Dezenas de professores portugueses colocados em Timor-Leste apelaram ao Governo para rever a estratégia do ensino da Língua Portuguesa e reclamam a realização de uma reunião geral.
Em causa está o Projecto de Consolidação da Língua Portuguesa (PCLP), a principal vertente da cooperação de Portugal com Timor-Leste, que consome anualmente cerca de seis milhões de euros e visa dar formação em português aos professores timorenses.
Quase metade dos professores portugueses que estão em Timor-Leste subscreveram um e-mail enviado ao secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, João Gomes Cravinho, afirmando que o PCLP tem de ser revisto urgentemente, depois de o terem exposto ao coordenador do Projecto, Filipe Silva, e ao presidente do Instituto de Apoio ao Desenvolvimento (IPAD), Manuel Correia.
Segundo o e-mail, a que a Lusa teve acesso, os professores pretendem que a forma como está a decorrer o Projecto de Consolidação da Língua Portuguesa seja discutida com todos os professores, em reunião geral. Os docentes alegam que a língua portuguesa é ensinadA aos professores timorenses como se fosse a crianças e que a formação não é dada por pessoas especializadas no ensino da Língua Portuguesa como língua não materna, mas por colegas escolhidos por critérios pouco claros, alguns deles de outras disciplinas que não Português. Os subscritores da queixa referem que, ao nível da coordenação do projecto, a criação de mais órgãos e funções instalou a confusão, sem que os professores saibam exactamente as tarefas e responsabilidades de cada um, sujeitos a instruções contraditórias e exigências burocráticas em vez de terem tempo para dar as aulas. Segundo afirmam, a consequência já é visível, com os timorenses a abandonarem a frequência das salas, outrora cheias, e os professores portugueses desmotivados.
Em declarações à Lusa, Filipe Silva, coordenador do Projecto, diz que é preciso dar tempo para que as mudanças introduzidas em 2008 surtam efeito e então corrigir, se necessário. “O IPAD fez um acordo com a Escola Superior de Educação do Porto, que forma professores em Portugal, e fez uma avaliação aos constrangimentos e necessidades do projecto. A seguir, desenhou um novo modelo de formação em conjunto com as autoridades timorenses e que está a ser implementado desde o início de 2009”, esclarece.
O responsável rebate a afirmação de que “ninguém se entende”, dizendo que “foi apresentado o organograma aos professores, com as competências, há uma coordenação geral, e há uma Escola Superior de Educação que dá todas as orientações pedagógicas e científicas”.
Quanto ao pedido da realização de uma reunião geral, Filipe Silva reconhece o desejo manifestado por “um grupo significativo de professores”, mas justifica que a coordenação optou por se deslocar aos distritos, para que não fossem interrompidas as actividades.
“Na maioria dos distritos, os professores ficaram esclarecidos e a excepção foi o caso dos professores do distrito de Díli, que recusaram, dizendo que o que querem é uma reunião geral”, afirma.
“Da parte da coordenação houve espírito de abertura e de diálogo para que todos os professores pudessem ser esclarecidos e continua de porta aberta para que isso possa acontecer, sem pôr em causa as actividades que decorrem”, garante.