Uma equipa de investigadores liderada por André Albergaria descobriu o mecanismo que permite às células, em determinadas condições, reagir ao tratamento contra o cancro da mama, abrindo uma nova oportunidade para o combate à reincidência do tumor. A investigação, realizada no Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto (IPATIMUP) com base em análises a doentes do Hospital de Ponta Delgada, foi publicada na última edição da revista «Human Molecular Genetics».
O tratamento inicial permite reduzir o tumor, o que possibilita a sua extracção ao fim de um ano, prosseguindo depois para evitar a reincidência. No entanto, em alguns casos, esta acaba por acontecer ao fim de vários anos.
“Já não se trata do tumor primário, que foi extraído por cirurgia, mas um que aparece noutro local do corpo”, salientou o açoriano André Albergaria, em declarações à Lusa, frisando que foram estes casos de reincidência que originaram a investigação.
Os cientistas estavam intrigados com o que “leva as células do tumor, ao fim de cinco anos de tratamento, a começar outra vez a invadir o corpo e a criar metástases”. De acordo com o investigador, “a célula adapta-se ao tratamento, resiste à droga e cria novas vias de sobrevivência”, sendo que o que descobriram foi esse mecanismo de adaptação e a capacidade de a célula reagir ao tratamento.
O estudo envolveu a análise de duas centenas de casos, a maioria dos quais doentes do Hospital do Divino Espírito Santo, em Ponta Delgada, nos Açores. A investigação permitiu identificar o fármaco antiestrogénico que pode desencadear o mecanismo que activa o gene denominado «P-Caderina», responsável pela célula se tornar mais invasiva.
André Albergaria frisou, no entanto, que não estão em causa as terapias, que “são eficazes”, salientando que “o fármaco em causa faz activar genes muito importantes para combater o cancro”. Nesse sentido, os investigadores pretendem agora identificar os efeitos secundários para conseguir controlar a doença.
“Não podemos evitar que os genes sejam activados, mas podemos actuar sobre eles”, afirmou André Albergaria. Por essa razão, o próximo passo da investigação pretende determinar “se a reincidência apenas depende deste gene e se, bloqueando este gene, pode ser novamente controlada”.
O investigador açoriano acredita que assim poderá vir a abrir-se uma janela para uma nova fórmula de tratamento para doentes com terapia endócrina.