O interesse dos estudantes tunisinos pela língua português tem vindo a aumentar. A provar, está o “número crescente” de alunos inscritos desde o início da introdução do idioma, no ano lectivo de 2007/2008, revelou Adriana Gesteiro, leitora do Instituto Camões na Universidade 7 de Novembro, da Tunísia.
A nível linguístico os tunisinos têm, tal como os portugueses, uma notável maleabilidade fonética, uma faceta posta precisamente por alguns ao serviço da aprendizagem da Língua Portuguesa. As motivações para aprender o idioma, no entanto, são uma outra questão. Oscilam entre a pura «curiosidade» e razões de ordem profissional, explica Adriana Gesteiro, no site do Instituto Camões (IC).
A leitora revela que a “curiosidade” dos estudantes de língua portuguesa “tem aumentado”, sendo “proporcional ao número crescente de alunos inscritos desde o início da introdução do idioma”, no ano lectivo de 2007/2008.
Mediterrâneo é
“aliado comum”
“O grande aliado comum é o Mediterrâneo, já desde o tempo dos romanos. Temos um clima parecido, uma paisagem parecida, uma dieta alimentar muito parecida. Somos ainda culturas povoadas pela mestiçagem. Tendo feito percursos muito diferentes, somos ambos o resultado de uma grande miscigenação de povos. A Tunísia recebeu os fenícios, os romanos, os árabes, os otomanos, os franceses, tem população branca e negra, tem comunidades muçulmanas, judias e cristãs”, acrescenta Filipa Fava, que desempenha funções de conselheira cultural na Embaixada de Portugal em Tunes.
“No Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), as motivações são de teor profissional. Os (funcionários) internacionais que se inscrevem na disciplina fazem-no como meio de facilitar projectos de cooperação desenvolvidos em países de língua oficial portuguesa. Existem, também, profissionais que se inscrevem com o intuito de subirem na carreira, mediante acções de formação contínua”, adianta ainda Adriana Gesteiro, que reparte com Filipa Fava a docência da Língua Portuguesa naquela instituição financeira pan-africana, leccionando três turmas de níveis iniciação, elementar e intermédio/avançado.
Já na Universidade 7 de Novembro, onde a Língua Portuguesa tem um estatuto opcional e integra os departamentos de Espanhol e Alemão, “os alunos inscrevem-se no Português sobretudo pelo factor curiosidade”, já que a língua portuguesa é recente nesta escola, acrescenta a leitora. Outro tipo de motivações são dificultadas pelo facto de as saídas profissionais serem reduzidas, “ou pelo menos sentidas como tal”, explica a leitora da Universidade 7 de Novembro. Entretanto, a leitora refere que a permanência de empresas portuguesas em território tunisino – como a Cimpor, a Efacec e a Secil – “asseguram alguns postos de trabalho a recém-licenciados, nomeadamente a estudantes tunisinos que, após terem feito o Português como disciplina opcional, frequentaram um ano de estudos em Portugal com bolsas do Instituto Camões”.
Filipa Fava sublinha que estes estudantes “acabaram por se apaixonar intensamente pela língua e pela cultura portuguesas” o que os leva a frequentar cursos de língua em Portugal, patrocinados pelas bolsas do IC. “Continuam depois a usar a língua com os ex-colegas do curso e expressam-se em Português nas páginas de redes sociais como o Facebook”, acrescenta. “A possibilidade de ir a Portugal e viver a língua e cultura em directo, em contexto de imersão, tem assim uma importância crucial no estabelecimento de relações entre o nosso país e a população da Tunísia, em particular os possíveis interessados em aprender Português”, refere ainda.
A criação de bolsas para estudos superiores foi um dos aspectos contemplados nos documentos assinados entre Portugal e a Tunísia na reunião de alto nível realizada a 22 e 23 de Março. Foram rubricados um Protocolo de Cooperação nos domínios do Ensino Superior, da Investigação Científica e da Tecnologia, bem como um Programa Executivo de Cooperação nas áreas da língua, da educação, da ciência, do ensino superior, da cultura, da juventude, do desporto e dos media, assinado do lado português pela Presidente do Instituto Camões, Ana Paula Laborinho, e ainda um Protocolo de Cooperação no domínio dos Arquivos Nacionais.
Vai assim ser possível criar bolsas para estudos superiores, parcerias entre estabelecimentos de ensino superior e empresas em matéria de investigação científica e de inovação tecnológica, bem como promover o intercâmbio de professores, cientistas, investigadores e técnicos, realizar projectos conjuntos de investigação e desenvolvimento, trocar informações e documentação científica, proceder ao reconhecimento e equivalência de diplomas ou realizar manifestações científicas como conferências, seminários e oficinas de trabalho, adianta Filipa Fava.