25 de Abril: Que não se esqueçam os que tudo arriscaram para ganhar a liberdade

Data:

RECORDAR O 25 DE ABRIL 36 ANOS DEPOIS

Que não se esqueçam os que tudo arriscaram para ganhar a liberdade

Otelo Saraiva de Carvalho por volta das 22 horas do dia 24/4/1974 fardado com blusão de cabedal chega ao Regimento de Engenharia Nº1, na Pontinha. É ali que o major acompanhado de outros oficiais: Os tenentes-coronéis Garcia dos Santos e Lopes Pires, o comandante Victor Crespo, os majores Sanches Osório e José Maria Azevedo, o capitão Luís de Macedo instalam o posto de comando num pequeno anexo com as janelas tapadas por alguns cobertores, sobre a mesa uns papéis manuscritos e um mapa de estradas do Automóvel Clube de Portugal edição de 1973 que fazia de carta operacional com os esboços das movimentações, sendo a base do “plano geral das operações” que se dividia em duas zonas; Zona Norte que começava no eixo a sul do Porto e Lamego para norte. Zona Sul desse eixo para sul, dividido em quatro sectores; Sector Norte, até a sul de Coimbra, Sector Centro até norte de Santarém, Sector Sul daí para sul, Sector Lisboa que também incluía Santarém. Dali do Posto de Comando com o nome de código «Óscar» dão o conhecimento da situação e as instruções às unidades militares de todo o país envolvidas nas operações.
 O primeiro sinal como combinado seria dado pelo então posto “Emissores Associados de Lisboa” às 22:55. João Paulo Dinis era lá locutor e fizera a tropa em Bissau sob as ordens de Otelo, daí a sua. Cabe a Dinis às 22:55 dar voz e escolher a canção «E Depois do Adeus», de Paulo de Carvalho, canção vencedora desse ano do Festival da Canção RTP e que iria a alguns dias representar Portugal no Festival da Eurovisão. A segunda senha é dada na “Rádio Renascença”. Otelo fazia ponto de honra que fosse uma canção do Zeca Afonso e estava indeciso entre «Venham Mais Cinco» e «Trás Outro Amigo Também» eram as suas preferidas mas logo os seus camaradas fizeram notar que seriam canções muito obvias e que iriam suscitar desconfiança.
Foi assim que o jornalista Carlos Albino sugeriu «Grândola Vila Morena» e é esta que acaba por ir para o ar no programa «Limite» de Paulo Coelho e Leite de Vasconcelos que antes de pôr o disco recita a primeira quadra de «Grândola Vila Morena». São 0:20 e grande parte das forças envolvidas põe-se em movimento. O Quartel-General da Região Militar de Lisboa é o centro nevrálgico das “Forças do Regime”. O edifício é tomado pelo Batalhão de Caçadores 5 com o código «Canadá». A mesma unidade também se encarrega de proteger a residência do general António de Spínola, o general Francisco Costa Gomes não foi alvo de protecção porque não dormiu em casa. Importante é também o aeroporto da Portela, operação com o código «Nova Iorque» que fica encarregue à Escola Prática de Infantaria (EPI) de Mafra que às portas de Lisboa a coluna militar perde-se nas ruas e becos escuros de Camarate. Junto ao aeroporto o capitão Costa Martins esperava a coluna da EPI e desesperava e decide neutralizar sozinho de pistola em punho a guarda do aeroporto e entrou mesmo na torre de controle fazendo «bluff» durante mais duma hora dizendo que o aeroporto estava cercado e para se interditar o espaço aéreo português imediatamente. A EPI chegada toma de imediato conta do aeroporto e ainda neutraliza o Regimento de Artilharia Ligeira 1 em Lisboa junto ao aeroporto. A Escola Prática de Transmissões fazia as escutas telefónicas militares das forças do regime que depois transmitia ao Posto de Comando. O Regimento de Cavalaria 3 de Estremoz vem a Lisboa com a missão de controlar a Ponte Sobre o Tejo, tomando posições do lado sul do Tejo (Pragal). Enquanto nas colinas adjacentes à ponte de ambos os lados a Escola Prática de Artilharia de Vendas Novas toma posições apontando baterias junto ao Cristo Rei, para o Terreiro do Paço e Monsanto.
 A mesma unidade depois vai lá baixo à Trafaria libertar os militares que tentaram a 16 de Março o “golpe das Caldas da Rainha” e que se encontravam presos na Casa de Reclusão da Trafaria. Os órgãos de comunicação social também eram de crucial importância controla-los. Para isso coube à RTP (única emissora televisiva da época) ser tomada pela então, Escola Prática de Administração Militar, (operação; código Mónaco) já que se situava na mesma rua, (Alameda das Linhas de Torres em Lisboa).
