCIVIL) lamenta a “ausência” de medidas de prevenção básica no final do Inverno, nomeadamente as limpezas dos terrenos. O presidente da ASPROCIVIL, Ricardo Ribeiro, disse também que uma das “falhas do dispositivo” se relaciona com a “inoperância dos serviços municipais de protecção civil”, nomeadamente devido à ausência de técnicos de protecção civil e dos comandantes operacionais municipais.

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