Investigadores revelam que a floresta portuguesa está a passar por um fenómeno de regeneração espontânea que poderá ser a solução mais simples e “barata” para a questão do abandono do mundo rural e para as suas consequências gravosas, como os incêndios florestais.
Afinal, segundo os peritos, a solução pode estar no próprio problema: é o despovoamento e o abandono da agricultura tradicional que parecem estar a impulsionar esta “regeneração natural, com espécies indígenas de Portugal a brotarem espontaneamente por todo o lado”.
O fenómeno foi abordado no final da conferência internacional que decorreu durante quatro dias, em Bragança, e juntou cientistas de 46 países, numa iniciativa do grupo de ecologia da paisagem da União Internacional de Organizações de Investigação Florestal (IUFRO). Os desafios e soluções para as terras agrícolas abandonadas, como acontece nas regiões portuguesas do interior, mas também em toda a Europa, foi o tema do último simpósio.
As florestas auto-sustentáveis são a proposta dos investigadores Carlos Aguiar e Henrique Miguel Pereira para a transição. “Mais do que plantar floresta de novo é cuidar da que está a nascer e está a nascer muita floresta por todo o lado. É uma boa política identificar onde essa floresta está a nascer e apoia-la e cuida-la, e é uma forma barata de o fazer”, defendeu Carlos Aguiar, citado pelo site «Ciência Hoje».
Aposta nas espécies indígenas
A primeira medida para este investigador deverá passar por “apostar em apoiar esta regeneração natural de espécies indígenas de Portugal como os carvalhos, azinheiras e sobreiros, que está a surgir espontaneamente por todo o lado”. O espaço para esta regeneração foi cedido justamente, segundo dizem, pelo abandono da agricultura e o despovoamento. O reaparecimento destas espécies dar um contributo “a médio prazo” para haver menos fogos florestais em Portugal, na opinião de Henrique Miguel Pereira.
O investigador, que já teve responsabilidades no Instituto de Conservação da Natureza e Biodiversidade (ICNB) não entende “como é que o sistema de combate aos incêndios ainda não tomou como máxima prioridade proteger as zonas de regeneração florestal”. Trata-se, garantem os cientistas, de espécies mais resistentes e com potencial económico de produção de madeira ou outros bens como cogumelos, mas também de conservação da natureza.
Henrique Miguel Pereira reconhece que esta “transição não é um sistema simples porque exige um envolvimento social e que haja uma visão partilhada pelos diferentes actores do que se pretende para o futuro destas regiões”. As soluções teriam de ser adaptadas às diferentes realidade, mas asseguram que continuaria a haver espaço para a agricultura. Sublinham, no entanto que “onze por cento da superfície de Portugal está acima dos 700 metros, onde o uso agrícola provavelmente não será recomendável”.
O que consideram que “não pode continuar a acontecer é o avanço do mato com uma série de problemas associados em termos de ocorrência de fogos, e desfavorável à biodiversidade”.