A antiga Emissora Nacional, actual RDP na rua do Quelhas foi tomada com meios limitados pelos capitães Oliveira Pimentel e Frederico de Morais mais 40 praças de especialidades diversas do Campo de Tiro da Serra da Carregueira. Na rua Sampaio Pina à porta do Rádio Clube Português estão estacionados homens do BC5 dali perto (Campolide) chefiados pelo capitão Santos Coelho e pelo Major Costa Neves da Força Aérea o qual no momento da tomada do RCP é questionado pelo porteiro; se não podiam aparecer após as 9 horas da manhã, que sempre já lá estaria mais gente para os receber!!! Costa Neves e seus camaradas forçam a entrada e é esse o posto escolhido para emissor do MFA. Como previram que as forças do regime pudessem cortar as ligações às antenas do RCP do Porto Alto, tal como vieram a tentar, então a guarda das antenas ficaram a cargo da Escola Prática de Engenharia, de Tancos que também controlou a ponte de Vila Franca de Xira e a casa da moeda em Lisboa. Então através do RCP o MFA apresenta-se ao país pela 1ª vez às 4:26 (estava previsto ser às 4 horas mas o engano de percurso da EPI em Camarate atrasou o comunicado) a voz é do jornalista Joaquim Furtado: «Aqui posto de comando do Movimento das Forças Armadas…». A programação é alterada e passa o hino nacional, marchas militares e canções de protesto e de contestação.
Sucedem-se os comunicados escritos por Victor Alves e Lopes Pires no quartel da Pontinha, que eram lidos aos microfones do RCP. Mediante esta situação os ouvintes ficam a par do desenrolar dos acontecimentos. Mas a missão principal cabe ao capitão Salgueiro Maia e seus homens da Escola Prática de Cavalaria, vindos de Santarém ficam-lhes encarregues várias acções desde de “despiste” ou seja; chamar a atenção das forças fiéis ao regime através dum itinerário ostentatório no sentido de dispersar as capacidades inimigas. E ainda de controlar o Banco de Portugal, a Rádio Marconi e o Terreiro do Paço. Ali, o ministro do Exército, general Andrade e Silva perante a situação manda abrir à picareta um buraco na parede do gabinete por onde foge mais os ministros da Marinha, da Defesa e do Interior acompanhados de militares de altas patentes.
Antes do golpe a Marinha e a Força Aérea haviam sido contactadas para aderirem mas garantiram a neutralidade. No entanto o capitão-de-fragata Seixas Louçã que comandava a fragata «Almirante Gago Coutinho» integrada na NATO e com grande poder de fogo, resolve, ameaçar disparar sobre o Terreiro do Paço. Ao que é posta ao corrente das baterias de artilharia, já prontas a disparar, posicionadas nas colinas junto ao Cristo Rei. A tripulação ao saber rebela-se e ao fim da manhã a fragata retira-se e vai fundear no Alfeite. Momento importante, quando a coluna EPC é interceptada na Avenida Ribeira das Naus por tropas fieis ao regime comandadas pelos brigadeiro Junqueira dos Reis e o tenente-coronel Ferrand d’Almeida, com tanques Patton M47.
É o próprio Salgueiro Maia que vai tentar dialogar, saindo a pé e de lenço branco na mão hasteado e uma granada escondida na outra, ao que o brigadeiro dá ordens para disparar sobre o capitão mas que ninguém obedece! E depois mesmo alguns tanques de Cavalaria 7 passam-se para o lado de Salgueiro Maia. Outro momento muito importante dá-se às 5 horas quando o Major Silva Pais director-geral da PIDE/DGS dá conhecimento ao presidente do Conselho (função que equivale actualmente à de primeiro-ministro), Marcello Caetano dos acontecimentos que este ainda desconhecia. Referindo que a situação era grave e dando instruções para se refugiar o mais depressa possível no Comando-Geral da GNR no Largo do Carmo porque era um dos sítios que não se encontrava sitiado e que passava mais despercebido. Mas que veio a revelar-se uma grande armadilha! Primeiro porque soube-se da sua entrada no Quartel do Carmo às 6 horas, ao que o major Otelo deu ordens para Salgueiro Maia se dirigir para o Largo do Carmo e sitiar completamente o quartel para que não houvesse fugas pelas traseiras. Na ida da coluna de Salgueiro Maia para o Largo do Carmo, uma companhia do Regimento de Infantaria 1 comandada pelo capitão Fernandes tenta bloquear a passagem mas após curto diálogo, passam-se para o lado dos revoltosos. Mais tarde tentaram convencer Otelo que Caetano não se encontrava lá mas Otelo sabia que era para as forças do regime ganharem tempo. E segundo porque quando as individualidades mais importantes ligadas ao regime foram socorridas pelo ar, por um helicópetero como no caso do Regimento de Lanceiros 2, esse mesmo helicópetero tentou ajudar a fuga de Marcello Caetano, só que não havia sítio para o helicópetero aterrar e por isso Marcello Caetano receoso permaneceu encurralado no Quartel do Carmo com blindados apontados e ouvindo uma multidão crescente que tinha acordado dum sono profundo ou que tinha aprendido ou descoberto nesse dia que existiam outras coisas como democracia e liberdade.

