A velha “máxima” atribuída a Abel Pereira da Fonseca de que “até de uvas se fazia vinho”, se é que alguma vez teve razão de ser, perdeu hoje qualquer significado. Só se fazem e vendem bons vinhos de excelentes castas que têm de ser cultivadas com rigor e profissionalismo. Tem sido este o grande trabalho de Carlos João Pereira da Fonseca que ao longo dos anos tem transformado as velhas quintas do Bombarral numa grande e respeitada casa onde imperam vinhos excelentes que constantemente nos surpreendem.
Nos últimos anos,a empresa tem sido sujeita a um processo de modernização continuado. Neste sentido, as vinhas têm vindo a ser reconstituídas, com base nas castas tradicionais, mas introduzindo igualmente novas castas para responder às exigências do mercado. As instalações de vinificação e engarrafamento têm sido objecto de grandes investimentos, nomeadamente a nível tecnológico e de equipamento.
A modernização da adega foi conseguida com a introdução de mais cubas em inox, novos sistemas de frio para controlo de temperatura de fermentação e estabilização dos vinhos, novos sistemas de filtração e de engarrafamento. Continua-se no entanto, a recorrer ao tradicional estágio em madeira, nomeadamente em barricas de carvalho francês e americano. A empresa decidiu igualmente investir na área do turismo e serviços, de forma a aproveitar as enormes potencialidades de todos os seus espaços. Assim, recuperou adegas, lagares e destilaria para a realização de eventos (quer de empresas quer de particulares) e também para fins turísticos.
É hoje uma empresa dinâmica e em crescimento.
Existe sempre a tradição, embora hoje em dia a empresa seja muito diferente e tenha uma dimensão muito mais pequena. Trata-se de uma empresa familiar que explora três quintas (Quinta do Sanguinhal, Quinta da Cerejeira e Quinta de S. Francisco) que exporta para quinze países cerca de 20 por cento da sua facturação. De resto trabalhamos fundamentalmente com o mercado nacional e bastante ligados aqui à grande região de Lisboa.
Quais são os principais mercados da exportação?
Exportamos para cerca de 15 países estando à cabeça a Alemanha, os Estados Unidos e Angola. Mais recentemente a Suíça. No entanto considero a exportação fundamental para qualquer empresa e para a Companhia do Sanguinhal não é excepção pelo que o nosso grande objectivo é atingir um patamar de exportação de 45 por cento da nossa facturação. Isto também porque o mercado nacional está cada vez mais difícil, cada vez maior dificuldade em obter liquidez que permita o pagamento atempado das obrigações das empresas, o que por vezes cria muitas dificuldades.
E quais são neste momento os mercados mais desejados para crescer?
Neste momento estamos focados no Canadá, um mercado onde já estivemos mas onde iremos voltar muito em breve depois de um acordo conseguido com um distribuidor muito bem posicionado em duas das maiores províncias do país, – Ontário e Quebeque. Estamos também a crescer na Polónia e na Suíça que eram mercados onde nunca tínhamos estado e também com boas perspectivas para os mercados asiáticos.
Qual é a vossa produção actualmente em termos de engarrafados?
A empresa acabou totalmente com as vendas a granel e neste momento fazemos de 700.000 garrafas.
Sei que a vossa internacionalização passa muito por uma presença regular no SISAB. Como pensa que aquele evento contribui para essa estratégia de alargamento de vendas no exterior?
Como certamente deve saber nós participamos no SISAB já há imensos anos e sinceramente desde sempre apostei naquela organização que tem imenso valor não só no tradicional, mas sempre importante “mercado da saudade”, mas também nos mercados onde há importadores portugueses, e nos últimos anos também por causa dos imensos importadores estrangeiros e que vêem a Portugal comprar e conhecer produtos portugueses. Por tudo isto acho que o SISAB tem condições para vir a crescer ainda bastante mais em expositores, espaço de exposição etc…
Mas concretamente no caso da Quinta do Sanguinhal a participação no SISAB teve resultados concretos?
Claro, posso até dizer-lhe que este contacto para o Canadá, apesar de já andar a ser trabalhado há algum tempo, foi conseguido e acertado no SISAB, é sem dúvida um exemplo recente da importância deste evento para as empresas exportadoras.
Concorda que a região dos vinhos da Estremadura passa designar-se por vinhos da Região de Lisboa?
Como em tudo na vida todas as mudanças têm prós e contras. Neste caso devo dizer que os prós são francamente mais do que os contras, por isso apoiei a ideia desde a primeira hora. Diga-se em abono da verdade que esta região nunca teve grande identidade, pois embora a Estremadura seja uma província bem definida geograficamente, esteve sempre á sombra de Lisboa que era e continua a ser o grande pólo aglutinador da região, por isso nunca a «Região Estremadura» teve uma identidade própria como têm o Alentejo, o Ribatejo etc… Por outro lado esta também é um a região diferente porque nos últimos anos sofreu grandes transformações desde o encepamento com a introdução de novas castas, até às novas tecnologias com a modernização das adegas e dos métodos de vinificação. Na realidade esta é uma região NOVA, com novos produtores, com novas técnicas e com novos produtos e que sobretudo tem uma relação qualidade-preço imbatível, por isso exporta actualmente 50 por cento de tudo o que certifica o que é extraordinário. Não podemos esquecer que no estrangeiro nós não concorremos apenas com bons vinhos portugueses, os nossos grandes concorrentes são vinhos do mundo inteiro, muitos deles transaccionados em dólares o que para nós que transaccionamos em euros é logo uma desvantagem à partida.
