A freguesia de Curral das Freiras, no concelho de Câmara de Lobos, está isolada desde a manhã de hoje devido ao mau tempo que está a atingir a ilha, disse o presidente do município local, Arlindo Gomes.
Em declarações à Agência Lusa, o autarca explicou que a grande preocupação das autoridades, neste momento, é saber a situação dos cerca de quatro mil habitantes de Curral das Freiras, freguesia situada no centro da ilha. “Não temos um ponto da situação do que se passará nesta freguesia porque está completamente isolada”, indicou Arlindo Gomes, explicando que, desde do início do dia, as autoridades estão a tentar o contacto que, para já, se revelou infrutífero.
“Há muitas casas e estradas completamente destruídas, mas, neste momento, não tenho informação de vítimas mortais” no concelho, disse o autarca, indicando os danos naquela zona são “essencialmente materiais”.
De acordo com o autarca, aquela freguesia situa-se “numa zona muito montanhosa e muito acidentada” da ilha, pelo que “existe algum receio que possam haver situações menos agradáveis”.
Arlindo Gomes adiantou ainda que “estão no terreno todos os meios disponíveis”, incluindo de empresas privadas que estão a colaborar com o município de Câmara de Lobos na desobstrução de alguns caminhos.
Várias estradas estão encerradas e a circulação faz-se com muita dificuldade, o que afeta também a missão das equipas de socorro. O Governo Regional da Madeira fez um apelo para que todos os funcionários dos parques de máquinas das secretarias do Equipamento Social e Recursos Naturais compareçam ao serviço.
Enxurrada em Eiras
A entreajuda é o apoio com que os habitantes de Eiras, Santa Cruz, contam para enfrentar a tempestade na Madeira e que causou a inundação de várias casas na povoação, submersão de automóveis e corte de estradas.
Segundo disse à Lusa uma testemunha ocular, várias famílias da povoação, que fica a cerca de 10 minutos do Funchal, tiveram de abandonar as suas habitações por volta das 10 horas, sob forte chuvada, e refugiar-se em casa de outras pessoas em zonas que não foram afectadas para fugir à enxurrada resultante do rebentamento de uma ribeira, “que levou tudo à frente”.
“Se tivesse sido de noite tínhamos morrido todos”, desabafou à agência Lusa uma das desalojadas, uma jovem do continente de férias em casa de familiares, na rua por onde passou a enxurrada, enchendo as casas de água e lama e submergindo os automóveis que estavam estacionados na rua.
Esta rua de Eiras, em declive, com moradias geminadas novas, transformou-se no leito da ribeira que corria a montante e que, devido às fortes chuvadas, transbordou, levando na corrente muita lama, troncos de árvore e lixo. Os pisos térreos das moradias da parte mais baixa da rua ficaram completamente inundados e as pessoas tiveram de fugir pelas varandas do primeiro andar, passando assim de umas casas para as outras.
Como os bombeiros não puderam responder à chamada, porque a estrada de acesso à povoação está cortada, os vizinhos tiveram de ajudar nesta operação os que tinham mais dificuldade pois entre os desalojados estão famílias com idosos, crianças e até bebés.
“O que valeu foi que se gerou uma onda de solidariedade entre vizinhos, uns vão fazer comida para trazer para os outros e emprestaram roupa para que possamos tirar a roupa molhada do corpo”, afirmou a jovem lembrando que no rés-do-chão da sua casa ficou tudo destruído, desde móveis a louças, até ao computador e ao telemóvel.
A força da enxurrada era da tal ordem que rebentou alguns muros, ninguém se feriu mas as pessoas lamentam os danos nas moradias e os automóveis que ficaram cobertos de água e lama.
Entretanto, alguém mobilizou uma retroescavadora de um particular que conseguiu desviar o curso da enxurrada para outra ribeira contígua às casas, que costuma ter um caudal muito pequeno, evitando que a cheia se agravasse.