32º DIA – Volta ao Mundo da SAGRES

Data:

32º DIA

O Naufráguio do Concórdia que tinha acompanhado a SAGRES no Recife

Ontem, após o almoço estava um vento imperdível e caçámos todo o pano menos a crista para ter uma margem de segurança na passagem dos aguaceiros. Os aguaceiros são uma preocupação constante quando se navega à vela pois o vento normalmente muda de direcção e pode duplicar a intensidade. Isto para além das bátegas de água que dificultam a acção do pessoal de manobra. Ora num veleiro, temos a tendência para tirar o melhor partido do vento. Caçamos o pano adequado à sua velocidade e, quando ele cresce, há que carregar pano para não afectar a estabilidade do navio nem causar grandes desconfortos com adornamentos exagerados.

Íamos a fazer 10 nós! Com algum desconforto porque o mar estava de 4 metros de través, mas muito melhor do que iríamos com o motor pois o balanço seria pior sem as velas a estabilizar, mais o ruído e o calor!

Às 20:55 caí uma mensagem de socorro via satélite no EGC! A Marinha do Brasil detectou o sinal automático da rádiobaliza do Concordia! Nada de mais pois estes instrumentos podem soltar-se com o mau tempo e serem activados inadvertidamente – é o que se passa em cerca de 90% dos casos. A posição reportada era a cerca de 100 milhas a Oeste de nós e dirigia-se uma aeronave para o local a fim de verificar a situação do navio.

Tínhamos estado com o Concordia em 2009, em Boston e Halifax. Até visitei o navio que pertence a uma escola canadiana que tem um programa alternativo para alunos do secundário e universidades. Permite fazer um semestre lectivo a bordo! Este ano voltámos a encontrar-nos no Recife mas, apesar de estarmos atracados a cerca de 100 metros um do outro, separavam-nos cerca de 5 km por estrada. É que estávamos em diferentes zonas de segurança do porto. Quando fui para os visitar, já estavam a largar e pensei que nos encontraríamos nos portos seguintes do festival.

À noite, apesar de estarmos a passar na zona menos turbulenta do vale depressionário, entrou a “Suestada” forte e o vento foi para o limite da nossa mareação/velas. Ainda me deitei mas não tirava o olho do anemómetro que tenho junto à cama. Pensava no Concórdia, do qual ainda não havia notícia, e que estava numa zona mais turbulenta. A minha preocupação prendia-se com o facto de o navio ter uma tripulação fixa de apenas 8 pessoas mais 56 alunos/professores. Fui para a ponte para acompanhar a evolução meteorológica, saber do navio, e apoiar o Oficial de Quarto na manobra. Chegámos aos 12,6 nós e a Flâmula Azul passou para o Ten Eusébio que esteve da meia-noite às quatro, sendo igualada pelo Engº Gaspar que esteve depois até às oito. 11,5 nós de média! Eu fiz a noite toda na minha, aparentemente, confortável cadeira. Tivemos alguns aguaceiros e uma ligeira avaria na arreigada da escota do joanete, que foi resolvido no convés pelo pessoal de quarto liderado pelo Mestre Graça, o contra-mestre do navio. Nada de mais. Quem navega em pequenas embarcações passa diariamente pelo mesmo.

Às 03:56 veio um ampliativo ao sinal de socorro solicitando aos navios na área a vigilância e assistência. Impossível para nós pois as ondas de 4 metros e o vento vinham daquela direcção mas há muitos navios nestas águas. Passou-se o dia com o mar e o vento a amainar e às 20:30 tivemos que lançar a máquina por já ir muito devagar. Vamos agora à vela e motor. Não resisti à curiosidade e preocupação e fui à internet fazer uma busca de notíciaspara e lá estava. Afundou-se ontem à noite 300 milhas a oeste do Rio de Janeiro, tendo os seus 64 tripulantes sido salvos por navios na área, depois de passarem a noite em jangadas salva-vidas. A água estava a 25º e o ar a 26!

Os meus parabéns à Marinha do Brasil que dirigiu com sucesso a acção de busca e salvamento. Os meus parabéns à tripulação permanente que, qualquer que tenha sido o erro ou azar a montante do naufrágio, conseguiu colocar a salvo a totalidade das pessoas a bordo, sem ferimentos! Ainda por cima era um novo grupo que tinha embarcado no Recife. Apesar de poder contar com um navio muito robusto e uma guarnição bem preparada, este é mais um episódio para a minha relativamente longa colecção de sonhos e pensamentos que me obriga a pensar sempre com a maior antecedência possível, não deixar para amanhã o que podemos fazer hoje e não dar margem ao erro!

Receita para o sucesso, mas a sorte é sempre muito bem-vinda! Até porque ela protege os audazes!

Até breve!

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