No caso da Quinta do Sanguinhal quais foram as grandes alterações introduzidas que contribuíram para este reposicionar de atitude perante o mercado?
Em primeiro lugar o encepamento através da mudança das castas já que nós tínhamos mais tintos do que brancos depois em matéria de castas tradicionais apenas mantivemos o castelão, introduzimos a Touriga Nacional a Touriga Franca, o Aragonez, as castas francesas nomeadmente o Cabernet Sauvignon e o Syrah que se dão lindamente aqui. No cômputo geral fizeram-se grandes que levaram inclusivamente a que hoje em dia se venda toda a nossa produção engarrafada contrariamente ao que acontecia há alguns anos atrás.
Sei que a Quinta do Sanguinhal tem também uma área de Enoturismo. É bastante importante para a área dos vinhos?
É fundamental até para o mercado externo. Nós recebemos aqui imensos visitantes que ao vir aqui ficam a conhecer os produtos e a região. Mas não é fácil e é necessário algum investimento. O Enoturismo actualmente acarreta às empresas algum investimento indispensável, é necessário ter alguém que fale línguas, é necessário estar aberto aos Sábados e Domingos, o que se pode tornar muito complicado para empresas pequenas. No nosso caso como estamos muito perto de um grande centro emissor de turistas que é Lisboa, como temos bons acessos e estamos perto de outras infra-estruturas de turismo, nomeadamente golfe, tem sido provavelmente mais fácil.
Os vinhos leves que são um dos produtos originais da região são um produto para levar a sério?
Eu penso sinceramente que sim, até porque neste momento os “leves” representam na região cerca de 4 milhões de garrafas. Penso que pode ser um dos grandes produtos a virem a ser uma mais valia para esta região que tem condições naturais para produzir este tipo de vinhos.
Concorda que os vinhos portugueses têm marcas a mais?
Nós vivemos num mercado livre, tanto na produção como na comercialização, por isso nunca podemos dizer que há marcas a mais, o próprio mercado é que decide as que sobrevivem e as que morrem, agora outro problema diferente é as marcas não terem volume para poder atingir determinados mercados, mas é um problema que não é de fácil resolução, porque como disse o mercado funciona com as suas regras próprias.
VINHOS PREMIADOS
EM PORTUGAL
A Companhia Agrícola do Sanguinhal, viu 4 dos seus vinhos distinguidos em prestigiados concursos, “Concours Les Citadelles du vin”, Bordéus 2009 “13th Berlin Wine Trophy”, Berlim, “Concours Mondial de Bruxelles”, Bruxelas, “Challange du Vin”, Bourg, “International Wine & Spirit Competition”, Londres, “DecanterWorld Wine Awards”, Londres e “Wine Masters Challenge”, Estoril.
NO ESTRANGEIRO
O vinho Sanguinhal Syrah/Touriga Nacional 2004, da Companhia Agrícola do Sanguinhal, obteve a medalha de ouro no “Concours Mondial de Bruxelles” e medalha de bronze no “DecanterWorld Wine Awards”, Londres 2009. Produzido com as castas Syrah e Touriga Nacional, este vinho tem um estágio de 12 meses em barricas de carvalho francês. O vinho Península Estremadura 2005 Tinto obteve a medalha de ouro no “13th Berlin Wine Trophy” 2009. Produzido com as castas Castelão e Aragonez, este vinho tem um estágio de 5 meses em barricas de carvalho americano e francês.
O vinho Quinta das Cerejeiras Reserva 2003, obteve um prémio prestígio no “Concours Les Citadelles du Vin”, Bordeaux, duas medalhas de bronze, uma no “International Wine & Spirit Competition” e outra no “Decanter World Wine Awards”, Londres, 2009. Produzido com as castas Castelão, Touriga Nacional e Aragonez, este vinho estagia 24 meses em tonéis de carvalho.
O vinho Sanguinhal Cabernet/Aragonez 2004, da Companhia Agrícola do Sanguinhal, obteve a medalha de bronze no “Challange du Vin”, Bourg 2009. Produzido com as castas Syrah e Touriga Nacional, este vinho tem um estágio de 12 meses em barricas de carvalho francês.
Recorde-se que já no ano de 2008 os vinhos da Companhia Agrícola do Sanguinhal receberam 2 medalhas de ouro, 10 de prata, 2 de bronze e 3 menções honrosas.
SISAB
Sei que a vossa internacionalização passa muito por uma presença regular no SISAB. Como pensa que aquele evento contribui para essa estratégia de alargamento de vendas no exterior?
Como certamente deve saber nós participamos no SISAB já há imensos anos e sinceramente desde sempre apostei naquela organização que tem imenso valor não só no tradicional, mas sempre importante “mercado da saudade”, mas também nos mercados onde há importadores portugueses, e nos últimos anos também por causa dos imensos importadores estrangeiros e que vêem a Portugal comprar e conhecer produtos portugueses. Por tudo isto acho que o SISAB tem condições para vir a crescer ainda bastante mais em expositores, espaço de exposição etc…
José Manuel Duarte
jduarte@mundoportugues.org