RELIGIÃO E ARTE Bento XVI iniciou o programa do segundo dia da visita a Portugal, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, onde recebeu representantes do pensamento, da ciência, da cultura e da arte em Portugal. O Papa foi conduzido ao palco do grande auditório pelo Cardeal Patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, onde foi recebido pelo presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais, D. Manuel Clemente, e pela ministra da Cultura, Gabriela Canavilhas.
O Papa sentou-se numa cadeira de meados de 1700, em madeira dourada e veludo carmesim, feita para o segundo Cardeal Patriarca de Lisboa, D. José Manoel Câmara, peça que actualmente pertencente ao Museu do Patriarcado.
Numa das duas filas laterais de cadeiras, com cinco lugares cada, sentaram-se o mais idoso cineasta em actividade no mundo, Manoel de Oliveira, o director do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, Pe. Tolentino Mendonça, a maestrina Joana Carneiro, o presidente do Centro Nacional de Cultura e presidente do Tribunal de Contas, Guilherme de Oliveira Martins, e a escultora Graça Costa Cabral.
Na outra, tomaram lugar o presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas e reitor da Universidade Nova, António Rendas, o subdirector da Cinemateca, escritor e crítico literário Pedro Mexia, o neurocirurgião, escritor e membro do Conselho de Estado João Lobo Antunes, a actriz Glória de Matos e o presidente da Fundação Calouste Gulbenkian, Rui Vilar.
O programa da sessão incluiu uma saudação de D. Manuel Clemente, durante a qual o prelado ofereceu ao Papa uma obra de ourivesaria criada por Siza Vieira: um ovo, em prata e «biscuit», que se abre para mostrar uma pomba, símbolo do Espírito. Desta obra, produzida pelo ourives Manuel Alcino, do Porto, foram feitos três exemplares: um para o Papa, outro para o Museu do Patriarcado e um terceiro para a colecção particular de Siza Vieira.
Seguiu-se a intervenção de Manoel de Oliveira, e depois o discurso de Bento XVI. O cineasta português referiu que as Artes sempre estiveram “estreitamente ligadas” às religiões e que o cristianismo particularmente, foi “pródigo em expressões artísticas depois da passagem de Cristo pela terra e até aos dias de hoje”.
“Considerando, porém, a religião e a arte, ambas se me afiguram, ainda que de um modo distinto é certo, intimamente voltadas para o homem e o universo, para a condição humana e a natureza Divina”, sublinhou Manoel de Oliveira, sem deixar de frisar as “dúvidas e descrenças” que o pensamento racional sempre levantou em relação à fé.
“Acossados pelas especulações da razão, sempre se levantam terríveis dúvidas e descrenças, a que se procura opor a fé do Evangelho que remove montanhas. E os seres humanos caminham na esperança, apesar de todos os negativismos. Como diz o padre António Vieira: «Terrível palavra é o non, por qualquer lado que o tomeis é sempre non…», terminando por lembrar que o «non» tira a esperança que é a última coisa que a natureza deixou ao homem”, destacou.
No seu discurso, Bento XVI elogiou a “alma portuguesa”, e afirmou que o país tem uma “forte tradição cultural”. O Papa mostrou a sua admiração pelo “sentido da vida e da história, de que fazia parte um universo ético e um «ideal» a cumprir por Portugal, que sempre procurou relacionar-se com o resto do mundo”.
“Esta é uma hora que reclama o melhor das nossas forças, audácia profética, capacidade renovada de «novos mundos ao mundo ir mostrando», como diria o vosso Poeta nacional”, afirmou, citando uma passagem de «Os Lusíadas», de Luís de Camões.
Bento XVI quebra o protocolo para saudar crianças
À saída do Centro Cultural de Belém, Bento XVI quebrou o protocolo e as regras de segurança quando abandoou a viatura blindada para ir cumprimentar algumas crianças. O gesto inesperado provocou não só o espanto das crianças mas como o sobressalto dos elementos da segurança da visita.
Segundo o Coordenador-geral da Visita, D. Carlos Azevedo, o episódio aconteceu depois do encontro com o mundo da cultura, numa altura em que a viatura blindada em que o Papa seguia se imobilizou momentaneamente ao deixar o edifício.
“Bento XVI saiu do carro e dirigiu-se para algumas crianças que estavam ali. Foi o delírio. Toda a gente começou a correr para o Papa e a segurança foi apanhada de surpresa”, acrescentou D. Carlos Azevedo.