16º DIA – Depois de passar a mítica linha do equador

Data:

16º DIA

Já no Hemisfério Sul depois de passar a mítica linha do Equador

Passámos ontem o Equador às 22:23 horas! Pouco depois chegou o Rei Neptuno com a sua Corte – um Almirante, um Oficial Ajudante de Campo, um Bispo, uma Ninfa, um Diabo, a Guarda Real, etc.

Cumpriu-se a tradição: A barca que ousou atravessar as águas de Neptuno foi apresada por este e Julgados o Comandante, os Oficiais e os membros da Guarnição que o fizeram pela primeira vez. Nos últimos dias houve muitos segredinhos a bordo! O grupo dos que já passaram o Equador preparou o Grande Julgamento com muito cuidado. Esta tarde, procedeu-se ao julgamento com um Juiz, um Acusador e um Advogado de Defesa! Cada réu tinha a sua acusação e uma defesa que mais parecia um conjunto de agravantes. As penas foram todas físicas (banhos, farinha, etc.) e em géneros para o Grande Jantar comemorativo da passagem que se realizará amanhã.

Nos últimos dias terminámos os vernizes e os aguaceiros da ITCZ, a tal zona de instabilidade que resulta do choque entre os ventos alísios de NE e SE, eram um perigo para os trabalhos. A climatologia aconselha a atravessar a ITCZ na Longitude de Cabo Verde e as previsões meteorológicas confirmam-no. Assim, mantivemos rumo Sul e só apanhámos alguns aguaceiros fortes há três noites e na manhã seguinte. Desta forma também ganhámos barlavento e navegamos há 2 dias a todo o pano, já com os alísios de SE, inicialmente muito fracos mas que têm vindo a ganhar consistência. Começámos à bolina cerrada que aqui, devido ao pano redondo, é nos 55º. Mas o vento abriu e agora estamos a fazer 65º. E 8 nós de velocidade! O céu voltou a estar estrelado. Tem estado forrado de nuvens carregadas. Nem se via a Lua ou o Sol mas agora já dá para identificar estrelas.

Entretanto passaram-se duas semanas de viagem! Aqui a bordo passou muito rápido com o trabalho que temos tido! Na fase de planeamento pensámos que poderia ser muito duro sujeitar os novos elementos a um primeiro esticão de 3 semanas de mar. As atenuantes eram estar a navegar para Sul, com mar relativamente calmo e poder ganhar mais tempo em Lisboa para preparação da viagem e despedidas. Aposta ganha pois os enjoos dos estreantes passaram ao fim de dois dias, como era de esperar, e neste momento está toda a guarnição mais do que adaptada ao navio e ao mar. Os mais novos vão viver uma experiência interessante quando chegarmos ao Recife: vão ter a sensação de que a terra balança ligeiramente como um navio. É que, sem se dar por isso, todos nós andamos a bordo com as pernas ligeiramente flectidas para acomodar os movimentos do navio. Em terra há a tendência para fazer o mesmo e aí vai parecer que esta se move! Aproveitámos também o facto de navegar a motor para treinar mais efectivamente a manobra de Homem ao Mar com recolha por embarcação – os tempos, os procedimentos de segurança e a qualidade das manobras já me satisfazem. Podemos passar a uma fase de treino para manutenção do adestramento!

Agora é terminar o embelezamento do navio e passar a uma fase mais complexa do treino de Limitação de Avarias (LA) que incide nos incêndios, rombos, socorrismo e gestão da plataforma em caso de crise. O calor é muito! Cerca de 28ºC à sombra e com muita humidade! A água do mar está a 27ºC. Há duas semanas estava a 12! Tentamos manter as luzes apagadas e as portas fechadas para manter o fresco do ar condicionado mas não chega – dorme-se mal!

Não fosse estragarem os trabalhos nas madeiras e o perigo de rajadas fortes de vento, os aguaceiros até seriam muito bem-vindos. Há dois dias apanhámos um durante a baldeação e foi um enorme prazer para a juventude! Os aguaceiros são detectados pelo Radar e, se não forem demasiado grandes, ao ponto de constituírem uma barreira, podemos manobrar para os evitar! Esta capacidade de os seguir no Radar permite saber quantos minutos faltam para começar a chover. Faz-se um vistão perante os mais jovens ou alguns convidados. Damos a ideia de que controlamos a meteorologia! Uma noite destas, antes de me deitar, dei uma volta pelo exterior do navio para ver o pano e as afinações. Fui interpelado por um grupo de Marinheiros e Grumetes que conversavam em amena cavaqueira no corredor exterior a EB. O motivo era estas crónicas que também coloquei na Intranet do Navio juntamente com uma série de comentários que nos mostram que não é só na diáspora que este navio é um motivo de orgulho para os portugueses! Alguns comentaram que os familiares estão a acompanhar a viagem e dizem aos seus amigos, também com muito orgulho: “O meu Júlio também lá está!” A conversa depois passou pelos 15 dias já passados desde a largada. “Não custou nada! Estivemos sempre muito ocupados!” Disse-lhes que ainda quero fazer alguns treinos de vela para que os desfiles corram como no ano passado. Disseram-me que adoraram a viagem do ano passado pelas manobras de vela nos vários portos, incluindo à chegada a Lisboa. A regata também foi memorável pelo mau tempo que apanhámos e a forma como o navio se aguentou! Gostaram especialmente das manobras silenciosas em que só se ouvem os apitos do Mestre. Estamos alinhados na visão que temos da nossa barca.

Às tantas estávamos a falar de estrelas, de escuteiros e de festivais de música no Verão. Adorei o comentário às novas tendas “automáticas” que se montam em dois segundos mas que depois não se conseguem fechar e se deixam para trás por não caberem na bagagem! Ontem, o punho da escota de EB do Velacho Baixo apresentou uma rotura e teve que ser desenvergado para coser, voltando a ser envergado de novo. Aproveitei para subir ao mastro do Traquete e tirar umas fotos!

Amanhã é dia de treino de manobras de vela: carregar de tacada, içar tudo, virar em roda, virar por davante… E há ainda as pinturas!

Até para a semana!

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