Salgueiro Maia mais tarde terá mesmo pedido calma ao povo de megafone em punho. Mesmo que o regime não caísse as coisas já não seriam mais como antes, o povo nesse dia tinha ouvido coisas novas e ficou a saber em que tipo de regime e que tipo de politicos governavam o país por isso aderiram de imediato ao Movimento das Forças Armadas! O tempo passava e a GNR não reagia numa tentativa de ganhar tempo. Maia dá um ultimato à GNR mas nada! No Posto de Comando desesperavam e Otelo envia um bilhete escrito a Maia: «Com metralhadoras rebenta com as fechaduras do portão, que é para saberem que é a sério!» Ás 15:10 são dados 10 minutos. (Temia-se que um helicópetero afecto às Forças do Regime podesse largar uma bomba sobre as forças revoltosas no Largo do Carmo). Após o prazo esgotado, às 15:25 as metralhadoras duma viatura chaimite disparam contra a frontaria do quartel. Como não houvera reacção da parte do quartel, passado algum tempo um blindado toma posição de canhão apontado e é nesse momento que surgem dois civis: Pedro Feytor Pinto e Nuno Távora, quadros da Secretaria de Estado da Informação e Turismo, medianeiros entre Spínola e Caetano, este último melindrado com a situação dizia: «Não quero que o poder cai na rua». Feytor Pinto telefona a Otelo que em nome do MFA, mandata o general Spínola para receber a rendição de Caetano. Às 18 horas, chega Spínola de automóvel com farda Nº 1. Caetano submete-se e entrega a Spínola o poder e pede protecção. Spínola transmite a Caetano a intenção do MFA de o enviar para o Funchal. Iria partir para o Funchal no dia seguinte pelas 7horas, a ele juntaram-lhe também entre outros o Presidente da Republica Almirante Américo Tomás que durante a longa noite da revolução não deu sinal de vida, como se não fosse nada com ele, passou o dia na sua casa no Restelo, saindo sobre escolta para o aeroporto). E assim às 19:30 sai do quartel o chaimite «Bula», no interior vão Marcello Caetano e António Spínola em direcção à Pontinha, por entre uma multidão eufórica que celebra a “Liberdade” com cravos vermelhos. Às 19:50 é emitido o comunicado: «O Posto de Comando do MFA informa que se concretizou a queda do Governo, tendo Sua Excelência o Professor Marcello Caetano apresentado a sua rendição incondicional a sua Excelência o General António de Spínola». Logo após as 20 horas é lida no RCP a «Proclamação do Movimento das Forças Armadas».
à 1:30 já do dia 26/4/74 aparecem na televisão as novas caras do poder: A Junta de Salvação Nacional, como presidente, António de Spínola, em que lê uma proclamação ao país onde anuncia o novo regime democrático.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Share post:

Popular

Nóticias Relacionads
RELACIONADAS

Compal lança nova gama Vital Bom Dia!

Disponível em três sabores: Frutos Vermelhos Aveia e Canela, Frutos Tropicais Chia e Alfarroba e Frutos Amarelos Chia e Curcuma estão disponíveis nos formatos Tetra Pak 1L, Tetra Pak 0,33L e ainda no formato garrafa de vidro 0,20L.

Super Bock lança edição limitada que celebra as relações de amizade mais autênticas

São dez rótulos numa edição limitada da Super Bock no âmbito da campanha “Para amigos amigos, uma cerveja cerveja”

Exportações de vinhos para Angola crescem 20% desde o início do ano

As exportações de vinho para Angola cresceram 20% entre janeiro e abril deste ano, revelou o presidente da ViniPortugal, mostrando-se otimista quanto à recuperação neste mercado, face à melhoria da economia.

Área de arroz recua 5% e produção de batata, cereais, cereja e pêssego cai 10% a 15%

A área de arroz deverá diminuir 5% este ano face ao anterior, enquanto a área de batata e a produtividade dos cereais de outono-inverno, da cereja e do pêssego deverão recuar 10% a 15%, informou o INE.