Os ourives feirantes que existem em Portugal temem estar em “vias de extinção” devido à insegurança e aos riscos de assaltos a que se soma a ausência de seguros garantem que, se pudessem, abandonavam a profissão.
O casal recentemente assaltado não foi nas semanas seguintes, como é habitual, à feira dos Carvalhos, em Gaia, que conta normalmente com sete comerciantes de ouro.
Os colegas de profissão, visivelmente consternados e preocupados com a insegurança da actividade, consideram que os ourives feirantes estão em “vias de extinção” e vão desaparecer “mais cedo ou mais tarde”.
Carolina Oliveira e o marido estão na profissão há mais de quatro décadas e têm já na sua história um assalto que aconteceu há cerca de 13 anos, quando lhes roubaram duas malas com ouro no momento em que saíam de casa.
Para o casal, uma protecção no percurso ou a contratação de uma empresa de transporte de valores poderiam ser soluções para fazerem face à insegurança existente.
Há 35 anos comerciante de ouro, Zulmira Santos, actualmente com 70 ano, começou com o marido o comércio nas feiras, uma profissão que os filhos também seguiram.
Apesar de nunca ter sido assaltada, com a excepção dos pequenos furtos nas próprias feiras, Zulmira Santos diz estar “arrependida” da profissão que escolheu, uma “vida de sobressalto” como classifica.
Com 30 anos de ligação ao ramo, desde os 12 anos de idade, Carlos Vieira é perenptório ao afirmar que os ourives feirantes “têm os dias contados”.
Diz nem pensar nos assaltos. A preocupação é o “futuro incerto” do sector devido à perda de compradores nas feiras e da crise que assolou o país. Já a feirante Alzira Costa prefere evitar os mesmos caminhos para confundir eventuais assaltantes, procurando levar cada vez menos quantidades de ouro para as feiras.
Acordo com empresas de segurança
A Associação dos Feirantes do Distrito do Porto reuniu-se com uma empresa privada de transporte de valores para discutir soluções que minimizem a insegurança dos ourives.
Em declarações à Lusa, o presidente da associação, Joaquim Santos, explicou que os momentos de maior insegurança para os comerciantes de ouro em feiras são as viagens entre casa e os pontos de venda. Procurando encontrar soluções alternativas para o problema, a associação, que tem mais de duas dezenas de ourives feirantes como sócios, reúne-se com uma empresa privada de transportes de valores para tentar estabelecer um protocolo para transportar a mercadoria. O presidente explica que a associação admite encontrar-se com outras empresas privadas que façam este serviço e considera que este pode ser um bom ponto de partida para transformar a profissão numa actividade menos perigosa. “A insegurança dos ourives feirantes é uma grande preocupação para nós, neste momento até de primeira linha”, disse Joaquim Santos, que promete “fazer mais, de uma forma constitutiva para que estes comerciantes sintam o seu dia a dia mais seguro”.
Consciente de que a “profissão corre um sério risco”, o dirigente associativo afirma que tem assistido a uma “redução do número de ourives nas feiras”. “Não posso deixar de referenciar a Governadora Civil do Porto e as forças policiais, desde a PSP, à GNR, à PJ, que têm feito um trabalho exemplar na protecção desta gente”, sublinhou.
Auto-intitula-se um “filho das feiras” e, ao ouvir a preocupação dos associados e do sector, considera que todos juntos ainda são poucos para fazer algo pela protecção dos ourives feirantes, que traga “mais estabilidade à sua actividade e à sua deslocação casa-feira e feira-casa”. “Eles na feira sentem-se, até hoje, seguros porque é um espaço em que há uma concentração de centenas de pessoas e isso torna difícil um furto violento”, garante, acrescentando que a maior preocupação é o transporte, matéria em que estão a trabalhar “no imediato” para conseguir estancar o fluxo de criminalidade.